Jesuíta Barbosa dará vida a um de seus personagens mais carregados de sensibilidade a partir de 23 de abril, na estreia de Onde Nascem os Fortes, nova supersérie da faixa das 23h da Globo. Na trama assinada por George Moura e Sergio Goldenberg, com direção artística de José Luiz Villamarim, o ator pernambucano viverá Ramirinho, filho de Ramiro, personagem de Fabio Assunção. Por medo do pai, um importante juiz da fictícia cidadezinha de Sertão, ele finge aceitar o futuro planejado para ele: assumir o comando de um negócio de extração de bentonita para concorrer com a empresa de Pedro (Alexandre Nero), mais poderoso homem do lugar. Contudo, escondido do pai, Ramirinho incorpora a alcunha de Shakira do Sertão, DJ e artista que se apresenta em uma boate local.
Em entrevista ao Omelete, Barbosa contou que o processo de encontrar o tom de Ramirinho foi muito orgânico em função da própria trajetória pessoal do ator. “Eu juntei minhas experiências de montação no mundo queer que eu frequentei, e ainda frequento, quando eu fazia teatro em Fortaleza. Eu tinha muitos amigos e amigas falando desse lugar e eu pude participar de um grupo de teatro que trabalhou essa questão. Eu já me montei muito na rua, no palco, tenho uma experiência de montação. Foi um lugar muito libertador para mim, muito bom de estar para entender alguns pontos que ainda me enrijeciam. Partiu do teatro e, depois, acho que minha atenção ficou mais aguçada para esse universo”.
Para entender o drama do personagem de Barbosa, é preciso conhecer um pouco mais Ramiro, seu pai. O juiz de Sertão é um homem sério e sombrio, que criou o filho sozinho após ficar viúvo. De acordo com o o ator que vive Ramirinho/ Shakira do Sertão, pai e filho tem uma relação extremamente fria e sem qualquer traço de intimidade. O foco do patriarca está em fazer do filho um grande empresário para bater de frente com Pedro, que é casado com sua prima Rosinete (Debora Bloch). Para isso, ele chega a tomar caminhos como o da espionagem industrial - contudo, em casa, ele não faz ideia do que se passa com o próprio herdeiro.
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“Esse personagem não tem uma figura materna e o pai é um juiz, uma pessoa ligada ao poder”, conta Jesuíta Barbosa, que fala sobre como a arte de Ramirinho é algo extremamente transgressor em relação a seu meio. “Essa história diz muito sobre esse patriarcado de um homem que rege e governa, o pai todo poderoso que o filho deve obedecer e fazer o que ele quiser que faça. Eu também tive a experiência de conviver em uma família com uma dificuldade de liberdade, de diálogo. Shakira aparece como esse alterego de Ramirinho, esse lugar de transformar esse ideal paterno - não só em função do pai, mas da cidade, da comunidade onde vive. E ela consegue fazer isso no palco”.
O ator não tem dúvidas de que a Shakira do Sertão irá render debates que aprofundem a discussão sobre romper com alguns paradigmas que ainda tratam gênero de forma engessada. “A gente quer falar de uma artista, de um menino que se apresenta no palco com uma necessidade de revolução tanto de corpo quanto de consciência. Shakira quer tirar o sertão e a sociedade desse lugar comum, desse estigma, desse lugar pré estabelecido que não interessa mais. Acho que é importante essa discussão”, conta e diz ainda que Ramirinho carrega algo de inedistismo. “A gente tem trabalhado uma figura que está em um lugar muito diferente do que já se apresentou de performatividade de gênero. O gênero é um lugar de transformação”, pontua.
Com direção-geral de Luisa Lima, direção de Isabella Teixeira e de Walter Carvalho, Onde Nascem os Fortes estreia às 23h, em 23 de abril, na Globo.
