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Dates - 1ª temporada | Crítica

Série do criador de Skins exercita a imprevisibilidade e surpreende com um trabalho sensível e delicado

12.08.2013, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 19H05

Em 2007, Bryan Elsley apresentava ao mundo uma série teen com uma perspectiva muito nova a respeito do universo adolescente contemporâneo. Como na própria dinâmica comportamental dos jovens, o tempo de um episódio de Skins era frugal, efêmero, e passeava pela vida de cada um dos personagens como se quisesse ser corriqueiro, natural. Cada um dos jovens era explorado de cada vez, com tramas se esbarrando no processo, mas sempre mantendo o exercício do distanciamento. Agora, em 2013, Elsley ressurge com a série Dates, que amadurece o estilo do showrunner, focando na imprevisibilidade do encontro.

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Cada episódio de Dates tem apenas 22 minutos de duração, um tempo que pode ser mínimo para um encontro bom, mas é uma verdadeira eternidade para quem não quer estar ali. Em cada um dos episódios, acompanhamos um casal que se conheceu pela internet e está presente - independente de classe ou condição social - por uma série de razões. Esse é o ponto mais interessante a respeito de Dates, que não é uma série que fala apenas da busca por uma companhia - em muitos dos casos, os personagens estão em busca de algum tipo de fuga.

A dinâmica dos encontros pretende sempre o mesmo começo: chegar a um local público, um restaurante ou um bar, e avaliar quem é seu acompanhante. Pode parecer absurdo que em um tempo tão curto, a série consiga explorar os primeiros momentos de um encontro, com suas identificações e frustrações, e ainda ter tempo para o desenvolvimento de uma trama e de algumas personalidades. Porém, a condensação temporal do programa não afeta a fluência de seu texto. Dates é uma surpresa constante, cheia da mesma expectativa que compõe sua dramaturgia. Ao sentar para ver um episódio, é como estar diante de um novo pretendente. Tudo pode acontecer até o final da noite... Tudo.

Curte o Quê?

A tela abre, a barra de rolagem automática corre, os nicknames aparecem em toda uma profusão de criatividade. Quantos anos? De onde é? Como é? O que está procurando? Separados pelo limítrofe da tela, dois (ou mais) usuários se buscam no meio do escuro por razões que vão desde o sexo à psicologia. Ainda que esse modelo de bate-papo escorregue quase sempre na vulgarização da procura, a internet acabou servindo pra queimar etapas, proteger identidades, evitar os constrangimentos.

Em Dates, a maioria dos encontros vieram de sites de relacionamentos. Não há uma especificidade nesse sentido, mas conseguimos entender que os perfis sociais são o forte dos personagens. Quem se arrisca nesse tipo de site sabe a respeito de todas as complexidades vigentes. Na maioria das vezes, o acesso a esse tipo de conteúdo só pretende manter o foco das coisas. O problema é que as personas por trás da praticidade tendem a ser desertores da coragem presencial. Ao vivo, muitos detalhes disfarçados vem à tona. Encontros marcados por usuários virtuais, por essa razão, podem ser um imenso tiro no pé. E Dates sabe disso.

Partindo do princípio de que as personalidades se bifurcan, qualquer trama deita num solo cheio de possibilidades. Em qualquer encontro - virtual ou não - ninguém é 100% original. O jogo da sedução exige (e sobrevive) dos disfarces. Sabendo disso, a série se organizou para que em cada semana a dinâmica de exibicionismo e hesitação fosse gradativa. Uma pessoa pode disfarçar-se num encontro e mostrar-se inteira no outro, tudo depende do interlocutor. Somos afetados por muitos fatores e numa história comprometida com a realidade, isso deve ser levado em consideração. Dates se desenvolve em torno do indecifrável, do imponderável, agindo como uma teoria elegantizada da ação e da reação.

Encontros com o Natural

A escolha para o episódio piloto foi cuidadosa. David (Will Mellor) está num restaurante à espera de Celeste. Ele é o típico retardatário da engrenagem das relações virtuais. Ele é divorciado, pai de três filhos, bonito e atraente, mas nada condizente com a jovialidade procurada nesses sites de encontros. David é um caminhoneiro que tem uma doutrina rígida com relação às mulheres: elas devem ser adoradas. Ele compensa sua pouca intelectualidade com muita virilidade.

Sua parceira não se chama Celeste. A mulher misteriosa que se senta com ele é Mia (Oona Chaplin). Mentir o nome é parte do show dela. Mia é bonita, aparentemente segura, misteriosa, sensual, longe de ser o tipo de mulher que procura homens pela internet. Mia quer uma fuga de si mesma, e encontra em David a possibilidade ideal: ser adorada por suas imperfeições, ser valorizada por seus "defeitos". David gosta de proteger, consertar. Mia gosta de prevalecer, provocar. O encontro dos dois não dá muito certo e, ao mesmo tempo, serve como expectativa maior para toda a condução da temporada.

Em nove episódios, nove formações diferentes de casais, que apresentam-se totalmente originais ou repetindo personagens. Com aqueles que voltam, temos a chance de conhecer novos detalhes e, quase sempre, esses repetentes são os mais complexos. Por suas características tão peculiares, eles merecem uma breve menção (partindo do episódio 2):

Jenny e Nick: O encontro entre uma professora primária e um neurótico e superconfiante comerciante poderia ser maravilhoso se os dois não acabassem sendo incompatíveis exatamente por serem ambivalentes. Jenny e Nick escondem um segredo que lhes desvirtua do objetivo original do encontro, tornando-o um verdadeiro desastre.

Mia e Stephen: Mia reaparece na série. A postura dela quando vai conhecer o cirurgião Stephen é  a mesma de quando encontrou-se com o tranquilo David. Porém, ela encontra um adversário à altura. Stephen é superficial, individualista e prático. Ele não cai no jogo de sedução de Mia e provoca um distúrbio na dinâmica das coisas.

Erica e Kate: A série resolve explorar o universo gay dos encontros e nos apresenta a enrustida Erica, que não pode contar sobre ser lésbica para sua tradicional família chinesa. Ela conhece Kate, uma lésbica-de-raiz, que tem opiniões duras sobre homossexuais femininas que já estiveram com homens. O encontro das duas acaba resultando no confronto pessoal para uma delas.

David e Ellie: David volta para outro encontro no dia de seu aniversário. Sua pretendente é a jovem Ellie que, apesar de madura, é visivelmente jovem demais. Apesar de claramente interessada, Ellie se vê esmagada pelo fantasma das projeções masculinas de David: ele está obcecado por Mia e pela força sexual que ela representa. Esse encontro acaba em circunstâncias pouco favoráveis à Ellie.

Erica e Callum: A lésbica enrustida Erica reaparece para satisfazer a vontade da família. Ela é obrigada a encontrar-se com Callum, um pernóstico e apatetado sujeito que nunca teria chances com uma mulher como ela. Assim que os dois reconhecem seus papeis nesse encontro, ele passa a ser um momento de grande mudança para Erica.

Stephen e Mia: As semelhanças entre Mia e Stephen são reforçadas nesse novo encontro, quando Mia dá um bolo no cirurgião e ele conhece Heidi, que está no hotel onde o encontro foi marcado, para uma conferência. Stephen finge ser um dos conferentes e seduz Heidi para uma tarde de sexo num dos quartos do hotel.

Jenny e Christian: Jenny repete sua participação na série num penúltimo episódio muito curioso. Ela não acredita em Deus, mas resolve ir pra cama com o membro de um grupo religioso, simplesmente porque, sem perceber, ele fala diretamente para as angústias dela. O problema é que Christian (como todos os homens de Jenny), também tem segredos.

David e Mia: O casal do primeiro episódio se reencontra para um final de temporada extremamente abstrato. Aparentemente, Mia e David iniciaram um relacionamento, mas quando Stephen retorna à vida dela subitamente, tudo é posto em cheque. Mia é muito mais parecida com Stephen, mas David parece ser o único disposto a continuar fazendo dela deusa carnal que ela necessita ser.

Cobrindo esses personagens tão cheios de camadas está um elenco totalmente comprometido com os detalhes. Além de construções muito bem marcadas, as atuações se apoiaram numa naturalidade impressionante. A produção de cenários minimalistas e de roteiro intimizado, uma das forças da série precisaria, definitivamente, se apoiar na figura do ator. Sendo assim, cada olhar, gesto, postura e fala do elenco de Dates é minuciosa, evidenciando um trabalho de direção absolutamente correlacionado com a atmosfera da série.

Também nos encontros, cada olhar, cada gesto, cada postura e cada fala, precisam ser estudados, perscrutados pelo nosso senso crítico, em busca de falhas, em busca de motivos para o encontro número dois. Dates é um recorte social que pode parecer áspero, mas que é surpreendentemente otimista. As pessoas, vejam só, ainda procuram por formas de estarem juntas, a despeito de toda essa imensa capacidade de isolamento e de desprezo proposta pela modernidade. Ainda existem aqueles que querem o frio na barriga do primeiro encontro.

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