Euphoria | Sexto episódio insere primeira dose de otimismo na segunda temporada

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Euphoria | Sexto episódio insere primeira dose de otimismo na segunda temporada

Fascinado pela miséria humana, Sam Levinson provoca o espectador com uma ameaça de luz no fim do túnel.

Omelete
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14.02.2022, às 11H38.
Atualizada em 14.02.2022, ÀS 12H38

Antes de Euphoria estrear sua segunda temporada, Zendaya deu algumas entrevistas dizendo que veríamos Rue chegando até o fundo do poço. No episódio 5 esse fundo parece ter se revelado para o público, quando a protagonista enfrentou uma crise de abstinência que a levou até a fronteira da morte. Ou não... Esse é um ponto importante sobre Euphoria como um todo: a série se alimenta da dor e do sofrimento; e precisa disso para que haja material suficiente para transmutar essa miséria em arte visual. É quase como se a série tivesse na sua forma o maior dos spoilers: enquanto estivermos aqui, ninguém vai ser feliz.

[O texto a seguir contém spoilers da segunda temporada de Euphoria]

Contudo, até que ponto podemos continuar travando a evolução dos personagens para um lugar qualquer somente para manter o pesar em pauta? Provavelmente o criador da série se fez a mesma pergunta depois dos cinco episódios que colocaram os personagens de cara com rupturas definitivas. Para onde vamos depois daqui? Rue está em novo processo de desintoxicação, Jules (Hunter Schafer) sabe de toda a verdade, Maddy (Alexa Demie) descobriu as traições de Nate (Jacob Elordi) com Cassie (Sydney Sweeney), e Cal (Eric Dane) saiu do armário e de casa... A série precisava mesmo de um episódio para assentar esse cenário e nos preparar para a reta final.

Ainda assim, é difícil imaginar um ritmo que se aproxime mesmo que levemente do otimismo. Na sequência inicial, com Rue sofrendo duramente os efeitos da desintoxicação, somos levados a desconfiar seriamente do sucesso dessa nova tentativa; não só porque Rue já demonstrou resistência ao tratamento antes, mas porque Euphoria se colocou numa cilada: é quase impossível imaginar a série sem que sua protagonista esteja no mais profundo caos pessoal. Mas, lá está ela, ligando para Ali (Colman Domingo) e buscando alguma espécie de entendimento. Ainda é cedo para julgar esse pequeno vislumbre de luz na personagem. Mas, foi um alívio dramático necessário para que pudéssemos respirar.

Roleta Russa

É evidente que um dos outros reflexos diretos da premissa básica da série é o perigo de andar em círculos. Essa é a grande jornada de Sam Levinson daqui para frente: ser capaz de não aprisionar os personagens nos mesmos comportamentos, enquanto ao mesmo tempo precisa respeitar a essência do que foi estabelecido no começo. Muitas vezes as mudanças acontecem sem controle, seja para a valorização constante de um personagem (como Nate) ou para a negligência completa em outro. Kat (Barbie Ferreira), por exemplo, continua solta nos episódios, aparecendo eventualmente em sequências que em nada somam complexidade à personagem. Kat sempre foi um ponto controverso em Euphoria, com a sexualização de sua imagem se confundindo com autoconfiança. Seu quase desaparecimento esse ano não ajudou a melhorar o quadro. Essa semana ela apareceu em uma cena com Ethan (Austin Abrams) que além de não acrescentar nada, só reforçou a superficialidade com que vem sendo tratada.

O episódio estabeleceu, também, uma curiosa relação entre três mães do elenco. A de Rue, lutando para ajudar na desintoxicação da filha; a de Nate, lidando com tudo que foi revelado sobre o próprio casamento e projetando isso no filho; e a de Cassie, que não tinha absolutamente nenhum controle sobre o pânico e o descontrole da filha, entregue à anulação de si mesma. Cassie berrava, gritava, se contorcia, incapaz de aceitar o fim da amizade com Maddy e o distanciamento de Nate. Em surto, na frente da mãe, ela repetia o ciclo, pautando a própria vida em sua relação com o sexo oposto e ignorando a possibilidade potencial de cometer os mesmos erros. A ida para a casa de Nate no final do episódio foi emblemática. Mas, é Euphoria... O surpreendente seria se o casal desse certo.

Na outra ponta, Maddy arquitetava seus planos de vingança. O erro dela foi ter pensado demais em qual seria a melhor forma de fazer isso. Nate teve tempo de recuperar o DVD numa sequência de intimidação e tortura psicológica impressionante. Além da traição, Maddy foi privada de seu revanche e ainda ganhou mais uma situação traumática com a qual precisa lidar: a Roleta Russa a que foi submetida. Todas as frases de arrependimento que Nate profere nesse episódio se chocam com a forma subversiva com a qual ele vê o mundo. Ele queria devolver o DVD para Jules, mas já esmagou uma outra mulher pelo caminho.

Numa ótima sequência com Samantha (Minka Kelly), na piscina, Maddy teve o confronto com outra perspectiva e isso até poderia tê-la ajudado a entender Cassie, se Nate não a estivesse esperando com um sessão de tortura em seu próprio quarto. Pode ser que a roleta russa tenha traumatizado Maddy até o limite, mas suspeito que ela ainda vai tentar um outro jeito de encontrar sua vingança. Agora, mais que nunca.

Ao final do episódio, quando a família de Rue se reúne à mesa e sorri depois de muito tempo, Levinson insinua que lá no fundo de seu processo criativo existe a compreensão de que aqueles personagens precisam, em algum momento, de paz. Mas, quando Rue se deita para dormir e sua mãe fala ao telefone com aqueles que podem dar à sua filha uma vaga na reabilitação, o roteiro pisa de novo naquela pitada de otimismo que jogara no ar somente alguns segundos antes. É horrível e injusto em todos os níveis... Mesmo que vença o meio, que vença o passado, que vença a si mesma, Rue ainda precisa vencer o sistema. Não é à toa que tantos desistam ou morram. A questão é: será que por conta do DNA da série, esses são os dois únicos caminhos possíveis para ela?

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