“Qual é a essência d’O Menino Maluquinho?”. Essa foi a pergunta que a showrunner e produtora Carina Schulze e o produtor Rodrigo Olaio tiveram que responder quando começaram a desenvolver a animação que chega à Netflix nesta quarta-feira (12). Afinal, ainda que fosse um trunfo adaptar uma obra tão adorada, era palpável a pressão de tocar em uma criação do Ziraldo — sentimento este compartilhado por toda a equipe. “As pessoas começaram a literalmente suar frio com a responsabilidade de fazer esse projeto. Rolou muito medo, especialmente na equipe de arte. E o Ziraldo até participou desse processo para ajudar a tranquilizar as pessoas e ser um guia”, explicou Schulze ao Omelete. Por isso, o ponto de partida deles não poderia ser outro senão a obra que primeiro apresentou o “menino com o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés". “O livro foi o nosso Norte”, pontuou Olaio.
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É claro que, desde os anos 1980, O Menino Maluquinho apareceu em novos livros, HQs, filmes e séries de TV, ou seja, a cada geração, o imaginário do brasileiro conheceu uma versão do garotinho com a panela na cabeça. Logo, se quisessem abarcar fãs de todas as idades, eles precisavam revisitar todas as adaptações que os antecederam. E isso ficou especialmente claro a cada nova adição na equipe.
“Em animação, você começa com 5 profissionais, depois vai para 10 e vai aumentando. Essa equipe tem umas 320 pessoas e, a cada nova etapa da produção, os profissionais novos opinavam no manual. Era impossível fazer o onboarding [isto é, a recepção dos novos funcionários]”, lembrou Olaio, rindo. “Então foi um desafio mesmo colocar todo mundo na mesma página, porque O Menino Maluquinho é isso. A essência sempre foi a mesma, mas temos muitos Meninos Maluquinhos”.
“A gente estudou muito”, garantiu Schulze. “Fizemos um super trabalho para buscar qual era a essência do Menino Maluquinho, e a gente descobriu que era isso: alguém que realmente tem uma imaginação sem limites, uma criança”.
Deste ponto em diante, passou a ser uma questão de se comunicar com as novas gerações. E, para isso, a dupla de produtores, assim como os diretores, roteiristas e animadores, trouxeram todo tipo de referência para o projeto. “Essa é uma série que tem um ritmo mais acelerado, então Ducktales foi uma referência. Porque ela estava bem no auge e era uma adaptação muito bem feita. Mas usamos também Os Vizinhos Green e, nessa linha, trouxemos a Jenny [Keene, roteirista na animação da Disney] para ter o ponto de vista dela. E o estilo de comédia também tem um pouco de Galáxia Wander, do Craig McCracken”, listou Olaio, sem se esquecer da brasileira Irmão do Jorel. “É menino também, na cidade e na escola. Às vezes a gente tinha até que se distanciar, né?”.
No quesito roteiro, a amálgama de inspirações também foi variada, desde memes até algumas sitcoms — note que já no trailer dá para pescar um aceno a The Office com a cena do parkour — tudo para traduzir o humor que é característico na obra original, assim como a agilidade que a trama pedia. “Para a gente era importante que a série fosse engraçada”, ressaltou Schulze. “Então trabalhamos com uma equipe muito f*da de roteiristas de comédia e até alguns comediantes, como o Gustavo Suzuki, que faz stand-up, e o Arnaldo Branco, que trabalha no Greg News”.
No entanto, era importante que a brasilidade, em toda a sua complexidade, também estivesse expressa nas piadas. “Os roteiristas são de diferentes partes do Brasil, né? Às vezes a gente estava escrevendo um diálogo e vinham umas expressões que a gente não conhecia. Decidimos não tirar, porque a gente realmente queria falar com todo mundo. Então deixamos para que uma pessoa do Pará identifique aquele gíria, e em outro momento alguém do Sul pegue outra”.
Curiosamente, quanto mais investiam nesta comédia brasileira, mais O Menino Maluquinho parecia ecoar no restante do mundo. “A gente teve uma reunião específica para falar um pouco de cenário e cenas, e trouxemos alguns memes brasileiros. Tinha um executivo que era indiano, um produtor da Netflix que era da Armênia, e todo mundo se identificou muito com aquele cachorro vira-lata, com aquelas crianças brincando na rua, com aqueles mascotes de qualidade estética duvidosa [risos]... Então, foi muito legal ver que quanto mais a gente abrasileirava a série, mais funcionava também para o mercado internacional”, lembrou Olaio.
Por sorte, já dá para ter uma ideia de como todos estes artifícios se entrelaçam na animação: os primeiros episódios já estão disponíveis na Netflix — e mais virão, uma vez que o restante da primeira temporada estreia em 2023.
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