“Honestamente, eu tinha chegado num ponto — e acho que toda a turma também — que eu achei que jamais colocaríamos aquelas gravatas rosas de novo”, admitiu Adam Scott ao Omelete. A descrença com a possibilidade de um revival de Party Down definitivamente não era exclusiva do ator. "Estamos esperando há 13 anos!", confirmou Martin Starr, fazendo eco a um sentimento que o fandom conhece bem — e que, por sinal, só cresceu com o passar dos anos, como bem pontuou Ryan Hansen: "nosso finale foi visto por, tipo, 13 mil pessoas. Então o fato das pessoas terem recuperado a série por causa do streaming é a coisa mais legal do mundo".
Na próxima sexta-feira (31), porém, Party Down se despede mais uma vez, com o último episódio da terceira temporada. Ainda sem notícias oficiais sobre renovação, a possibilidade de um novo adeus parece propícia para, pelo menos, celebrar a longa jornada que culminou em uma temporada tão boa, senão superior, às originais.
Abaixo, confira a história oral do revival de Party Down:
I. COMO SAIU DO PAPEL
JOHN ENBOM (showrunner, roteirista e um dos criadores): Não iria tão longe de chamar de um plano, porque não temos muito controle do que acontece aqui em Hollywood. Mas estamos tentando fazer isso há muito tempo. Quando eles nos cancelaram, já estávamos pensando na nossa terceira temporada. A gente estava pronto. Mas, infelizmente, não tivemos a oportunidade na época. Tivemos muita sorte no fato de que, mesmo com a série cancelada, ela estava meio disponível. Então sempre podíamos nos esgueirar de volta e dizer “temos uma ideia para mais [episódios], o que vocês acham?”. Isso não foi bem-sucedido até o momento que entrou um novo chefe no Starz [Jeffrey Hirsch]. Nosso produtor Rob [Thomas] apenas ligou para ele, e dessa vez realmente levou para algum lugar. Não sabíamos o que faríamos, mas sabíamos que queríamos fazer [uma nova temporada]. Então foi meio assim que as coisas se desdobraram ao longo dos anos de tentativa. Um golpe de sorte e, então, “tá, agora o que fazemos?”.
ADAM SCOTT (Henry Pollard e produtor-executivo): Honestamente, eu tinha chegado num ponto — e acho que toda a turma também — que eu achei que jamais colocaríamos aquelas gravatas rosas de novo. Mas nos reunimos novamente para um encontro organizado pela Vulture em… acho que tem uns três, quatro anos, e naquelas duas horas a gente se divertiu tanto. A gente falava sobre isso desde que a série acabou em 2010, mas meio que tínhamos todos desistido que isso fosse acontecer. Então, quando nos reunimos — Rob Thomas, John Enbom, Dan Etheridge, Paul Rudd e eu — , começamos a discutir isso seriamente, tipo e se a gente realmente fizesse [uma nova temporada]? E foi meio assim que começou. O maior obstáculo se tornou a agenda e tentar encontrar um momento em que todas essas pessoas estivessem disponíveis. Encontrar um espacinho de seis semanas nos cronogramas super ocupados de todo mundo.
II. A AUSÊNCIA CONFIRMADA
JOHN ENBOM (showrunner, roteirista e um dos criadores): Foi uma decisão muito difícil, porque amamos trabalhar com a Lizzy [Caplan], amamos aquele relacionamento na série. Amamos a personagem dela e o jeito dela de ver o mundo. Pensamos muito sobre a direção que seguiríamos. Mas, ao mesmo tempo, todo o elenco se tornou um pouco mais popular do que quando começamos, então conseguir colocá-los numa mesma sala por algumas semanas era muito difícil. Então calculamos que precisaríamos esperar pelo menos um ano, se não mais, só para termos a oportunidade de tê-la disponível. E, então, sabe Deus lá quando o resto das pessoas estaria. Então, pensamos “essa é nossa melhor oportunidade. A possibilidade de termos já tanta gente ao mesmo tempo não era alta. Então devemos fazer o melhor que pudermos”.
III. NOVAS ADIÇÕES
JOHN ENBOM (showrunner, roteirista e um dos criadores): Quando entendemos “tá, a Lizzy não está disponível. Que triste! Precisamos pensar no que fazer”, uma coisa que não queríamos era tentar encontrar uma nova versão dela. Ou criar uma personagem que tivesse uma personalidade parecida. Se ela não estaria lá, então deveríamos seguir em frente e encontrar um jeito completamente novo de trazer alguém a bordo. Foi daí que veio essa ideia de alguém que fosse o oposto da nossa turma original, que se definia por sua vontade de chegar a algum lugar. Então pensamos sobre ter uma personagem que já tivesse algum sucesso e estabilidade e que viesse de um lugar quase alienígena para o nosso pessoal, e aí brincar com essa história um pouco ao contrário. Por isso a Jennifer Garner estava no nosso radar logo de cara. Porque ela passa essa confiança e estabilidade que é bem diferente da personagem da Lizzy, que era cínica e tinha essa energia meio sombria.
ADAM SCOTT (Henry Pollard e produtor-executivo): É engraçado, porque a Jennifer Garner era alguém de quem falávamos assim "é, precisamos de alguém como a Jennifer Garner, porque nunca vamos conseguir a Jennifer Garner. Mas esse é o tipo de pessoa que deveríamos ter nesse papel". E, então, ela disse "por que não?". Pensamos "p*ta m*rda! Tá, a gente vai precisar se comportar!". Porque quando fizemos Party Down [a primeira vez], gravávamos episódios em quatro dias. Não era uma produção extravagante, e ainda não é. Então eu estava nervoso com a vinda da Jennifer e, sabe, a gente passando vergonha. Mas ela foi tão legal, engraçada e tudo o que você esperava. Sou fã dela há anos, e sempre quis trabalhar com ela. Foi empolgante!
JOHN ENBOM (showrunner, roteirista e um dos criadores): Porque é um serviço de buffet e as pessoas podem ir e vir, a gente queria trazer novas pessoas. Porque, sabe, tem um milhão dessas histórias de gente vindo [para Hollywood] com suas ambições, sonhos X, Y e Z. Então, depois que decidimos que nem todo mundo continuaria trabalhando lá, concluímos "perfeito! Podemos trazer esses personagens novos e ver mais de como é a indústria agora". Depois de 12 anos, Hollywood, o entretenimento e as próprias ideias de sucesso e fama mudaram. Não existia influencer naquela época. Não fazia nem sentido. Então ficamos empolgados com a ideia de explorar essa versão mais nova e pé no chão da experiência Party Down, e não ficar só no reflexo daqueles mesmos personagens vivendo vidas diferentes.
TYREL JACKSON WILLIAMS (Sackson): Descreveria o Sackson como alguém que quer ser um influencer, mas não tem ideia do que quer fazer. Acho que seu plano é só se tornar muito, muito famoso e, então, seu destino vai se concretizar e ele vai ter muito dinheiro. Acho que é um eco desse novo caminho para a fama, de se filmar fazendo qualquer coisa e ser a coisa que as pessoas compram, e não a série ou o filme. Acho muito engraçado que o Sackson seja uma crítica a esse novo normal.
ZOË CHAO (Lucy Dang): A Lucy é contratada como a chef do Party Down e ela está muito empolgada como o trabalho, porque ela espera ter o apoio e os recursos para executar os sonhos que tem. Ela é uma artista de comida muito séria. Ela não está preocupada com o gosto das coisas, mas sobre o que elas fazem você sentir. Então ela fica bem devastada qiando entende que Party Down tem é o lugar e não tem tempo para seus sonhos. Então foi muito divertido embarcar nessa montanha-russa com ela e ser alguém que realmente queria estar lá, mas que ninguém se importava com o por quê.
IV. AS PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS DA TEMPORADA
TYREL JACKSON WILLIAMS (Sackson): Todos os atores convidados trouxeram coisas insubstituíveis para os episódios. O Nick Offerman sendo um deles. Bobby Moyniham. Eu pensava toda hora "não, essa pessoa é um destaque, essa pessoa é um destaque".
RYAN HANSEN (Kyle Bradway): Uma das minhas preferidas foi a Quinta Brunson.
MARTIN STARR (Roman DeBeers): Quem é essa? [risos]
RYAN HANSEN (Kyle Bradway): Eu não sabia quem ela era quando a gente estava filmando. Gravamos há um ano, e ela falava “ah, eu fiz essa série pequena, chamada Abbott Elementary”. E eu fiquei “ah, boa sorte com sua série, viu?”. E agora ela é gigante!
MARTIN STARR (Roman DeBeers): Mas só para deixar claro, o resto de nós foi muito mais respeitoso. Ele que foi…
RYAN HANSEN (Kyle Bradway): Eu não. Falava “quero uma água, por favor!” [risos]. Ela foi tão engraçada. Nós sabíamos que ela era incrível. Agora todo mundo sabe!
V. O PRIMEIRO DIA NO SET
TYREL JACKSON WILLIAMS (Sackson): Enervante é a palavra. Meu primeiro dia de filmagem foi o primeiro dia da produção, então todo mundo estava se reencontrando e botando o papo em dia depois de anos. Então foi enervante encontrar um lugar nesse grupo de pessoas tão talentoso, que já se conheciam e conheciam seus personagens muito bem. Mas eles foram tão abertos e receptivos que o processo de aclimatação ficou muito fácil.
ZOË CHAO (Lucy Dang): Eu e o Tyrel nos aproximamos por causa do nosso nervosismo, e eu serei para sempre grata de termos passado por isso juntos. Eles nos receberam de braços abertos e eu senti que era parte da família muito rápido. Mas o Martin Starr faz questão de me lembrar [risos]. Ele diz "você lembra como você estava nervosa no primeiro dia?".
VI. COMO A PASSAGEM DO TEMPO AFETOU A SÉRIE
ADAM SCOTT (Henry Pollard e produtor-executivo): Acho que essa é parte do que é interessante em voltar. A cultura muda e a comédia muda de maneiras que você já percebe quando vai assistir a uma série de 2007 — ou mesmo de 2017 — e pensa ‘nossa, estranho. Nunca diria isso’. E não necessariamente por que é ou não politicamente correto, mas porque as coisas mudam e isso é bom. É saudável.
MARTIN STARR (Roman DeBeers): Assim, muito da comédia que fizemos naquela época não poderíamos fazer hoje. Então manter o tom e a sensação da série original enquanto navegávamos no que era apropriado ou não foi como andar numa corda bamba. Mas acho que o John Enbom fez um ótimo trabalho, e pudemos brincar no mundo que ele criou. Sabe, somos só a mão de obra. Dizemos as palavras dele.
RYAN HANSEN (Kyle Bradway): É, não temos nada a ver com isso. Se você não gostar da comédia, é tudo culpa do John Enbom [risos]. Se for cancelável, cancelem o John Enbom.
JOHN ENBOM (showrunner, roteirista e um dos criadores): Não sei se afetou… Sabe, sentimos que a base dos personagens e a temática por trás da série continuam tão relevantes quanto antes. Então, não reconcebemos o que queríamos com a série ou qualquer coisa do tipo. Apenas queríamos fazer mais [episódios], só que 12 anos depois. Então foi basicamente daí que começamos. E, sabe, 12 anos em termos de como é o mundo, mas também a perspectiva dessas pessoas muda. Henry é um personagem diferente do que ele era há 12 anos. Ele tem ambições diferentes, quer coisas diferentes da sua vida. Queríamos que isso fosse verdade para todo mundo. Então, francamente, não acho que seríamos capazes mentalmente de inventar um novo jeito de fazer a série. Só tentamos aplicar as mesmas ideias a novas circunstâncias.
Party Down é exibida às sextas no Lionsgate+, onde estão disponíveis também as primeiras temporadas.
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