Grey's Anatomy | 10 momentos inesquecíveis de Meredith Grey

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Grey's Anatomy | 10 momentos inesquecíveis de Meredith Grey

Com a saída de Ellen Pompeo do elenco fixo, Grey’s Anatomy diz adeus para Meredith Grey

Omelete
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27.02.2023, às 14H03.

Depois de 19 temporadas parecia impossível que a grande ameaça em torno de Grey’s Anatomy fosse se concretizar. Mas, aconteceu. Ellen Pompeo desgarrou-se da série e, na última semana, o público se despediu de Meredith em um episódio especial. Há muito tempo que além dela, os últimos dois originais – Richard (James Pickens Jr) e Bailey (Chandra Wilson) – também perderam tempo de tela e ocuparam uma função decorativa que parece ser responsável apenas por manter a audiência mais fiel sintonizada. 

Ainda temos personagens que estão há muito tempo no ar, como Teddy (Kim Raver), Owen (Kevin McKidd) e Jo (Camilla Luddington). Mas, o que estamos vivendo em Grey’s Anatomy é um processo de clara transição completa de elenco. Para a décima nona temporada, a showrunner Krista Vernoff apresentou um elenco totalmente novo, com uma dinâmica jovem que emula praticamente todo o elenco original e que será – provavelmente – o que os produtores entendem como o futuro da série. 

Sem a protagonista (que está até no título), o público pode se preparar para uma condução de tramas que vai “lembrar” o passado, mas que, ainda assim, precisa de readaptação. A saída de Meredith acaba com uma parte grande do espírito da produção, encerra a nossa relação de apego com sua história de sobrevivência e força; e faz com que se apague definitivamente a última fagulha de interesse de boa parte da audiência. Grey’s era Meredith Grey... E aqui estão alguns dos momentos inesquecíveis que provam esse ponto. 

Meredith e o Seatle Grace

Era 27 de Março de 2005 e a primeira temporada de Grey’s Anatomy estreava no que a gente chama de “midseason”. O termo se refere a tudo que vai ao ar durante o período em que a maioria dos grandes sucessos entra em hiato (período esse que compreende o primeiro semestre do ano). Estrear nesses meses representa duas coisas: ou a série está tapando um buraco e não vai para frente ou ela está sendo testada. Considerando que a segunda temporada da série estreou nesse mesmo ano de 2005, encaixada na “fall season” (período em que todas as produções importantes recomeçam), é de se imaginar que mesmo que o canal não tenha levado fé, a série funcionou. 

É impossível não lembrar de Meredith chegando ao Seatle Grace, entrando na sala de cirurgia com os colegas, escondendo o peso de seu sobrenome e se envolvendo com um médico atendente sem saber que ele seria seu chefe. O mais importante a respeito desse começo é que para os padrões de 2005, Meredith não era a “mocinha” mais politicamente correta. Em poucos episódios já foi possível identificar seu cinismo, sua ironia constante, sua assepsia afetiva... Ela não era romântica, otimista e muito menos exuberante. Demorou até o público entender e abraçar essas características, mas Shonda Rhimes acertou em cheio ao preferir que Meredith fosse mais real que ideal. 

Meredith é a “minha pessoa”

Foi no primeiro episódio da segunda temporada que Meredith e Christina (Sandra Oh) trocaram a famosa frase “You’re My Person” (Você é a minha Pessoa). Naquele momento, parecia que aquele era o início de uma amizade comum entre personagens femininas de uma dramaturgia. Mas, de fato, a relação entre Meredith e Christina talvez seja uma das mais sólidas do mundo das séries... e das mais incomuns também. 

Se Meredith já não era muito adepta das demonstrações de afeto, Christina era ainda menos. Ambiciosa, focada, muitas vezes até maldosa. Não havia combinação mais harmoniosa para ambas. Elas estariam ali uma pela outra, sempre. Mas, havia um imenso charme na maneira pouco emocional como elas demonstravam o afeto uma pela outra. Durante todos os anos em que Christina permaneceu na série, nunca importou com quem elas estavam tendo relacionamentos amorosos e sim o quão divertidas elas eram juntas. De certa forma, a saída de Christina acabou sendo importante, porque foi a partir dali que Meredith começou o caminho para seu verdadeiro protagonismo. 

Meredith é filha de quem é

Uma grande parte da identidade de Meredith na série diz respeito ao seu sobrenome. Ela já chega ao Seatle Grace (enquanto ele ainda tinha esse nome) sob o estresse de ser filha de Ellis Grey (Kate Burton), uma das médicas mais respeitadas dos EUA. É claro que como boa descendente de uma lenda, Meredith não quer ser tratada de maneira diferente por ser filha de quem é. Logo sua genialidade começa a se desenvolver pouco a pouco, além de sua impressionante capacidade de ser rebelde e transgressora. Se esconder, então, vai ficando mais e mais difícil. 

A primeira vez em que percebemos o tamanho de sua transgressão foi na segunda temporada, no episódio 17, exibido logo após o Super Bowl, quando uma ameaça de bomba adentrou o hospital de uma forma muito curiosa: dentro do homem que acidentalmente recebeu um tiro de bazooka. Meredith é quem acaba segurando a bomba dentro do homem e fica impedida de retirar as mãos sob o risco de uma explosão. Todos se retiram da cena, o hospital é evacuado, mas Meredith permanece. O episódio ficou conhecido por ter tido a coragem de fazer a bomba explodir, mas também demarcou exatamente o momento em que Meredith passou a ser uma personagem também trágica e cheia de traumas. 

Meredith 007

Também podemos dizer que um dos efeitos colaterais do sucesso do episódio com a bomba foi a forma como Shonda Rhimes passou a alimentar a ideia de surpreender o público com tragédias e mortes inesperadas. Até o final do quinto ano, o elenco se manteve praticamente intacto. Isaiah Washington foi demitido, mas seu personagem não morreu na trama. Denny Duquete (Jeffrey Dean Morgan) foi uma perda trágica, mas ele não era do elenco fixo. De fato, até a morte de George (TR Knight), o massacre de personagens ainda não existia. 

O’Malley se despediu da série ainda no final da quinta temporada. Quando ele reaparece, no primeiro episódio da sexta, já é numa versão irreconhecível, que Meredith só descobre se tratar dele através do desenho dos números 007 na palma da mão. Esse foi outro momento importante para a protagonista porque, a partir dali, praticamente todas as pessoas que morreram na série tinham uma ligação direta com ela, transformando Meredith numa pessoa que experimentou a perda mais que qualquer outra. 

Meredith (ainda) tem família

A lista de parentes que apareceram na vida de Meredith é impressionante... A lista de parentes que ela perdeu é igualmente incrível. A mãe dela reapareceu na terceira temporada e morreu logo em seguida. Lexie (Chyler Leigh), sua meio-irmã por parte de pai, veio para ser um necessário vínculo de Grey com ao menos uma parte de sua família. Contudo, na nona temporada, tanto Chyler quando Eric Dane – que vivia Mark Sloan – pediram para sair e Shonda Rhimes resolveu matar os dois personagens num absurdo acidente de avião. 

Logo depois disso, Meredith ainda perdeu o marido na décima primeira temporada e o pai na décima quinta. Recentemente, mesmo já tendo terminado o relacionamento com Deluca (Giacomo Giannotti), Meredith também viu o ex-namorado morrer. Há alguns anos que Krista Vernoff (a showrunner que toma conta da série há muito tempo) constrói uma relação familiar entre Meredith e a outra meio-irmã Maggie (Kelly McCreary); junto também com a cunhada Amelia (Caterina Scorsone). A personalidade de Grey foi bastante afetada por essa quantidade inacreditável de perdas que serviram – ao mesmo tempo – para amadurecer a maneira como a personagem preservou as relações que lhe sobraram. 

Meredith e Zola

Tudo bem que quem olhou primeiro para Zola (Aniela Gumbs) foi Derek (Patrick Dempsey), mas de fato, quem construiu uma relação de verdade com a menina foi Meredith; sendo essa relação, até hoje, um norteador das decisões da protagonista. Zola foi parte importante dos acontecimentos que levaram Grey para fora de Seatle e também foi a única filha do casal Meredith e Derek que teve algum desenvolvimento na trama da série. 

Zola apareceu pela primeira vez na sétima temporada, como um dos casos dos quais Alex (Justin Chambers) cuidava. Derek e Meredith se apaixonaram pela menina e começaram o processo para adotá-la, ao mesmo tempo em que Grey enfrentava uma série de acusações relacionadas à ética profissional. A adoção se arrastou até o ano seguinte, mas na metade da oitava temporada, Zola se tornou oficialmente uma Grey. O desenvolvimento da maternidade de Meredith a partir da adoção de uma criança preta resultou em bons diálogos e serviu para continuar pavimentando discussões que Shonda Rhimes queria promover e que precisavam de espaço no meio de todo o drama romântico que era uma exigência do gênero. 

Meredith é o Sol

Na sua brilhante partida do Grey Sloan Memorial, Christina Yang disse para Meredith que ela não devia continuar à sombra de Derek, porque ela “era o sol”. Foi uma fala importante, que com a saída de Dempsey um ano depois, se revelou decisiva para uma coisa que precisava acontecer dentro e fora de cena: Meredith ser MESMO a protagonista. Ellen ser MESMO a dona do show. 

Quando o elenco de Grey’s estava sendo escalado, Patrick Dempsey era uma lembrança viva dos anos 80, um ator sem experiência de astro, mas o único rosto realmente famoso. Consequentemente, ainda que a série tivesse o nome da personagem de Ellen, Dempsey ganhava mais e tinha o tratamento de protagonista. E foi assim por muito e muito tempo. Demorou até que o público também percebesse a estranheza dessa situação e realizasse o que sempre esteve ali: uma certa antipatia pelo personagem do ator, fruto de uma situação dentro da cena que também se refletia fora dela. Enquanto Meredith estava com Derek, ela nunca foi desenvolvida plenamente. 

Após Patrick e Derek partirem, Ellen tomou as rédeas da situação, assinou um contrato milionário, se tornou produtora, se impôs e fez de sua presença em Grey’s Anatomy o trunfo derradeiro. Ela era mais necessária que ele há muito tempo, mas a cultura em Hollywood ainda precisava mudar. Ainda que Meredith tenha passado muito tempo sendo acusada de ser “a chata da série”, Ellen mudou esse cenário completamente e lá pelo sétimo ano já tinha começado a convencer o mundo de que ninguém era mais importante que Grey. Afinal,  a anatomia era dela. Era ela quem estava sendo descrita, revelada. Ela era o sol. 

Meredith sobrevive

Se não bastasse todas as vezes em que perdeu pessoas, Meredith também é uma sobrevivente de um sortilégio de situações de quase morte de cair o queixo de qualquer um. É uma quantidade tão grande que chegamos a pensar no que realmente teria acontecido com essa pessoa se ela fosse real. Meredith escapou da morte um monte de vezes, provando ser capaz de superar tudo, mas colecionando memórias de dor e pesar.

Na segunda temporada ela quase explodiu junto com a bomba que já mencionamos nesse texto. Na terceira temporada ela se afogou num acidente com a balsa da cidade. Na sexta temporada ela escapou por pouco do tiroteio do hospital. Na oitava temporada escapou de novo no acidente de avião. Na décima segunda temporada ela foi espancada quase até a morte e na décima sétima chegou tão perto do fim ao contrair Covid, que reencontrou amigos e parentes mortos no limbo... 

Esperamos que agora ela tenha conseguido encontrar paz. 

Meredith ama

Após a morte de Derek na temporada 11, Meredith demorou até começar a construir outra relação amorosa. Krista Vernoff tentou, sem sucesso, emplacar outros romances para a personagem no decorrer dos anos. Entre os mais marcantes estão Riggs (Martin Henderson), Hayes (Richard Flood) e o próprio Deluca. Deluca foi o mais efetivo em termos de envolvimento e duração, uma vez que Riggs e Hayes ficaram sempre no campo da promessa e foram bastante subdesenvolvidos. 

É possível entender que os roteiristas sempre se debruçavam na ideia de que Meredith precisava ter relações amorosas para que eles não transmitissem a ideia errada de que uma mulher poderosa e mais velha não poderia ser amada ou ter uma vida sexual. Entretanto, foram os próprios roteiristas que falharam constantemente na missão de tornar esses relacionamentos importantes e carismáticos. No fim das contas, eles acabaram sendo esquecíveis. Inclusive o atual, com Nick Marsh (Scott Speedman). 

Meredith se liberta

E eis que 19 temporadas depois, Meredith finalmente foi liberada para dizer adeus. Desde a temporada 17, a da pandemia, sua participação já vinha sendo gradativamente reduzida e embora suas histórias profissionais continuassem sendo interessantes, tanto ela quanto os outros personagens mais antigos já pareciam fantasmas andando pelos corredores do hospital. 

Por alguma razão bizarra, Krista Vernoff achou que seria interessante provocar um incêndio na casa de Meredith para destruir, literalmente, os registros de sua vida. O incêndio funciona como outra perda, na lista imensa que ela já tem, mas faz parte de um episódio final frio, moroso e sem emoção. Outra tentativa de choque gratuita. 

Ellen já declarou que fará participações esporádicas, mas só podemos desejar que ela tenha a folga que merece. Foi lamentável que sua partida tenha sido tratada sem a grandiosidade que lhe seria justa. Mesmo assim, a saída de Meredith de Grey’s Anatomy precisa ser celebrada. Ellen está livre, Meredith está livre. Agora essa mulher precisa de sossego... de calmaria. Ela foi importantíssima na vida de todos nós; e somos gratos imensamente por esses anos todos juntos. Foi inesquecível... Foi incomparável. 

Agora vai viver, Mer. Vai ser feliz. Você merece. 

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