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Crítica

Love - 3ª Temporada | Crítica

Em seu último ano, Love continua lutando para falar de amor em meio a necessidade de fazer piada

01.04.2018, às 22H58.

Judd Apatow, cocriador de Love, tem um currículo daqueles que marcam uma época. O diretor e produtor é um dos casos em que códigos e signos são tão bem estabelecidos que se tornam uma marca de cultura pop. Apatow encontrou sua voz e sua carreira é completamente cristalizada nesse sentido. Porém, como com todo artista que lida com humor, ele se debate para tentar ser levado a sério.

Love nasceu de uma tentativa de tornar sua linguagem um pouco menos escatológica. O trabalho do diretor (que começou lá atrás, com Freaks and Geeks) é cercado das mesmas recorrências, com um típico humor fácil, cheio de ridículo e apelo visual. Apatow é o rei das situações ridículas (e que muitas vezes envolvem dejetos humanos). Seus protagonistas ou são nerds desajustados, feios, maconheiros e inconsequentes; ou são mulheres que conquistam os rapazes por terem uma comunicação direta com eles, o que significa também serem nerds, maconheiras e desajustadas. Apatow masculiniza suas personagens femininas porque esse universo masculino primitivista é o que ele realmente domina.

Por isso, Love merece uma atenção na sua construção. Ainda que tomada desses códigos conhecidos, ela busca um diálogo diferente com o espectador, um diálogo estabelecido pelo viés do otimismo, algo já visto no trabalho de Apatow em menor escala, mas que na série ganha mais proporção porque os personagens tiveram mais tempo para serem minimamente desenvolvidos. Se há mais tempo para ir além das piadas sujas, então o certo seria mesmo aproveitar para se aprofundar um pouco mais nas personas.

É preciso admitir, contudo, que os roteiros usam bem pouco do seu tempo para ir além da comédia barata. Em seu terceiro ano, a série tinha uma missão muito interessante, que era chegar num ponto além daquela dinâmica “garoto nerd conhece garota ferrada e os dois têm problemas de comprometimento, mas se apaixonam apesar disso”. Na segunda temporada “o filme acabou”, chegando naquele momento em que os créditos rolam e ninguém terá condições de saber como as coisas acontecerão depois do “final feliz”.

A decisão de Apatow Paul Rust (que também protagoniza a série) seria derradeira, já que o Netflix anunciou o inevitável: depois de dois anos passando despercebida, era hora de chegar ao fim. Os dois decidiram resolver a vida dos personagens seguindo a premissa básica da série: falar de como o amor pode nascer sob circunstâncias inesperadas, mesmo que essas circunstâncias sejam esse próprio universo pessimista que Apatow criou.

O veredito é que, ao menos de alguma maneira, esse objetivo foi alcançado. Há dúvidas sobre se eles já sabiam que a série seria cancelada, porque embora alguns núcleos se resolvam bem, todo o plot sobre a carreira de Gus na indústria do entretenimento (e que era a melhor parte da trama) ficou frouxo quando chegou perto de ser concluído. Isso também é sintomático. Já que eles precisavam falar de amor, resolveram priorizar a história de amor e encerrarem assim a pequena, mas digna trajetória de sua criação.

Gus e Mickey (Gillian Jacobs) estão numa relação monogâmica estabelecida e não há mais espaço para continuar as provocações do ano anterior, quando tudo parecia querer dizer que eles não deviam ficar juntos. Uma vez que essa etapa foi vencida, o terceiro ano ficou mais leve, priorizando a progressividade do envolvimento deles. Houve tempo para avançar para os últimos estágios de modo tranquilo (os sacrifícios típicos, conhecer os pais, falar de filhos, dividir as coisas...), até chegar ao inevitável momento em que se discute casamento.

Uma pena não poder ver Gus crescer na indústria televisiva e ver como evoluiu seu relacionamento com Arya, que era uma das melhores interações propostas pela dramaturgia. Os roteiros ainda encontraram tempo para abordarem as vidas dos coadjuvantes de forma sóbria. Durante a temporada, há episódios bem focados em degraus específicos do relacionamento dos protagonistas e a abordagem final, do casamento, sempre aliada do clichê, até que foi resolvida corretamente. Love não é uma série de grandes eventos ou grandes atuações, mas é honesta ao que se propõe.

Nota do Crítico
Bom

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