Os primeiros três episódios de Pacificador serviram com uma grande caricatura do culto à violência visto na cultura pop, ironizando falas e atitudes preconceituosas reproduzidas com frequência alarmante pela parcela mais tóxica da comunidade nerd. Embora mantenha esse retrato irônico trazido por James Gunn e companhia na primeira semana da série na HBO Max, o quarto capítulo diminui a frequência de piadas para explorar de forma mais profunda o coração de seus personagens principais - e os traumas que os criaram.
Menos irônico que seus antecessores, “A Estrada Mais Paucorrida” foca no momento de negação vivido pelo Pacificador (John Cena), que ainda se recusa a ver como seus atos (e os de seu pai) reproduzem ideais extremistas e preconceituosos. Ao longo do episódio, é possível ver o debate interno que domina o mercenário se tornar cada vez mais forte, a ponto de fazê-lo questionar a própria missão e se perguntar se ele é mesmo o herói que ele diz ser desde O Esquadrão Suicida. Podendo mostrar uma atuação mais dramática do que aquelas que marcaram o restante de sua carreira, Cena transforma mais uma dança aparentemente hilária em um momento melancólico que traz à tona as cicatrizes deixadas por traumas antigos e recentes.
Quem também ganha novas camadas é Adebayo (Danielle Brooks), apresentada como a mais inexperiente e inocente agente da A.R.G.U.S. encarregada de manter o Pacificador na linha. Julgada por seus colegas por seus erros, a jovem se conecta com seu lado mais cruel, manipulando o Vigilante (Freddie Stroma) e silenciando o Mestre Judoca (Nhut Le) antes que ele pudesse revelar a verdade sobre as Borboletas para o protagonista. Com o público já por dentro das relações familiares da novata, o “A Estrada Mais Paucorrida” se permite ensaiar uma virada para a personagem, cuja inocência e o otimismo começam a dar espaço para uma dualidade que reflete diretamente o papel do grupo protagonista da série.
Com o foco no desenvolvimento dos personagens - incluindo Murn (Chukwudi Iwuji) e Vigilante -, o desenvolvimento da trama principal de Pacificador fica levemente de lado, o que não quer dizer que ela seja completamente abandonada. Usando a suposta morte de uma Borboleta no final do terceiro episódio como razão para criar um beco sem saída na operação da equipe, “A Estrada Mais Paucorrida” usa pequenos momentos para introduzir a primeira grande reviravolta da série. Com potencial para agravar os conflitos internos de Pacificador e Adebayo, o evento final do quarto capítulo deve permear os acontecimentos do restante da temporada, com destaque à forma como os protagonistas reagirão a ele.
De ritmo mais modesto do que a sequência alucinante de piadas e tiros da semana passada, o quarto episódio de Pacificador freia o retrato absurdo do mundo dos super-heróis para entregar personagens mais identificáveis. Marcando a metade do caminho até o final da temporada, o capítulo estabelece um ponto de virada significativo, mas sem descartar sua aura caótica e tom irônico.