Quer você tenha gostado da segunda temporada de Euphoria ou não, um ponto parece unânime entre os fãs da série da HBO: a Kat (Barbie Ferreira) sumiu. A personagem que, embora coadjuvante na história de Rue (Zendaya), tinha bastante destaque e um arco de autodescobrimento bem construído foi escanteada a ponto de virar piada recorrente nas redes sociais -- só no último episódio, por exemplo, compararam a duração da música de Elliott (Dominic Fike) com toda a participação da personagem na temporada; veja aqui. É um exagero, claro, mas ele guarda um sentimento verdadeiro. A Kat apareceu tão pouco que assisti-la dessa vez foi quase como brincar de Onde Está Wally? com a diferença que, em vez de sentir uma recompensa, achá-la no fundo da cena ou, quando muito, servindo como sidekick da Maddy (Alexa Demie) foi somente frustrante.
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Este não parecia ser o destino da personagem quando a temporada começou. Era muito claro que o relacionamento com Ethan (Austin Abrams), apesar de doce e confortável, deixava a desejar quando o assunto era sexo. Mesmo ela tentando não pensar a respeito, seu inconsciente o manifestava. Lembra? A jovem teve pelo menos um sonho intenso, no qual transava com um Dothraki, uma figura que não poderia ser mais oposta ao seu namorado. Ela aos poucos se dava conta, como Maddy mesmo disse, que "existe uma diferença entre o que você acha que deveria querer e o que você realmente quer", e essa realização ameaçava a estabilidade que atingira.
Simultaneamente, ela vivia debates internos turbulentos sobre seu corpo e a pressão das redes sociais de ter que se achar bonita o tempo todo. Porque ainda que Kat tenha se tornado um símbolo de autoaceitação e body positivity, como toda mulher ela tem inseguranças -- ainda mais considerando o excesso de posts de modelos, atrizes e influencers, todas magras e “padrão”, que ela consumia, como também fazem as espectadoras da série. Logo, nada mais natural que se encarar no espelho pudesse ser difícil.
Por mais interessantes e relacionáveis que essas discussões pudessem ser, porém, elas de repente começaram a se desenrolar fora da vista do público, transbordando, no máximo, em diálogos pontuais, aqui e ali. Quer dizer, o dilema sobre sua autoimagem ficou pelo caminho, mas ela terminou, sim, com Ethan -- ainda que de um modo desastrado e pouco característico, convenhamos. Contudo, eventualmente a maior função da Kat passou a ser agir como um ombro amigo da Maddy quando o triângulo amoroso com Nate (Jacob Elordi) e Cassie (Sydney Sweeney) se revelou.
Em entrevista ao The Cut, Barbie Ferreira afirmou que "a jornada de Kat nessa temporada é mais interna e um pouco misteriosa para o público. Ela está secretamente passando por crises existenciais. Ela perde um pouco o controle -- como todo mundo nesta temporada", como se dissesse que essa saída da personagem dos holofotes fora intencional. Contudo, não é essa a sensação que ficou ao assistir à segunda temporada. Parece que houve uma mudança inesperada no meio do caminho, praticamente um improviso que resultou no abandono do seu arco.
Rumores do The Daily Beast dizem que Ferreira se desentendeu com o criador, roteirista e diretor da série, Sam Levinson, sobre os rumos da sua personagem, o que teria culminado em duas ocasiões que a atriz abandonou o set e no corte de uma cena de sexo -- aliás, não faltam especulações sobre o que se desenrolou nos bastidores dessa temporada, este é realmente só um exemplo. Embora essas alegações possam fazer sentido diante da mudança abrupta na jornada da personagem -- e encaixem com a ausência de Ferreira na première --, elas estão longe de serem confirmadas. E, na realidade, dificilmente serão. Ninguém se manifestou sobre o que disseram as fontes. No máximo, Elordi disse à Variety: “estamos todos juntos nessa”, o que, para qualquer wildcat se lê “we’re all in this together”, mas no fundo não expressa nada muito substancial.
Independentemente da razão que levou a isso, fato é que Euphoria saiu prejudicada. Como uma das suas melhores personagens, Kat ajudava a elevar a série com a complexidade e a originalidade da sua jornada -- e, não à toa, a adolescente conquistou boa parte do público. Ao escanteá-la de forma tão explícita, a série fez mais do que só frustrar os fãs. Ela jogou luz na sua falta de traquejo para equilibrar todas as tramas que abriu. Porque, no fundo, Euphoria não deixou brechas para serem tocadas num futuro próximo, mas sim lacunas significativas no seu desenvolvimento. E, por mais bombásticas que tenham sido as histórias destes últimos oito episódios, este é um deslize grave que ninguém pode negar.
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