De certa forma, os episódios cinco e seis de Demolidor: Renascido não poderiam ser mais diferentes. Lançados juntos para que o final da temporada venha uma semana antes do retorno de Andor, eles têm propostas diferentes o suficientes para, na verdade, fazer essa estreia combinada beneficiar a série. Excelente, o quinto capítulo poderia ser criticado como “filler”, mas lançado junto do sexto – que catapulta a história para frente – ele fica livre de pressão para ser o que é: um ótimo exercício de gênero.
Assim como o episódio três, que é um grande suspense legal, o episódio cinco conta uma história com começo, meio e fim em mais ou menos 45 minutos. Dessa vez, porém, o tribunal dá lugar a um banco sendo roubado. É lá que Matt (Charlie Cox) vai para tentar conseguir um novo empréstimo para a Murdock & McDuffie, e cabe ao gerente assistente contar para o advogado que, apesar de gostar dele, o empréstimo não será aprovado. O rosto do personagem será familiar para quem assiste a tudo do MCU. Trata-se de Mohan Kapoor, de volta ao papel de Yusuf Khan, pai de Kamala Khan visto em Ms. Marvel. Além do fanservice que vem ao falar sobre a filha, que segundo ele está na Califórnia visitando amigos – sem dúvida estes incluem Kate Bishop, com quem ela formará os Campeões –, o retorno de Kapoor dá a série uma boa carga de química cômica, já que ele e Cox claramente têm um bom vai-e-vem nos diálogos.
Matt sai de lá com o que é, segundo ele, o “melhor ‘não’” que ele já levou, mas antes de virar a esquina sua super audição capta, por baixo de todas as festividades do St. Patrick’s Day, o som de assaltantes (curiosamente irlandeses) entrando no banco. Ele se faz de sonso para entrar de novo no local e se junta aos reféns para tentar resolver a situação por dentro. O capítulo passa a ser uma boa e velha história de roubo de banco com o Demolidor, vestido de civil, tentando salvar as vítimas e impedir o roubo sem alertar a gangue, liderada por um homem que se chama de “Jesse James” (Cillian O’Sullivan). Ele faz parte da gangue de Luka (Patrick Murney), mafioso que deve 1.8 milhão aos russos que também trabalham no sindicato gerido por Vanessa (Ayelet Zurer). Sua intenção é roubar um diamante no banco e quitar de vez a dívida.
Como falamos antes, o capítulo não tem grande impacto na narrativa maior, mas é, pura e simplesmente, um bom episódio de televisão. O roteiro divertido (a maior risada que dei na série foi ouvir Jesse James chamando de Matt de um “personagem” de Charles Dickens, a segunda maior foi ouvir Cox fazendo sotaque irlandês) coloca Matt em quebras-cabeças que precisam ser resolvidos com seus poderes, mas também abre espaço para sua lábia de advogado conduzir os bandidos ao erro. Fãs do Demolidor podem ficar frustrados com a demora em vê-lo vestido de herói – o quarto episódio sugeriu um retorno iminente – mas a aventura deste capítulo é, por si só, um grande agrado.
E, novamente, o lançamento combinado tira o peso do episódio cinco. Quem assistí-lo vai, provavelmente, dar play imediatamente no episódio seis, onde terá o prazer de ver Matt Murdock como Demolidor espancando um vilão.
Mas estamos nos adiantando. O sexto episódio abre e fecha com cenas paralelas. Na primeira, Matt conversa com Heather (Margarita Levieva) e descobre que sua namorada está preparando um novo livro sobre a psicologia dos vigilantes. Além de sugerir que adoraria entrevistar o Demolidor e o Justiceiro (Jon Bernthal), a quem ele defendeu no tribunal, Heather levanta hipóteses sobre o que leva os heróis a usarem máscaras. Isso vem depois de Matt ser assombrado pela violência recente enquanto reza.
Na prefeitura, o dia cheio de Fisk é interrompido por uma visita de Luka, que quer sair da dívida e ameaça o Rei do Crime. Este precisa controlar sua ira, e termina subindo a dívida do capanga para US$2.8 milhões. Mais frustrante que o desrespeito de Luka, porém, é seu jantar com os magnatas de Nova York, onde reencontramos o sempre ótimo Tony Dalton como Jacques DuQuesne. Visto antes num clipe do BB Report, Espadachim mostra a Fisk o quanto os ricaços da cidade pouco se importam com ele, e quando o dia do novo prefeito parece ter atingido o poço, vem uma notícia pior: Muso (Hunter Doohan).
O vilão apareceu aqui e ali na série, e agora descobrimos o que ele estava fazendo com as pessoas que sequestrava. Muso é, na verdade, o artista de grafite que pintou os murais do Rei do Crime, Tigre Branco e Justiceiro vistos pela série, e a razão pela qual eles não saem mesmo com fortes jatos d’água é que a tinta usada é, bom, sangue humano. O comissário Gallo (Michael Gaston) informa a Fisk que a polícia estima que pelo menos 60 pessoas morreram para que Muso conseguisse material suficiente para os murais, e Fisk decide tomar medidas drásticas.
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Fazia um tempo desde que Demolidor tinha levantado a bandeira da violência policial como algo preocupante, mas agora a série terá que retornar a isso com a força-tarefa que Fisk monta com os piores dos piores. Estes incluem os tais fãs do Justiceiro, e também Powell, o responsável por prender Hector, vivido por Hamish Allan-Headley. Todos predispostos à violência, os novos seguidores de Fisk se mostram animados para atuar sem supervisão.
Mas quem chega primeiro no Muso é, curiosamente, Angela (Camila Rodriguez). A sobrinha de Hector, que nos quadrinhos assume seu manto como Tigresa, descobre o esconderijo do psicopata de maneira inacreditavelmente rápida – a série justifica dizendo que Hector falou para ela que os crimes giravam em torno de uma estação de metrô abandonada, mas é tudo muito, muito fácil para a garota – e quando Matt descobre que ela desapareceu, instantaneamente saca o que aconteceu.
A decisão da série de colocá-lo de volta como Demolidor não num impulso violento, mas sim porque precisa salvar alguém. Ele o faz com a luta final contra Muso, que como a cena de abertura, acontece paralelamente a Fisk, que também termina o episódio voltando a resolver as coisas com os próprios punhos. Enquanto Matt derrota o psicopata (que escapa) e salva a menina, vemos o Rei do Crime supostamente libertando Adam (Lou Taylor Pucci) do cativeiro. É uma armadilha: Fisk deixa um machado na cela do ex-amante de sua esposa, e quando ele cai na isca e parte para o ataque, é recebido com força pelo marido furioso. Adam não morre, mas chega perto.
O paralelo funciona tanto pelo que os dois homens têm em comum quanto por mostrar como são diferentes. Ainda que o sexto episódio termine com a volta do Demolidor e do Rei do Crime, um retorna para resgatar uma vítima, e o outro para fazer uma vítima.