Doctor Who passou por momentos turbulentos nos últimos anos. Saindo da jornada de Matt Smith, o mais reconhecível Doutor desde a retomada da série, a produção não soube ao certo como utilizar a versão vivida por Peter Capaldi por muito tempo. Agora, no ano de despedida do ator ao programa, parece que as coisas se acertaram.
A décima temporada deixa de se apoiar tanto na mitologia recente do seriado e volta alguns passos para focar-se na premissa básica: o Doutor viajando pelo tempo e espaço ao lado de algum companheiro. A decisão acaba criando uma espécie de reboot que serve como porta de entrada para novos fãs, mas seu impacto também pode ser sentido pelos veteranos.
Prezar pela simplicidade e não estar preso a um grande arco narrativo possibilitou que uma grande variedade de roteiristas escrevessem histórias para o personagem. Com isso, a temporada é repleta de diversos tons e tramas interessantes. Muitos episódios até mesmo brincam com o horror, como uma garota morta feita de água ou uma mansão que vai sumindo com um grupo de jovens, um por um. A sensação que fica é que Doctor Who voltou às suas raízes, entregando uma aventura mais parecida com a de Christopher Eccleston do que as de Smith, por exemplo.
Uma fórmula que finalmente deu personalidade ao 12º Doutor. Capaldi agora se apresenta como uma figura que fala e age com propriedade, mistério e inteligência. Mesmo tendo seus momentos bem humorados, é ótimo que tenha encontrado sua voz após um ano introdutório sem graça e uma nona temporada onde apenas tentava, sem sucesso, emular o espírito "jovem e descolado" dos recentes protagonistas.
Grande parte da performance do Doutor deve ser atribuída à introdução de Bill Potts, a nova companion vivida por Pearl Mackie. Bill é uma adição interessante ao programa por não ser tão inocente quanto Clara Oswald (Jenna Coleman), o que faz a garota deixar muitas vezes a posição de aluna e contrariar o protagonista com propriedade. Essa dinâmica é bem aproveitada e cria situações onde o espectador não sabe ao certo qual dos lados ouvir.
O fim de uma era
Por mais que o programa tenha encontrado a voz do protagonista e o tom das tramas, tudo deve mudar em breve. Não só a décima temporada marca a última de Capaldi como também o fim da era de Steven Moffat, o controverso roteirista e showrunner que contribuiu para popularização e renovação de Doctor Who.
Apesar da qualidade de sua escrita ser inconsistente e seus arcos narrativos serem fracos, Moffat é um fã hardcore assumido do programa, e consegue criar muito bem situações tensas que utilizam toda a lore estabelecida para abalar o coração de qualquer espectador veterano. O excelente capítulo "World Enough and Time" é a prova disso, entregando uma das horas mais marcantes nos anos recentes ao mostrar a criação de um vilão icônico e o retorno do Master de John Simm.
É uma pena que a décima temporada seja uma despedida. É difícil não pensar para onde as coisas poderiam ir a partir de agora. Doctor Who finalmente descobriu como contar histórias com Peter Capaldi e introduzir o universo Whovian aos novatos sem esquecer dos fãs, inclusive entregando surpresas de peso para eles. Ainda falta mais uma aventura antes do escocês pendurar seu casaco mas, graças a esse décimo ano, superá-lo será um desafio para o próximo Doutor - ou Doutora.
Criado por: Sydney Newman
Duração: 13 temporadas