Cidade de Deus | Edson Oliveira fala sobre reviravolta de Barbantinho na série

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Entrevista

Cidade de Deus | Edson Oliveira fala sobre reviravolta de Barbantinho na série

Icônico personagem teve sua cena mais importante filmada logo no início da série

Omelete
7 min de leitura
22.09.2024, às 21H30.
Atualizada em 26.09.2024, ÀS 10H21

[Este texto contém spoilers de Cidade de Deus: A Luta não Para]

O penúltimo episódio da primeira temporada de Cidade de Deus: A Luta Não Para trouxe uma grande reviravolta para o personagem Barbantinho, interpretado por Edson Oliveira. Figura marcante e carismática no filme de 2002, o personagem retornou na série, mas não para ficar.

Em uma entrevista após a gravação do episódio, Oliveira falou sobre sua relação com o personagem e o restante do elenco da produção e contou os bastidores do desfecho de seu memorável personagem.

Em A Luta Não Para, reencontramos Buscapé (Alexandre Rodrigues) vinte anos depois dos eventos do filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund. A produção também traz de volta personagens como Berenice (Roberta Rodrigues), Barbantinho (Edson Oliveira), Cinthia (Sabrina Rosa) e Lampião (Thiago Martins).

Conta pra gente o que você sentiu quando descobriu o final do seu personagem. Tem alguma história de bastidor para compartilhar?

Olha, gente, assim, foi um baque para mim, né? Quando eu fiquei sabendo que o Barbantinho ia morrer na série, pelo motivo de ser um personagem que faz é muito importante para mim o Barbantinho na minha história como artista, como pessoa e como ator, né? E assim, é um personagem que eu carrego dentro de mim que fez uma transformação muito grande interna na minha vida. E quando eu fiquei, quando eu li o roteiro e quando eu recebi a proposta de fazer a série, foi incrível, né? O Fernando Mereilles que me fez o convite para fazer a série, eu fiquei muito feliz, falei: "Ó, quero você, quero, quero o Alexandre Buscape para fazer a série", lá no Sistel de São Paulo, ele fez essa proposta, a gente ficou super feliz, mas quando eu recebi o roteiro, caiu por terra. Falei: "Meu Deus, o Barbantinho vai morrer, eu não acredito, meu personagem querido", assim. E foi muito triste. Tentei reverter, falei com a galera, conversei muito com a Andreia, produtora. Ela me explicou o motivo da morte do meu personagem. Conversei com o Fernando Mereilles, conversei com o diretor Ali Muritiba, que eles foram super solícitos, sentaram comigo, explicaram o desfecho desse motivo. Realmente a morte do Barbantinho tem uma importância muito grande em todo na continuação da trama. Mas o que mais pesou para mim foi a tristeza de desse personagem tão querido e que agora ele realmente ia conseguir fazer alguma coisa pela comunidade. Era um personagem que estava envolvido pela [sic] comunidade, que era diretor de um centro comunitário, que um cara que promovia a cultura para a comunidade, que é um cara que dava esporte, cultura, tava envolvido em todas essas ações políticas internas na comunidade, e que agora não vai poder fazer mais isso, assim. Era um cara que tem uma potência imensa para a comunidade de CDD, só que agora vai ser interrompido pela violência diária. Acho que é isso, assim. É muito triste, mas espero que a morte do Barbantinho deixe um legado importante aí para você que está ouvindo.

E quando gravaram o desfecho dele, como você se sentiu? Como foram as gravações desses momentos?

Logo de cara para mim foi muito difícil, porque a primeira cena que eu fiz, né? Da série, primeiro dia de gravação, de de de filmagem. Era uma cena da morte do Barbantinho, onde ele tava entrando baleado dentro do hospital, uma cena muito forte, muito emotiva, muito pesada, né? Todo ensanguentado e tal. E para mim ali já foi um baque assim, já foi uma pré-despedida do meu personagem, assim, fala: "Caraca, realmente o Barbantinho vai morrer, cara, ele vai morrer, não!" É assim, eu acho que foi uma preparação aos poucos, ao longo da série, essa morte foi tendo uma preparação e no momento da cena da morte, assim, foi muito especial. Muito especial. O Ali, o Ali é um diretor incrível, ele conseguiu criar toda uma atmosfera, sabe? Na cena assim, com a equipe, a equipe toda envolvida, todo mundo respirando juntos para que a gente pudesse se concentrar e realmente viver aquele momento, né? Tão trágico da morte desse personagem, foi uma cena muito emocionante, e eu acho que você vocês vão entender o que eu estou falando quando vocês virem essa cena. É uma cena impactante, é uma cena forte, é uma cena que deixa um uma mensagem aí, né? Para as pessoas que estão acompanhando a nossa série. E é um personagem que deixa um rastro de esperança de que a luta continua.

Pode comentar um pouco sobre a direção do Aly, especialmente nesse episódio e no cortejo do Barbantinho? Foi a primeira cena que gravaram na série, certo?

Olha, gente, é um privilégio imenso, imenso, assim, imensurável poder trabalhar com um dos diretores, um dos melhores diretores do Brasil que é o Ali Muritiba. Foi incrível, foi incrível. É um diretor que tem uma sensibilidade muito grande com o ator, um diretor que gosta de ator, é um diretor que ele cria uma toda uma atmosfera, né? Tanto da equipe quanto do elenco, ele consegue, ele consegue envolver todo mundo em um em em uma só respiração, em uma só pulsação. E para fazer as cenas, principalmente as cenas mais difíceis, que foi da morte do Barbantinho, cara, nossa ele me ajudou muito. Muito obrigado. É uma honra poder trabalhar com um diretor como o Ali. É uma oportunidade única na minha vida, sem dúvida. E assim, espero que o universo abra novas portas para a gente se reencontrar nesse mundo da arte, porque realmente foi um privilégio poder trabalhar com o Ali Muritiba. O que me chamou mais a atenção desse diretor é que a sensibilidade dele, não só a parte técnica e visão cinematográfica, tanto de planos quanto de edição, né? Que ele tem, mas também com a sensibilidade que ele tem com os atores e com toda a equipe, sabe? Para resolver os pepinos do dia a dia e fazer com que os atores sintam realmente que estão vivendo, vivenciando aquele momento ali e não interpretando. Ele é fantástico, gente.

Como você espera que o público receba esse episódio?

Eu espero que sinceramente, do fundo do meu coração, que o público receba a morte do Barbantinho como um como uma mensagem, sabe? Um alerta, um aviso, um legado que vai deixar aí, até porque o feedback do público tá sendo muito bom, as pessoas estão gostando muito do Barbantinho, realmente é um cara que faz uma diferença na comunidade. Eu pessoalmente, como fruto de comunidade, que vim do Vidigal, eu conheço assim, vários Barbantinhos, né? Que existem na vida real e que são pessoas atuantes que promovem cultura na comunidade, que dá acesso para pessoas que não têm acesso. E o Barbantinho é um fruto desse legado, é um fruto de de dessas pessoas que fazem isso. E eu espero que essa situação deixe marcas, lembranças, deixe um aviso, deixe uma mensagem aí para as pessoas.

Quer deixar para a gente quais seriam as últimas palavras do Barbantinho? Como você se despediria dele?

Se eu pudesse agradecer o Barbantinho, eu acho que seria o seguinte, falaria: "Barbantinho, eu do fundo do meu coração, eu agradeço essa oportunidade de poder vivenciar a tua história, de emprestar o meu corpo, a minha alma, a minha mente, tudo, minha respiração, para viver a tua vida. Você é um personagem que transformou minha vida completamente, foi um divisor de águas de dentro para fora na minha vida, e que me fez enxergar a magnitude e o tamanho do cinema brasileiro e a potência que somos e o quanto a nossa história de favela é importante para as pessoas se verem, se sentirem representadas". Então assim, a luta continua, Barbantinho, você partindo ou não, você vai deixar uma história, você vai deixar um legado, você vai deixar uma representatividade para mim e para todo o mundo que vê o Barbantinho. Que eu conheço milhares de Barbantinhos aqui no Brasil, são pessoas que fazem, que promovem cultura, que dá acesso para as pessoas que não têm acesso, são pessoas que fazem a diferença em lugares onde o governo não chega. Então assim, muito obrigado. Você foi muito importante para mim, muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado.

Cidade de Deus: A Luta Não Para conta com seus episódios sendo ambientada já nos anos 2000, duas décadas após o filme original, lançado em 2002. Na foto, podemos ver os retornos de Barbantinho e Buscapé. Já a mulher é Berenice, também presente no longa.

Com reconhecimento internacional, Cidade de Deus teve 4 indicações ao Oscar em 2004, entre eles Melhor Diretor, Roteiro Adaptado, Edição e Fotografia. O longa também saiu vencedor do BAFTA Awards de melhor edição e Writers Guild of America pelo roteiro.

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