Não deve ser fácil ser um produtor de um projeto de sucesso. A cada passo bem sucedido, vem a pressão por continuar no caminho certo e, na mesma toada, aparecem também as oportunidades de engordar a galinha dos ovos de ouro. HQ de sucesso escrita por Robert Kirkman, The Walking Dead estava no lugar certo e na hora certa para abrir caminho para as séries de terror que pululam na TV estadunidense e chegam a respingar até mesmo aqui no Brasil, como se vê em Supermax.
Fear The Walking Dead chegou, então, com a missão de trazer novos ares e possibilidades diferentes da série original, que ainda toma como base os quadrinhos. O seu primeiro ano foi bastante focado na família formada por Travis (Cliffe Curtis) e Maddy (Kim Dickens) e seus filhos vivenciando os primeiros dias do apocalipse zumbi e vendo a derrocada da sociedade como a conhecemos, com o exército bombardeando e destruindo cidades inteiras sem dar explicações aos civis.
Dia de Los Muertos
Passada a temporada inicial que culminou com o grupo fugindo de Los Angeles a bordo de um iate de luxo, o segundo ano teve dois arcos bem diferentes entre si. Ele começou em alto-mar, com novos desafios, tudo bem diferente do que já foi enfrentado por Rick e seus companheiros. Fomos vendo na tela um desfile de novas possibilidades e aprendizados. Passaram por ali até mesmo piratas, mas o mais importante ainda era o fortalecimento dos laços familiares, afinal, como confiar num sobrevivente que você acabou de conhecer?
Com as famílias do primeiro ano já totalmente esfaceladas física e emocionalmente, a segunda parte da segunda temporada tem como grande novidade o território. De forma bastante corajosa, o programa ultrapassou a fronteira do sul dos Estados Unidos em direção ao México e teve várias cenas faladas em espanhol - devidamente legendadas em inglês, para que os raros não-latinos que ainda vivem na América consigam acompanhar a trama.
A língua, porém, acaba sendo a única novidade deste terceiro arco. Ao contrário do que o sétimo episódio, “Grotesque”, prenunciava, o que se viu aqui foi uma repetição de várias ideias já vistas na série original. Fortalezas sendo construídas, grupos sendo formados e milícias se juntando para utilizar armas para subjugar aqueles que nunca haviam feito mal a uma outra alma até que os mortos-vivos surgissem. Nem mesmo a fé dos mexicanos, que têm no “Dia de Los Muertos” uma de suas festas mais características, trouxe algo que realmente entrasse para a história das produções de zumbis.
O futuro
Desde o primeiro episódio, os grupos foram se separando pouco a pouco. Alguns personagens do piloto ficaram pelo caminho, mas - verdade seja dita - com poucas surpresas… pelo menos até o episódio final, quando más escolhas acabam enfim se juntando à fatalidade e com atos que devem reverberar nas próximas temporadas.
Tecnicamente, Fear The Walking Dead se iguala à série matriz. Os cenários em alto mar e no México trazem um ar de novidade e os zumbis continuam lindos - no sentido que um zumbi pode ser lindo, claro. Falta à série derivada, porém, carisma. Passados mais de 20 episódios, já era hora de começar a gostar de alguém, se preocupar com seus destinos. Por enquanto, continuo torcendo pelos zumbis.