Será que Matt Murdock (Charlie Cox) e Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) realmente mudaram? Em diferentes momentos do quarto episódio de Demolidor: Renascido, ambos homens rejeitam a ideia de que ainda estão presos à sua natureza violenta. Fisk, que passa o episódio estressado devido a vazamentos à imprensa e compromissos burocráticos, levantou essa ideia no único encontro dos dois até agora, lá no primeiro episódio, e o fim deste capítulo sugere que eles estão fadados a voltar ao sangue.
Matt é confrontado com a ideia na grande cena do episódio, que é também um dos melhores momentos de Cox como ator em sua carreira. Trata-se do seu confronto com Frank Castle, o Justiceiro de Jon Bernthal. Não é à toa que Cox precisa dar seu melhor. Bernthal continua transmitindo dor, ira e vulnerabilidade em cada segundo de sua atuação como um homem cuja cicatriz nunca cura, e Demolidor: Renascido corretamente identifica o personagem como o contraponto perfeito para o “novo” Matt Murdock.
Se Matt abandonou o caminho de Demolidor e está convencido de que o sistema pode funcionar (pelo menos, é isso que ele diz), Frank parece ter abandonado de vez qualquer semblante de normalidade. Quando o Justiceiro aparece, ele parece mais explosivo que o Hulk. Suas veias visíveis e barba grande revelam um homem consumido pela vingança. Matt o descobre numa espécie de esconderijo onde Frank planeja seu próximo ataque, e não só o Justiceiro parece não se importar com a forma com qual a polícia se apropriou de sua imagem para atuar como juiz, júri e carrasco, como sugere que o Demolidor, a quem ele carinhosamente (ou não) chama de Vermelho, precisa voltar. Justiça só pode ser feita com as próprias mãos, ele insiste. Matt nega tudo em palavras, mas seu choro e incerteza revelam alguém aparentemente incapaz de recusar as tentações do diabo.
Em paralelo ao encontro com Frank, Matt também é abalado por um caso de roubo que cai em seu colo. O suspeito já foi preso inúmeras vezes, e quer novamente responder em liberdade condicional, algo que o advogado corretamente julga ser impossível. Ainda assim, Murdock negocia uma sentença de apenas 10 dias. Seu cliente fica revoltado, e quando Matt insiste que aquilo é um milagre, o acusado fala sobre as várias vezes em que foi preso, sobre as circunstâncias terríveis de sua vida, e sobre como o sistema está quebrado. Nova York, ele diz, está disposta a gastar mais dinheiro o prendendo do que com um auxílio alimentação. Ele come comida do lixo e foi preso roubando pipoca doce porque, uma vez na vida, ele quis sobremesa. É mais um momento em que Renascido dá uma aula de como a Marvel pode falar de circunstâncias reais, pessoas reais e problemas reais. De certa forma, concordamos com Frank. Queremos o Demolidor de volta. Enquanto ele não chega, contudo, a série tem aproveitado bem o drama mais humano.
Se Matt está lutando contra si mesmo – sejamos honestos, tem algo mais Demolidor que isso? –, Wilson Fisk não parece interessado em reprimir seus piores impulsos. Na superfície, o novo prefeito de Nova York até convence. Ele não explode para cima de Daniel quando seu jovem assessor confessa ter vazado, sem querer, planos de sua administração para BB Urich (Genneya Walton). Na terapia com Vanessa (Ayelet Zurer), quando confrontado com o caso que Vanessa teve com um homem chamado Adam enquanto Wilson estava desaparecido, ele insiste diante de Heather (Margarita Levieva) que deixou as medidas extremas de lado. As duas parecem convencidas, especialmente depois que Vanessa, em particular, garante a Heather que seu marido jamais usaria de violência em casa.
Mas aqui e ali, rachaduras aparecem na fachada. A atuação de D’Onofrio, sempre eficaz em transmitir o desequilíbrio emocional de Fisk, significa que estamos sempre na expectativa de uma explosão de raiva, mas são os momentos mais calmos que mostram como o Rei do Crime ainda existe. Primeiro, há a ameaça de expor a infidelidade do comissário, e depois vem sua cena do final do episódio. Fisk passa na frente do quadro que toma tanto sua atenção na série original, agora manchado de sangue devido à sua grande luta com Matt na temporada anterior – um reflexo de como a violência persegue esses homens – e senta para jantar num local recluso. Rapidamente, entendemos o que está acontecendo. Ele, de fato, não matou Adam, mas sequestrou o ex-amante de sua mulher e tira prazer de assistir enquanto ele grita desesperado por liberdade.
Parece questão de tempo até o Demolidor precisar aparecer novamente, e este episódio parece enfim garantir esse retorno. Matt termina o capítulo voltando a treinar para o combate, algo que ele precisará fazer em breve já que a última cena da semana vem mostrando Muso (Hunter Doohan), um vilão perigoso, torturando uma vítima. Nós o vimos antes, assistindo à palestra de Heather, e ele é o responsável pelos sequestros que o Tigre Branco estava investigando. A cidade precisará do Demolidor, e logo.
Crítica publicada originalmente em 18 de março às 22h.
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