Com brasileiros, Jogo da Corrupção retrata trajetória de João Havelange na Fifa

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Com brasileiros, Jogo da Corrupção retrata trajetória de João Havelange na Fifa

Criador e elenco estiveram no Rio para divulgar série do Prime Video

Omelete
6 min de leitura
08.11.2022, às 10H38.

Contrariando a máxima de que em time que está ganhando não se mexe, a série El Presidente aposta em muitas novidades para sua segunda temporada: Jogo da Corrupção traz novos personagens para contar mais uma história envolvendo corrupção e futebol, desta vez com o ex-presidente da Fifa João Havelange (vivido pelo português Albano Jerónimo) no centro da narrativa. A produção, criada pelo argentino Armando Bó, tem atores brasileiros, como Eduardo Moscovis e Maria Fernanda Cândido, além dos cineastas Daniel Rezende e Daniela Thomas na direção de alguns episódios.

Bó e parte do elenco estiveram no Brasil em outubro, para a pré-estreia da série no Festival do Rio, e conversaram com o Omelete sobre a temporada. Se o primeiro ano narrou o “Fifagate”, que estourou em 2015 e ficou conhecido como o maior escândalo de corrupção da história do futebol mundial, a segunda leva de episódios cobre parte do mandato de Havelange na Fifa - o dirigente, que morreu em 2016, aos 100 anos, esteve à frente da federação de 1974 a 1998. 

Para o showrunner, o brasileiro transformou o esporte em uma máquina lucrativa ao aprender a “usar a política para entrar no mundo do futebol e a usar o marketing para explorar algo que é a paixão de multidões”. “Não se trata mais só de um negócio, mas de como o dinheiro pode corromper qualquer coisa”, explica o argentino sobre a trama. 

Isso não quer dizer, no entanto, que a ficção se limite a retratar eventos reais. “Tem coisas muito importantes que alguém poderia procurar no Google e que precisam ser reais... Datas, lugares, as coisas grandes. Mas a série não busca ser a realidade, busca rir da realidade, é uma paródia. Então, para buscar o humor, eu e os outros roteiristas - além dos atores, da edição, da música - trabalhamos para que seja algo mais engraçado que o real”, diz Bó, premiado com um Oscar pelo roteiro de Birdman, que foi coescrito com Alejandro G. Iñárritu, Alexander Dinelaris Jr. e Nicolás Giacobone.

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Intérprete de Havelange, Albano Jerónimo surge irreconhecível em cena, graças ao trabalho de caracterização que levava, em média, três horas por dia. Segundo ele, o mergulho no personagem envolveu muita pesquisa sobre a biografia do dirigente, mas também o exercício de enxergar além da figura célebre das manchetes do noticiário.

“O que eu conhecia era: presidente da Fifa por 23 anos, primeiro sul-americano, ‘Fifagate’,  corrupção, blá blá blá. Mas fomos tirando essas capas, escavamos e chegamos a alguém frágil, que teve um sonho de criar uma Fifa de futuro e conseguiu, transformou o futebol como a gente conhece hoje, que deixou de ser esporte e é mais negócio”, conta o ator português, em um digno sotaque brasileiro. “É fácil fazer o durão, o manda-chuva, mas a ideia era fazer o oposto: alguém que começa lá embaixo, começa a subir, consegue chegar a um lugar de poder. E como esse jogo da corrupção pode se tornar visível, com a fragilidade de alguém que quer subir na vida.”

Menos familiarizada que o colega com o universo do futebol, Maria Fernanda afirma que chegou a ficar reticente ao receber o convite para o projeto, mas garante que se apaixonou por sua personagem assim que leu a cena do teste. A atriz vive Anna Maria, esposa de Havelange, uma mulher que, segundo ela, não tem vida própria e existe em torno do marido, mas que começa a buscar sua independência.

“Ela vai colocar em xeque esse casamento, ter um amante, entrar em conflito com as questões religiosas. E a libertação de todo esse julgamento moral, dessas regras sociais, não é uma coisa fácil de ser feita, é bem doloroso em certos momentos. São muitas reviravoltas, e todos esses altos e baixos vão fazer com que ela saia daquela bolha de cristal que ela morava e que vá entrar em contato com o mundo, as pessoas e consigo mesma. Ela vai acabar dando voz a muitas mulheres, vai representar um pouco tantas de nós”, acredita.

Gravações no auge da pandemia

E a primeira experiência de Maria Fernanda numa obra concebida para o streaming foi intensa, já que a produção foi gravada em outro país e em meio à pandemia de Covid-19, que afetou seriamente o setor audiovisual em todo o mundo. “A gente se sente muito sobrevivente quando olha pra trás e vê tudo que a gente viveu, a dificuldade que foi todo mundo morar no Uruguai. Não podíamos fazer as idas e vindas, como normalmente os atores fazem. A gente tinha muita restrição, muitos protocolos. Então foi muito desafiador. Foi um trabalho que marcou por tudo isso”, afirma.

O convívio com membros da equipe oriundos de diferentes lugares durante as filmagens também impressionou Eduardo Moscovis, que dá vida ao bicheiro Castor de Andrade na atração. “Foi lindo passar quatro meses lá. A série conta 15 anos da história do Havelange, então chegavam muitos atores e artistas de outros países: argentinos, japoneses, franceses. E essa possibilidade que a gente teve de troca, no auge da pandemia, foi incrível, uma experiência arrebatadora.”

O brasileiro não tem semelhanças físicas com o Castor da vida real, presente no imaginário carioca também por sua ligação com o futebol e o samba, como patrono do Bangu Atlético Clube e da escola Mocidade Independente de Padre Miguel, ambos da Zona Oeste do Rio. Por isso, o intérprete buscou outro tipo de conexão para captar “sua essência”: recorreu à memória e ao universo do dramaturgo Nelson Rodrigues.

“Ele é um cara suburbano, que fica à margem, mas que descobre uma forma de se posicionar e se ‘infiltrar’ numa alta sociedade e ser bem recebido. Um cara que não tem uma rejeição absurda a partir do que ele faz, muito pelo contrário: é um cara muito aceito apesar disso”, analisa Moscovis, que reforça a contribuição do figurino para a composição do bicheiro.

Enquanto os colegas construíam seus personagens do zero, o colombiano Andrés Parra enfrentou um desafio diferente em seu retorno à série. Antes o centro do escândalo, o ex-presidente da Federação Chilena de Futebol Sergio Jadue agora é o narrador da história e responsável por boa parte das cenas cômicas da atração - inclusive quando deixa de narrar e reage aos acontecimentos ou quando lida com os próprios conflitos.

“É como um experimento. Não acho que isso tenha sido feito antes, que se tomem tantas liberdades. É um pouco delirante tudo que acontece com o narrador, que foi protagonista na primeira temporada e nesta está presente, mas entra e sai. Acho que as pessoas gostam do diferente. É uma aposta arriscada e acredito que funciona”, diz ele, que improvisou bastante e foi ganhando novas cenas por seu desempenho no set.

Bó explica que parte da graça vem justamente de Jadue não ser um narrador profissional e “corromper” a história do atual protagonista. “O maior pesadelo de Havelange é que alguém como Jadue conte sua história. Ele gostaria que Sócrates ou Shakespeare a contassem, não alguém corrupto e pequeno da América Latina”, brinca o criador da série.

Para Malu Miranda, Head de Conteúdo Original para o Brasil do Amazon Studios, o excelente timing da estreia, às vésperas do próximo Mundial, é motivo de comemoração. “Poder lançar essa série no Brasil duas semanas antes da Copa do Mundo, justamente no Catar, que é citada na primeira temporada, com toda a sua polêmica, é incrível, e isso você nunca pode controlar. É um pouco o universo conspirando”, diz ela, que ainda não dá certeza sobre uma possível terceira temporada, mas garante que a produção tem fôlego para isso. “A gente ainda tem muita história pra contar, até do próprio Havelange.”

Falada em três idiomas, Jogo da Corrupção traz ainda outros intérpretes brasileiros, como Carol Abras, Nelson Freitas, Polliana Aleixo, Leandro Firmino e Maria Bopp. Na versão dublada, o narrador ganha a voz do humorista Fabio Porchat.

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