Algumas produções seriadas se tornam parte de seus protagonistas, que aceitam e incorporam a obviedade de que aqueles são os maiores e melhores papeis de suas carreiras. Muitas vezes isso garante a longevidade de sua produção e em outras – como no caso de Prison Break – garante certa imortalidade. Os últimos dois anos provaram para o espectador das séries de TV que nada é finito na televisão americana e sempre há muitas formas de continuar lucrando com um produto. Alguns dos revivals propostos desse período até agora resguardam um traço de paixão a despeito de todo o aspecto mercadológico, mas Prison Break não é um desses exemplos.
Foram os protagonistas Wentworth Miller e Dominic Purcell que lutaram pela ressuscitação da série. A Fox – dedicada a um verdadeiro catálogo de retornos – comprou a ideia quase que imediatamente e o criador do show, Paul Schuering, assumiu sua cadeira de volta, aceitando as ideias dos astros e construindo um cenário que possibilitasse a retomada das vidas de Michael e Lincoln, ainda que praticamente todos os aspectos delas tivessem sido explorados à exaustão nas quatro temporadas em que o programa ficou no ar. Antes de assistir Prison Break, temos todos que nos fazer aquela pergunta que ronda todos esses revivals: Isso era realmente necessário?
Sempre haverá alguém disposto a dizer que sim e em primeira instância, quem somos nós para destruirmos sonhos de fãs ao redor do mundo que ficaram realmente felizes com a notícia. De fato, no que diz respeito ao entretenimento, existe um certo fascínio em especular sobre as vidas de personagens que nos divertiram tanto em algum ponto da história. Mas, como acontece na maioria dos rivivals, precisa haver um novo olhar, um recorte diferente, que estabeleça uma conexão com a realidade vigente de um modo que justifique essa nova abordagem. Infelizmente, no caso de Prison Break é como se nem um ano tivesse se passado e estivéssemos diante de uma temporada que poderia facilmente ter sido exibida lá em 2009, quando a série terminou.
Prison Unbreak
Quando começa, a quinta temporada tem uma missão: explicar como Michael sobreviveu e reaproximá-lo dos seus. A série também não pode esquecer de sua gênese, então é claro que o protagonista estará preso e precisará de um longo plano para conseguir escapar novamente. Embora os roteiros busquem referências modernas, isso se limita única e exclusivamente a bater na tecla mais cansada da história das séries de TV atuais: o islamismo. A preguiça de contextualizar melhor o destino de Michael é tanta que a produção disfarça a obviedade com megalomania e se esquece até mesmo que não devemos continuar banalizando o papel de organizações como o Estado Islâmico nas narrativas americanas. Homeland está aí para provar que é possível contar uma boa história de ação e intriga sem repetir esses elementos já exaustos.
Durante a primeira metade dessa curta temporada de 9 episódios, acompanhamos Michael repetir os mesmos mecanismos de fuga de sempre, inclusive com seu método de recrutamento de outros prisoneiros para cumprir seu intuito. A série até flerta com a interessante ideia de que Michael é um oportunista que não tem afeto verdadeiro por ninguém (o que seria uma abordagem realmente surpreendente), mas a possibilidade fica pelo caminho para dar lugar a ansiedade constante de pintá-lo como um heroi. Até aí, contudo, a série está dando a seu público o que acha que ele quer, o que provavelmente funciona para muitos em muitos aspectos.
A partir do momento em que o elemento da prisão é superado, tudo vira um festival de reviravoltas previsíveis que não acrescentam nada ao legado da série. Tudo que acontece já aconteceu milhões de vezes em milhões de séries do mesmo gênero e até mesmo o recurso do “na hora que eu ia atirar ouvi um barulho e fui rendido” é usado incansavelmente, salvando um número de vidas impressionante. Para uma série com tanto risco envolvido, há uma invejável preservação de personagens regulares e um massacre de personagens novos. Isso faz com que qualquer possibilidade de perigo perca o impacto, justamente porque sabemos que nada de verdadeiramente corajoso vai acontecer.
Sendo assim, a ótica pela qual devemos olhar o retorno de Prison Break é a do lucro e a do fan service. A união entre os irmãos, a forma complexa como funciona a mente de Michael, as viradas absurdas, as perseguições... está tudo ali, do jeito que o fã mais conservador espera ver. O ponto é que a série pode divertir, mesmo que não tenha absolutamente nenhuma relevância. A temporada chega ao final da forma esperada, com decisões hesitantes e até enfadonhas. Começa e termina condenado a ser esquecido cinco minutos depois. Mas, para o fã apaixonado e que espera por um produto dedicado a fazer lembrar o que a série foi um dia, a proposta funciona. O que já é, de fato, uma razão suficientemente válida para esse revival existir.