Grace and Frankie estreou na Netflix em 2015 com uma proposta diferente: mostrar os conflitos da velhice. Existem vários filmes e séries que mostram as dificuldades da adolescência e da vida adulta, mas poucas obras exploram os dilemas dos idosos que, na verdade, são bem parecidos com os de todas as pessoas. Em sua quarta temporada, já disponível no serviço de streaming, a série faz um retorno importante às suas origens e corrige erros complicados de seu terceiro ano.
Na primeira temporada, o seriado estabeleceu o conflito de personalidades como a linha narrativa para contar a história de suas protagonistas. Grace é a clássica mulher bem resolvida e elegante, enquanto Frankie é cheia de manias e excentricidades. Enquanto elas começam a viver juntas e gradativamente se tornam amigas, Sol e Robert (os ex-maridos das duas que assumiram que são homossexuais e estão apaixonados) começam a viver sua bela história de amor. Sol tem um espírito livre, enquanto Robert é mais conservador, e a diferença entre os dois também é pontuada em vários episódios.
O que a quarta temporada de Grace and Frankie faz de forma competente é pegar todos esses conceitos e elevá-los a um novo patamar. Mais confortáveis do que nunca em seus papéis, Martin Sheen (Robert) e Sam Waterston (Sol) têm dilemas gravíssimos em seu relacionamento. Por mais que eles se amem, e tenham lutado muito por isso, há uma necessidade de se adequar aos desejos um do outro, como acontece com todos os casais. A diferença é que estamos falando de dois homens idosos e experientes, que já possuem formas definidas de encarar a vida. É muito mais difícil ceder nessas circunstâncias. A atuação da dupla é o ponto alto de todas as cenas, que consegue brigar e demonstrar amor ao mesmo tempo. Os resultados são ótimas lições de convivência, que valem para as pessoas de todas as idades.
As grandes atuações também são entregues por Lily Tomlin e Jane Fonda, que vivem as protagonistas. Frankie, que de uma personagem querida por suas particularidades nos primeiros anos, tinha se tornado praticamente uma caricatura de si mesma - exagerada, chata e mimada - ganha na quarta temporada um tipo de redenção. Já no segundo episódio ela mostra o que a torna tão única. Em uma conversa com seu companheiro Jacob (Ernie Hudson), Frankie fala sobre sua nova vida e mostra como ninguém precisa se acostumar ou se sentir forçado a nada. O que cada pessoa precisa fazer é viver sua verdade, seja ela mudar de vida, de relacionamento, ou até mesmo voltar às origens.
Ironicamente, a qualidade do quarteto principal prejudica por contraste o núcleo dos filhos, composto por Brooklyn Decker (Mallory), June Diane Raphael (Brianna), Ethan Embry (Coyote) e Baron Vaughn (Bud). Desde a segunda temporada, quando as histórias dos pais foram desenvolvidas e seguiram em frente, a série deu mais destaque para os conflitos dos herdeiros, com o objetivo de abrir novas possibilidades narrativas. Infelizmente, nem todas são boas. Bud, por exemplo, é o personagem mais deslocado. Embora tenha conseguido destaque com o envolvimento com Allison (Lindsey Kraft), o filho de Frankie e Sol não tem uma personalidade desenvolvida, sendo reduzido a um tipo de “voz da sabedoria” da família, embora também tenha seus momentos excêntricos. Talvez em outra série seu papel pudesse ser melhor, mas com grandes nomes comandando o seriado, sua presença faz pouca diferença. Coyote e Mallory são mais complexos, embora tenham menos tempo de tela, e o destaque do núcleo realmente é Brianna, que tem um carisma único e mostra suas motivações de forma natural e convincente.
Enquanto isso, o grande conflito de Grace (Jane Fonda) na quarta temporada é finalmente assumir os problemas que chegam com a idade avançada. Ela jamais pensou que precisaria de ajuda para coisas simples, como se locomover, e tudo isso se torna ainda mais difícil por causa de seu envolvimento com Nick (Peter Gallagher, conhecido como o Sandy Cohen de The O.C.), que é mais novo e para quem Grace não quer demonstrar nenhuma fraqueza. Embora essa seja uma discussão de todos os quatro protagonistas, ela cresce com Grace por conta de sua personalidade: criadora de duas empresas, ela é uma líder em sua vida e jamais quis se ver em uma posição que considera “menor”. Em muitos momentos, isso é mostrado com uma pitada de humor, mas o talento de Fonda acentua que há um profundo drama por trás disso.
Esse tipo de conflito, que também remete aos primeiros anos do seriado, faz de Grace and Frankie uma série poderosa e revela seu verdadeiro tema: respeito. Nos olhares de Jane Fonda, Lily Tomlin, Sam Waterston e Martin Sheen vemos todos os medos que a idade avançada traz, principalmente os de se tornar um fardo para a família, não ser mais independente e ser maltratado após cuidar dos filhos por tantos anos. É exatamente por esses medos que a sequência de fuga do último episódio é libertadora. Como em vários outros momentos, Grace e Frankie enfrentam tudo em prol do que desejam para suas vidas e é impossível não abrir um sorriso ao ver o êxito da dupla. Já a melancolia da cena final aponta que a série começa a caminhar para seu fim, um movimento importante para evitar um desgaste ou se tornar – novamente – uma caricatura de si mesma. De qualquer forma, Grace and Frankie é capaz de falar de temas importantes com um humor e uma delicadeza difíceis de encontrar.
Criado por: Howard J. Morris, Marta Kauffman
Duração: 5 temporadas