Heróis de carne e osso e rostos sujos de petróleo vão despontar nas telas da TV Globo a partir do segundo semestre de 2018. Com Cauã Reymond, a série Ilha de Ferro promete levar à teledramaturgia nacional doses de ação e sensualidade com um requinte plástico singular. Ao menos, esta é a expectativa desde que Afonso Poyart, realizador de 2 Coelhos (2012) e de Mais Forte Que o Mundo: A História de José Aldo (2016), foi anunciado para dirigir a trama.
Centradas nos percalços físicos e afetivos de uma plataforma de petróleo, o projeto nasceu do trabalho do autor Max Mallmann com Adriana Lunardi e uma equipe de criadores, supervisionados por Mauro Wilson (Cidade Proibida). Com foco num torvelinho de tensões proveniente do conflito entre os irmãos Dante (Reymond) e Bruno (Klebber Toledo), os episódios vão retratar um quadrângulo amoroso que envolve as personagens de Sophie Charlotte e Maria Casadevall.
Na entrevista a seguir, o cineasta santista, que dirigiu Anthony Hopkins e Colin Farrell em Presságios de um Crime (2015), mensura quanta adrenalina espera o telespectador.
Você é encarado no cinema como um especialista em cenas de ação. Como é fazer ação na TV aberta no Brasil?
Afonso Poyart: Esta semana eu filmei uma sequência de muita tensão com um helicóptero de verdade em uma plataforma pneumática. É uma coisa que só se espera de Hollywood, mas que a Globo tem. E tem ainda uma equipe de efeitos especiais de primeiro porte. Isso mostra que a nossa televisão tem uma estrutura para esse tipo de experiência, que pode competir pau a pau com as séries americanas. Tenho pela frente cenas de ação à la Michael Bay para fazer. Essa é uma série onde a tensão calça tudo.
Ilha de Ferro escolhe o cotidiano dos petroleiros como foco e, a partir deles, constrói ação. Como é essa experiência de aportar seus conhecimentos de set de cinema na teledramaturgia?
Afonso Poyart: A linha que separa TV e cinema está se embaçando cada vez mais. A Globo me convidou com uma proposta de fazer algo carregado de uma energia de ação, de sexo. E a narrativa do projeto tem um arco dramático muito diferenciado do que já vimos na televisão. É uma história sobre homens divididos entre terra e mar.
Existe lugar para o heroísmo nas séries brasileiras, quando se pensa numa trama como a de Ilha de Ferro?
Afonso Poyart: Existem heróis sim: Dante ocupa esse lugar, ainda que no começo tenha algo de anti-herói. Na CCXP, Mauro Wilson falou que os petroleiros são heróis brasileiros. Sinto que existe um esforço de dramaturgia em se retratar os trabalhadores deste país e mostrar seus princípios mais inabaláveis.
Seus três longas-metragens carregam um tônus de melodrama, sobretudo no que diz respeito a discutir a questão de família. O que há de melodramático aqui em Ilha de Ferro?
Afonso Poyart: Existem vários núcleos de drama pessoal na série, mas a questão central é a redenção, com situações que passam por traumas ou traições. No fundo, o eixo da história de Dante é um processo de redenção dele com o irmão.
Até quando vão as filmagens?
Afonso Poyart: Começamos há umas três semanas e vamos até o final de maio, sendo que haverá um período intenso de pós-produção.
Como fica a sua carreira como realizador depois da série?
Afonso Poyart: Tenho o remake americano de 2 Coelhos para fazer. Fiquei bem animado com o roteiro, escrito por Chris Boal, irmão do Mark Boal que escreveu Guerra ao Terror. Tenho ainda um filme sobre tecnologia para fazer, meio Black Mirror, e vou produzir o longa sobre a tragédia do Bateau Mouche [embarcação que naufragou no réveillon de 1989, no RJ, resultando em dezenas de mortes].