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Crítica

Preacher - 2ª temporada | Crítica

Adaptação acerta na segunda tentativa ao fazer alterações sem perder o tom anárquico da HQ da Vertigo

14.09.2017, às 13H33.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

Algo que torna a televisão tão interessante é o fato de ser possível que os programas se adaptem às reações do público, seja isso bom ou ruim. Preacher é um dos casos positivos: a adaptação da obra de Garth Ennis e Steve Dillon na Vertigo teve um ano de estreia morno, mas cheio de potencial. Agora, o seriado parece ter ouvido as críticas dos fãs - mas sem esquecer de tomar suas próprias decisões.

Após a confusão que viveram na cidade de Anville, o padre Jesse Custer (Dominic Cooper), sua namorada Tulipa O'Hare (Ruth Negga) e o vampiro bêbado Cassidy (Joseph Gilgun) caem na estrada com uma missão: encontrar Deus. Ter esse objetivo como ponto central da premissa, assim como é nas HQs, é uma boa decisão ao dar ritmo para a narrativa. A primeira metade da temporada funciona como uma espécie de road movie, com o trio indo de cidade em cidade na busca do Todo Poderoso ao mesmo tempo que lida com pontas soltas do ano um e foge do implacável Santo dos Assassinos (Graham McTavish).

O Pistoleiro, por sua vez, também é um dos destaques: sua aparência e linguagem corporal combinados com inabalável determinação e resistência, criam um antagonista capaz de botar medo no espectador sem sequer abrir a boca. Sua presença - ou pelo menos ameaça imposta - faz falta nos poucos episódios que não aparece. Mas, felizmente, a série encontra outras formas de compensar.

A segunda temporada introduz uma grande variedade de subtramas que correm paralelas à principal, que vão desde o novo ganha-pão do anjo Fiore (Tom Brooke) até a relação de Cassidy com seu filho. Algumas delas não funcionam tão bem assim, mas a produção foi rápida em identificar os elementos disfuncionais e removê-los com eficiência. O que dá certo começa a ganhar desenvolvimento e mais tempo de tela, como a jornada de Eugene (Ian Colletti) tentando fugir do inferno com a ajuda de Adolf Hitler (Noah Taylor). Pela forma que foi conduzida, essa experimentação é muito positiva e também pode ser vista na própria composição das cenas, que brinca com sequências em primeira pessoa e time-lapses de uma viagem que Jesse faz com um saco na cabeça.

É importante notar que Preacher já não pensa mais em manter fidelidade com seu material-base - e isso não parece ser uma coisa ruim. O seriado segue a fórmula de The Walking Dead ao apenas utilizar acontecimentos grandes dos quadrinhos, dando seu próprio contexto e tratamento para os eventos que levam até esses pontos-chave. É uma decisão de risco e que pode irritar muitos fãs, mas que funciona muito bem graças à ótima escrita. Seth Rogen, Sam Catlin e Evan Goldberg entenderam o tom da obra original e conseguem criar em cima disso sem a necessidade de filmar página por página.

O melhor exemplo disso é Herr Starr. O "vilão" que comanda a organização Cálice é conhecido por seus gostos bizarros e personalidade que alterna entre maléfica e cômica. Na série, o personagem ganha vida com boa comédia visual e sólida atuação de Pip Torrens, mas sem esquecer-se da mente doentia ao representar um homem profundamente perturbado movido por desejos igualmente mortais e sexuais.

Seja por Herr Starr ou os incontáveis momentos que te deixam boquiaberto de obscenidade e blasfêmia (como a revelação de um dos descendentes de Jesus), é certo dizer que a adaptação de Preacher consegue manter o tom anárquico e politicamente incorreto que consagrou as HQs.

A narrativa agora tem movimento para abordar pontos importantes da obra original, mas sem esquecer-se da experimentação e introdução de elementos próprios, tanto no roteiro quanto na parte visual. Se a primeira temporada mostrou potencial, Preacher se consagra na segunda tentativa.

A produção parece ter adquirido confiança na forma de traduzir a criação de Ennis e Dillon para a televisão, fazendo alterações ao mesmo tempo em que respeitam o teor absurdo da história. É bom que tenham acertado a mão pois só fica mais perturbador daqui para frente.

No Brasil, Preacher é exibido pelo serviço de streaming Crackle, que está disponível no Brasil tanto pela internet quanto pelas emissoras NetClaro HDTV - saiba mais.

Nota do Crítico
Ótimo

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