Há algum tempo His Dark Materials indica que sua história é mais profunda e dura do que parece. Por trás de um mundo fantástico habitado por ursos de armadura e daemons, a trama de Fronteiras do Universo sempre se destacou por mostrar até onde a humanidade é capaz de ir em prol de “livrar crianças do pecado”. Isso é elevado à máxima potência em “The Daemon Cages”, que conta com um grande clímax em Bonvalgar.
[Spoilers de “The Daemon Cages”]
O capítulo começa com Lyra presa em Bolvangar. Ela encontra as outras crianças que estão lá, incluindo Roger, e percebe rapidamente que elas estão assustadas e tentam não fazer muito contato. A jovem passa por testes feitos pelo Dr. Rendal (Amit Shah), que garante que aquilo é para o seu bem. Ainda que não pareça 100% à vontade no papel, Dafne Keen aparece bem em tais cenas, principalmente quando engana os adultos ao seu redor e se mostra como uma garota inocente, que não sabe o que está acontecendo.
Bolvangar é mostrado como um local frio, com iluminação azulada e nenhum sinal de afeto. É nessa realidade que Lyra e Roger encontram crianças que sobreviveram à intercisão (o corte entre elas e seus daemons). Se antes aqueles jovens demonstravam sentimentos como animação, felicidade e até medo, agora eles são seres que vivem à deriva, sem pensamentos próprios. His Dark Materials mostra diretamente o que o Magisterium está fazendo com as crianças. Além dos jovens sem vida no olhar e dos daemons fracos em suas gaiolas, a série mostra uma guilhotina e, em um dos diálogos, a responsável pelo local afirma que agora as crianças ficam acordadas durante o procedimento, algo que “dá resultados positivos”.
Se até aqui a série deixou seus paralelos na segunda camada, agora eles ficam claros: o Magisterium literalmente corta os daemons das crianças, para evitar seus crescimentos, a chegada do Pó em suas vidas e, por consequência, o livre arbítrio. O objetivo de tal “castração” é, de fato, controle, para que as crianças saibam apenas o que o Magisterium quer e se comportem da “forma correta”. É impossível não fazer paralelos de tal trama com a realidade, especialmente de religiões e regimes totalitários que ainda existem em 2019. His Dark Materials mostra isso de forma visceral e deixa o público com medo e angústia.
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O clímax físico acontece com a chegada dos gípcios e Iorek a Bonvalgar. Ao contrário do que foi mostrado no filme de 2007, a luta aqui é crua, e não apenas com o urso gigante de armadura, mas também com o povo liderado por John Faa (Lucian Msamati), tomado de ódio pelo que foi feito com as crianças. No entanto, é após o conflito que os gípcios mostram porque são tão especiais. A visão daquele grupo de crianças sem daemons é estranha aos olhos deles e alguns até questionam se suas famílias às aceitarão de volta daquela forma. É realmente difícil aceitar algo que é diferente, mas Ma Costa (Anne-Marie Duff) diz que eles podem se tornar gípcios caso não tenham para onde ir. Além de grandes lutadores, o grupo também mostra que tem um grande coração.
Há ainda dois pontos que merecem destaque. O primeiro é a grande sequência com Lyra e a Sra. Coulter (Ruth Wilson). Ao ver os gritos de sua filha dentro da máquina de intercisão, Marisa se desespera e a salva, querendo mostrar que tem carinho por aquela criança. A cena com as duas é interessante e a “vilã” se mostra vulnerável pela primeira vez ao explicar por qual motivo não criou Lyra. Há lágrimas que parecem verdadeiras neste momento e isso torna Coulter ainda mais interessante de acompanhar. Do outro lado, porém, Lyra só sente ódio e o grito das duas separadas por uma porta mostra o quanto elas são parecidas. A jovem também tem raiva dentro de si, mas sua forma de agir é diferente de Coulter. Lyra sabe que jamais seria tocada em Bolvangar após o acolhimento de Marisa, mas a garota não se preocupa só com sua segurança: ela jamais estará feliz se souber que pôde ajudar os outros e não o fez.
O segundo ponto é a participação de Ruta Gedmintas como Serafina Pekkala. A bruxa aparece pouco, mas sua chegada na batalha final é, no mínimo, impressionante. Ela se move com uma velocidade incrível e ajuda os gípcios de um modo que somente ela conseguiria. Sua conversa final com Lee (Lin-Manuel Miranda) também transmite a sabedoria das bruxas, quando ela cita a importância de Lyra para tudo o que está acontecendo. Pena que essa sequência de um ótimo diálogo com Miranda termine com um “gancho falso”. Ainda que His Dark Materials tenha seus perigos reais, é claro que Lyra não morreria daquela forma. A queda em si não incomoda tanto, mas seu uso para encerrar o episódio é desnecessário.
Isso, no entanto, não tira o brilho de uma série que está entregando uma incrível primeira temporada. Fica agora a expectativa que o grande público conheça His Dark Materials e discuta seus temas. “The Fight to the Death”, penúltimo episódio, vai ao ar em 16 de dezembro na HBO.
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