O Pirata do Espaço |
Forma de nave |
Joe e Rita |
Imperador Geldon |
Quando a saudosa TV Manchete estreou, em 1983, veio com um pacote de desenhos animados inéditos no programa Clube da criança, apresentado por uma iniciante e totalmente despreparada Xuxa, na época mais famosa como a modelo que namorava o Pelé. Com pouco a fazer além de repetir brincadeiras com crianças pequenas entre um bloco e outro, a apresentadora anunciava diversos desenhos, sendo que o preferido da garotada era um animê sobre um robô gigante e seus intrépidos pilotos. Exibido numa época em que eram escassas produções japonesas na TV brasileira, a série marcou época.
Joe e Rita eram os pilotos da nave-robô Pirata do Espaço, que defendia a Terra da ameaça dos robôs-bomba do Império Gailar, vindo de um planeta distante. Rita era uma traidora do Império, que fugiu levando consigo o Pirata do Espaço, construído por seu pai, o Professor Yan. Acolhida pelo sábio Professor Tobishima e sua equipe de pilotos da ilha Akane, Rita torna-se parceira do às da aviação Joe Kaisaka. No comando do Pirata do Espaço, a dupla iniciou uma luta sem trégua contra os invasores.
Joe! Rita! preparar o pirata do espaço!
Com essa ordem, dada pelo Professor Tobishima, os heróis corriam para o hangar do Pirata, ao som de uma das músicas mais eletrizantes que um herói japonês já teve. Coisa para a molecada da época pular. Ninguém se importava com a seqüência de decolagem sempre repetida, feita a partir de uma pista com um prolongamento que emergia do mar. Depois, ao longo da série, o bólido passaria a decolar de dentro do mar, saindo por um túnel submarino.
De acordo com a situação, a nave podia-se transformar em um poderoso robô gigante. Suas armas principais eram o raio Bola de Fogo (emitido das antenas), o Raio Sônico (disparado de um cristal entre os olhos), o raio Arco-Íris (da boca), as Metralhadoras-Pirata (dos ombros) e o fulminante Torpedo Voador (acomodado no tórax e usado quase sempre na forma jato). Ainda possuía em seu interior três mini-veículos: o Tubarão, o Tanque e o Jato-Pirata, que podiam também ser pilotados por outros membros da equipe de pilotos Tobishima.
Os ataques do império sempre começavam com o cargueiro voador Gelmus lançando de seu interior um robô-bomba sobre alguma cidade. Estes eram sempre naves, que não necessariamente possuíam forma de robô. Cada um possuía um arsenal de projéteis que transformavam as cidades em campos de batalha. Sob as ordens do Imperador Geldon, o doutor Golem e o general Daggar (depois substituído pelo Marechal Dogus) organizavam planos mirabolantes para subjugar as forças armadas do Japão e a nave Pirata do Espaço, a fim de ocupar o país e iniciar a conquista do mundo. (Por que esses invasores nunca vão procurar outra nação menos protegida por heróis é um mistério...)
Melodrama oriental
O tom geral era bem dramático, uma característica das séries de heróis nos anos 70 e isso transparecia a todo momento. Desgraça pouca era bobagem. Uma das tramas paralelas mais importantes mostrava o garoto Masato, cuja família fora morta num ataque do Império Gailar. Revoltado e aprendendo a controlar sua ira, o garoto é levado por Joe a bordo do Pirata em busca de vingança. Mas após vários episódios, o menino morre de um tipo de câncer, desenvolvido por causa do mesmo bombardeio radiativo que vitimou seus pais.
Em outro episódio, Rita quase volta ao Império, chamada por um antigo namorado. No entanto, ela resiste aos apelos e acaba matando o ex em pleno combate. Com esse clima pesado e heróico, finais tristes atingiram também o elenco principal.
Na equipe Tobishima, além de Joe e Rita, havia também o mecânico Ippei, o veterano da Segunda Guerra Baku, o aprendiz Sabu e o rabugento Gen, que, no começo, era sempre rejeitado. A equipe de apoio era essencialmente cômica, o que aumentou o impacto dado nos episódios finais, quando o velhinho Baku sacrificou para impedir que o Pirata do Espaço fosse roubado, depois de violento ataque inimigo contra a Base Akane. O episódio fecha com o grupo chorando frente ao corpo do companheiro, que morrera em ação, pilotando seu avião de combate. Esse episódio iniciou o arco final, que deu um desfecho arrepiante ao programa.
A saga culmina com a tentativa de resgate do pai de Rita e o surgimento do super-robô Gailar 5, comandado pelo mestre inimigo, o Imperador Geldon. Mesmo com a vitória sobre ele (após uma batalha apoteótica) e o resgate efetuado, a série termina de modo denso e dramático. Joe e Rita se amam, mas o relacionamento dos dois nunca é consumado e a despedida no final é melancólica, uma característica da época, onde os heróis eram mais sofridos e os finais, mais grandiosos.
Bastidores
No Japão, Pirata do Espaço foi uma criação menor do estúdio Dynamic Pro, do desenhista Go Nagai, veterano de histórias violentas e polêmicas. O autor é famoso no Japão principalmente por sua longa série Mazinger (de 1972), a primeira a mostrar um robô gigante pilotado. Até então, os robôs ou tinham vida própria ou eram controlados à distância.
A produção, mesmo para a época, era descuidada e repleta de erros de edição, sincronia e até de proporção nas figuras. Porém, sem similares no Brasil, as aventuras emplacaram diversas reprises, com grande sucesso na época.
Com personagens carismáticos em histórias repletas de situações mirabolantes, o Pirata do Espaço manteve acesa a chama dos animês no Brasil numa época em que essas produções praticamente haviam sumido das programações de TV.
Na mesma época, a Manchete também exibiu os animês Don Drácula (criação de Osamu Tezuka), Super aventuras (com adaptações de clássicos da literatura), Dartagnan e os Três Mosqueteiros (versão canina da obra de Alexandre Dumas) e, posteriormente, Patrulha Estelar (o Encouraçado Espacial Yamato, clássico absoluto no Japão).
Ficha Técnica
Nome original: Groizer X
Estréia no Japão: 01/ 06/ 1976 (TV Tokyo)
Número de episódios: 36
Criação: Go Nagai (conceito) e Gosaku Sakurada (desenho)Direção: Hiroshi SousenjiRealização: Knack Productions
Emissoras no Brasil: Manchete e CNT-Gazeta