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Crítica

House of Cards - 4ª Temporada | Crítica

Focado no casal Underwood, e só neles, a série da Netflix é uma das melhores coisas da cultura pop atual

08.03.2016, às 10H18.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

House of Cards traçou a trajetória do casal Underwood com suspense e pitadas de espionagem ao longo de três temporadas. Durante os quase 40 episódios, a série da Netflix mudou o foco da trama algumas vezes, trazendo para os holofotes alguns coadjuvantes que não seguraram a história como as estrelas, Frank (Kevin Spacey) e Claire (Robin Wright). No quarto ano, esses altos e baixos somem e todos os causos dentro da Casa Branca se tornam um conto de horror que supera até a temporada de estreia.

Quase todos os elementos sugeridos ao longo da temporada são executados com primazia - da repentina e inédita fraqueza de Frank até o romance sincero e adúltero de Claire, nada soa sem propósito ou fora de contexto. Econômico como nunca, o seriado flerta com um terror psicológico factual e moderno e supera as todas as calamidades anteriores. O tom sereno das falas de Claire e Frank transmitem a psicopatia do casal, que em uma mistura de ganância e vingança faz o espectador identificar na ficção traços de uma realidade bem próxima.

O grande trunfo desta temporada é o ritmo com o roteiro divide a campanha pela presidência e o governo de Underwood. Ao mesmo tempo que precisa levar o país para frente, ele se preocupa em vencer a eleição dentro de alguns meses. A mescla destes dois arcos é feita com um equilíbrio perfeito, dando espaço para que Claire ganha uma importância ainda maior e complemente o vazio deixado nos outros anos, quando ela, apesar de ser primeira dama, só aspirava a ser uma protagonista. Aqui, ela não só está à altura de Frank, como carrega boa parte da história nas costas.

Ao lado disso, os coadjuvantes encaixam na história sem chamar atenção - o que é perfeito. Remy (Mahershala Ali), Hammerschmidt (Boris McGiver), Dunbar (Elizabeth Marvel), Goodwin (Sebastian Arcelus) e Doug (Michael Kelly) são os companheiros perfeitos de trama. Personagens compostos para aflorar características dos protagonistas e acionar gatilhos que evoluem o roteiro. Em outros tempos, metade dessas pessoas disputaram espaço com os Underwood, o que fez a série desviar o foco - este ano ficou provado que a receita do sucesso não é essa. House of Cards funciona como um time de futebol com dois craques, pois a vitória vem quando os outros nove jogadores decidem se sacrificar pelos dois melhores - no caso, Kevin Spacey e Robin Wright.

Não é como se ambos já não tivessem entregado performances excelentes. A diferença principal é a quantidade de momentos distintos que os personagens passam, exigindo assim uma atuação mais complexa e menos caricata do casal. Na última metade dos episódios, os dois assumem o manto dos vilões tradicionais, fotografados sempre na penumbra, com maquiagem que enaltece rugas e o olhar sem alma. Seja na Casa Branca (onde Claire tem ótimo diálogo com a mulher de Conway [Dominique McElligott]) ou no Salão Oval (onde Frank tem um surto psicótico com Cathy Durant [Jayne Atkinson]), os recintos de House of Cards aos poucos viram calabouços com ar digno da repressão medieval.

O contra ponto perfeito para os Underwood é Will Conway, jovem republicano interpretado por Joel Kinnaman. Usuário de redes sociais, casado com uma inglesa e pai de dois filhos, o político é a versão moderna de Frank. Usa de todos os artifícios possíveis para chegar ao poder, sem esquecer da importância da própria imagem. Com ele em cena, a vilania dos protagonistas fica mais evidente e torna o jogo de poder tão impactante quanto visto na primeira temporada. Ele, ao lado de toda família e staff Conway, é a adição perfeita ao terceiro ato de House of Cards, que envereda de uma vez por todas para um conto moderno de política e terror.

Transformar os trâmites do governo americano em uma tragédia parece banal devido à quantidade de histórias obscuras que envolvem os EUA. House of Cards, porém, torna essa façanha algo louvável por não descaracterizar seus protagonistas ao torná-los tão vilanescos quanto monstros vindos de fantasia. O cuidado técnico do seriado aumenta essa capacidade do roteiro, que toca em temas atuais sem soar datado e faz inúmeras alusões a política contemporânea sem parecer presunçoso. A história de horror em House of Cards assusta pela proximidade com a situação atual do mundo, e principalmente por seus personagens que passeiam entre a ficção e a realidade sem causar no espectador o desconforto de ser uma caricatura de políticos de carne e osso.

Nota do Crítico
Ótimo

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