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Gen V usa a fórmula perfeita para um spin off: mesma atmosfera, pouca repetição

No universo de The Boys, a Universidade Godolkin é um terreno frutífero para drama adolescente

Omelete
4 min de leitura
28.09.2023, às 14H24.
Atualizada em 30.09.2023, ÀS 18H08

O grande charme de The Boys é sua suposição afiada do que seria o planeta Terra se os super-heróis fossem reais. “Humanos” como nós. É uma realidade cruel, mas relativamente crível. Através do sangue e da nojeira, a série construiu um universo de heróis e anti-heróis imperfeitos, que vivem no mundo em que os “supers” são criados por pais, controlados por uma empresa e regidos por ímpetos humanos, tão frequentemente traiçoeiros. Nisso tudo, é claro que o que faz com que The Boys siga brilhante é sua história de camaradagem, seu desenvolvimento de personagem e suas reflexões sociais. Mas seu gancho principal, básico até, é o foco em heróis horríveis. Por toda sua (ótima) complexidade e bom coração, The Boys é The Boys porque se aproveitou da fadiga com o gênero e nos fez nos deliciar com heróis c*zões. “Reais”. 

É isso que faz dos três primeiros episódios de Gen V, lançados de uma vez só no Prime Video nesta semana, tão surpreendentes. A série derivada, focada na Universidade de heróis Godolkin, passou a sua reta inicial estabelecendo protagonistas, mostrando o novo universo e construindo um time. E, por mais que estejamos rodeados de pessoas horríveis (claro), não fomos introduzidos até agora a um super-herói horrível. Essa era a promessa, talvez, de Golden Boy, personagem de Patrick Schwarzenegger. Mas Gen V foge do óbvio para seguir um rumo mais tradicional de séries adolescentes: aqui, os antagonistas são pais e professores, e não necessariamente grandes figuras heróicas. 

É uma fórmula bem perfeita para uma série derivada, inclusive. Gen V usa e abusa das premissas de The Boys sem realmente repetir o caminho da original. Ela simplesmente transpõe as regras de seu universo para a universidade em que jovens aprendem a levar seus poderes a diferentes campos de atuação: seja em Hollywood ou em combate ao crime (as duas únicas opções possíveis, basicamente). Quem lidera a jornada aqui é Marie, que descobriu seus poderes de modo trágico durante a puberdade e logo de cara assassinou seus pais sem querer. Pouco a pouco, conforme conhecemos os poderes dos estudantes, entendemos que cada um deles têm uma triste história de origem também. 

Nesse cenário, é divertido assistir Marie sendo introduzida ao mundo dos heróis em formação muito porque a combinação de um passado sombrio e humilde com um futuro rico e promissor fazem da personagem um tanto imprevisível. Marie é ambiciosa e, ao mesmo tempo, correta; uma estudante que pretende andar na linha, mas na primeira noite burla as regras. Assisti-la traçando seu destino é entender sua hesitação mas torcer pelo bem – até porque, como já bem sabemos, a (agora) franquia de The Boys sempre soube desenvolver personagens com trajetórias pé no chão.

Gen V também tira proveito de seu contexto adolescente não somente para seguir um bom ABC de drama teenager, mas para explorar a jornada de abuso que passa por todo e qualquer herói de seu universo, submetido ao Composto V quando criança por decisão de seus pais. Nesta temática, a série também não fica só na superfície: ela escolhe como foco uma adolescente que precisa se cortar para exercer seu poder. Sua companheira de quarto, Emma, precisa regurgitar para encolher. São temas delicados para explorar, mas Gen V sabe fazer isso com delicadeza e graça. 

Tudo que Gen V usa do universo original é justificado também, e a série toma cuidado para não escorregar em referência sem propósito. Vemos relances de personagens familiares, ouvimos histórias da Rainha Maeve, menções ao Trem-Bala, vemos as consequências dos acontecimentos da Godolkin na Vought. E tudo isso faz sentido. Gen V, pelo menos até agora, demonstrou habilidade em manter o equilíbrio entre personalidade e easter eggs, desenvolvendo seus novos (e ótimos) personagens enquanto encaixa suas jornadas na linha do tempo que The Boys está agora — nos lembrando, de modo comedido, que descobrimos a verdade por trás do Composto V, que existem vagas abertas nos Sete e que Homelander está enfrentando acusações em tribunal.  

Gen V se estabelece na formação de uma ótima equipe, criando bons coadjuvantes para acompanhar Marie em sua jornada, e definindo um bom mistério a ser desvendado durante sua temporada, que promete investigar a sinistra organização que opera no subterrâneo da universidade. Enquanto tudo isso é divertido de acompanhar — e é feito com um humor característico de The Boys e a tradicional trilha sonora certeira —, o único revés de Gen V é, talvez, tirar o brilho da singularidade da sua série original.

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