Pode parecer uma estranha coincidência, mas Peter Sutherland – personagem de Gabriel Basso em O Agente Noturno – tem um sobrenome que homenageia uma de suas principais inspirações. Em 2001, quando a série 24 Horas estreou, seu sucesso estrondoso provocou uma reação inevitável: Jack Bauer (Kiefer Sutherland) se tornou uma espécie de modelo de características referenciais: o agente solitário, traumatizado, envolvido em conspirações governamentais, corajoso, quase kamikaze.
Por esse caminho passa a nova criação de Shawn Ryan, um showrunner que foi parte importante do começo da Terceira Era de Ouro da Televisão ao colocar Vic Mackey (Michael Chicklis) na galeria de protagonistas sociopatas que Tony Soprano inaugurou. Em The Shield, Vic era um policial corrupto nas ruas de Los Angeles, capaz das maiores atrocidades, mas dedicado aos filhos e aos amigos. Embora não tão popular quanto Família Soprano, The Shield marcou o nome de Shawn como um showrunner que conhece o mundo das autoridades de segurança.
É bem verdade que a linguagem de O Agente Noturno está bem mais próxima de 24 Horas que de The Shield. Na série da Netflix, Peter trabalha ao lado de um telefone cujo número faz parte de uma linha especial e secreta da Casa Branca. O ideal é que esse telefone nunca toque, porque, se ele tocar, isso significa que algo muito ruim está prestes a acontecer. É claro que o telefone toca e, a partir daí, Peter se vê envolvido numa conspiração que está perigosamente atrelada a seu passado.
Gabriel Basso, astro da série, encarou a oportunidade como uma possibilidade de deixar para trás o personagem que viveu em Era Uma Vez Um Sonho (em que atuava como o protagonista em sua fase adulta). “Eu não vi muitos problemas em sair de uma coisa para outra no que diz respeito à atuação. Eu tive que ganhar peso para fazer o filme e usei os dois anos e meio entre esses trabalhos para voltar à forma. Essa parte física acabou sendo mais difícil nessa transição. Os horários, as filmagens, as longas horas... Tudo isso foi muito duro. Quanto ao personagem em si, ele acabou sendo bem mais próximo de mim que J.D”, contou ele ao Omelete.
A série estreou e foi parar imediatamente na primeira posição entre as séries mais vistas no Brasil. O anúncio da segunda temporada veio prontamente. “Tenho algumas ideias sobre o que eu gostaria de ver acontecer”, disse Gabriel na nossa entrevista. “Eu sei que em algum momento eu e Shawn vamos sentar e ter uma conversa a respeito. Mas, eu já posso dizer que espero um aumento na intensidade de tudo que acontece na série”.
Sobre a fama explosiva que a produção lhe trouxe, Basso vê a situação toda com certa hesitação: “É curioso... Nada mudou exatamente pra mim. É muito bom ver a série sendo tão bem recebida, mas é difícil que às vezes pareça que tudo sou eu, já que é o meu rosto que aparece mais. Tem muita gente envolvida nesse trabalho e é estranho que tudo seja colocado em cima de mim”.
Embora O Agente Noturno seja uma produção que lida com a ação e o suspense como essenciais no próprio desenvolvimento, as questões emocionais não podem ser esquecidas. Em Era Uma Vez Um Sonho, Gabriel vivia um jovem desacreditado que era trazido de volta à realidade pelas mãos de uma avó firme e dedicada. Curiosamente, ao ser perguntado sobre que ligação ele gostaria de receber caso tivesse o mesmo trabalho de Peter, o ator deu uma resposta surpreendentemente afetiva: “Meu avô faleceu quando eu era criança... Acho que seria legal receber uma ligação dele. De onde eu vim não existia uma cultura de respeito aos mais velhos quando isso partia dos mais novos. Havia uma certa prepotência de achar que sempre sabíamos mais. Eu acabei não conhecendo bem o meu avô. Adoraria falar com ele e ouvir os ensinamentos que acabaram ficando para trás”.
Enfim, com um segundo ano garantido, O Agente Noturno já tem sua primeira temporada disponível na Netflix. Ação, aventura, reviravoltas, traições, intrigas... A receita é promissora. Vale a sua vigilância noturna.