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Crítica

Scream - 1ª Temporada | Crítica

MTV leva a franquia Pânico para a televisão e ganha a responsabilidade de tornar envolvente um mistério que não durava mais que 120 minutos

02.09.2015, às 11H28.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

[Essa crítica não revela o segredo da série]

Em 1996, o diretor Wes Craven (que infelizmente faleceu recentemente) topou dirigir um roteiro meio louco que o estreante Kevin Williamson tinha milagrosamente conseguido aprovar. O uso da palavra "milagrosamente" aqui é ambíguo, porque como o próprio Williamson criticou em algumas cenas de seus filmes, é difícil vender algo para Hollywood que não tenha peitos. Até porque, mesmo com alguns peitos, Pânico era baseado em texto, em ironia, em metalinguagem e porque não dizer, intelecto.

A história sobre a menina virgem que era perseguida por um assassino cruel na atmosfera do high school se tornou um gênero específico de cinema lá nos anos 1980, quando Jamie Lee Curtis soltava seus gritos estridentes e via todos morrerem a sua volta. Esse tipo de cinema sempre foi baseado em arquétipo, em rótulo, e exatamente por causa disso encontrou a decadência bem cedo. Quando Pânico chegou às telonas a surpresa foi geral, mas pegou principalmente a crítica especializada pelo pé. O texto não confirmava nenhum rótulo ou arquétipo deliberadamente, ele conduzia um filme do mesmo gênero fazendo escárnio com ele. Era tudo real, mas absolutamente baseado na cultura pop promovida por aquele universo.

Falar sobre a franquia do cinema é muito importante porque a série de TV precisou rever as "regras". Toda a cartilha apresentada nos quatro filmes era totalmente apoiada no formato cinematográfico e para que isso fosse transferido para o formato seriado, a cartilha constantemente zoada pelos roteiros dos longas teria que passar por ajustes que prendessem a atenção do público num mistério que era resolvido dez minutos antes da sessão no cinema terminar e agora precisaria esperar dez semanas.

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A história da franquia Pânico era muito simples e é completamente replicada na série de TV. Depois que dois jovens são assassinados com requintes de crueldade, a cidade de Lakewood começa a ter que lidar com a própria história macabra. No centro disso está a jovem Emma (Willa Fitzgerald), o alvo absoluto do misterioso assassino, que se diverte matando primeiro todos que estão a sua volta. Tanto nos filmes como na série, os detalhes também se repetem: segredos maternos, crimes que aconteceram anos antes, ligações inesperadas entre personagens... Com pequenas variações, tudo segue a mesma métrica não porque é fácil ou oportunista, mas porque a mitologia de Scream funciona respeitando regras e é assim também porque elas serão destrinchadas adiante.

O desafio maior, como já dito, fora pegar o formato sucinto dos filmes e esticar. Então, no primeiro episódio os roteiristas foram pelo caminho certinho, colocando na boca do nerd Noah (John Karna) os próprios conflitos do formato. O público esperaria por dez semanas pela revelação do assassino? E para que ele esperasse, qual seria a melhor estratégia? A resposta é dada logo em seguida... Para que o público fique, precisa acreditar e se importar com os personagens, o que tornará a espera menos dolorosa e as mortes mais chocantes. Na série, diferente da franquia, não é só o fator crime que conta, mas sim o fator perda. Uma das mortes mais complicadas de se aceitar nos longas foi a de Randy (Jamie Kennedy), justamente porque ele havia sobrevivido no primeiro massacre e nos dado mais tempo para nos importar com ele.

Falar em mitologia aqui é muito importante porque o charme de Pânico sempre esteve em sua metalinguagem e texto referencial. Se nos longas havia uma quantidade imensa de citações a outros títulos do gênero, na série eles vão atrás de exemplos semelhantes compostos pela TV. Detalhes das carpintarias dramatúrgicas de outras produções televisivas são usados como embasamento e servem também para arrancar sorrisos saudosos dos espectadores, que se sentem presenteados com momentos em que ouvem uma determinada referência e sabem do que se trata e como ela se conecta com a história.

Hello, Emma

Dito isso, precisamos reconhecer que a proposta de alongar conflitos por conta do formato seriado acaba esbarrando na questão do elenco. A MTV se empenhou em manter vivo o espírito da franquia, mas não foi muito feliz na escalação dos atores. Todos respeitam bem os arquétipos necessários à série, mas estão um pouco frouxos ainda, inseguros... Na franquia, Craven e Williamson foram atrás de atores jovens, mas com certa experiência na TV. Apesar do mundo alegórico de Pânico, o medo e o luto precisam ser reais.

O caso mais grave é de Willa Fitzgerald, que não pode evitar comparações com Sidney (Neve Campbell) por ser aquela que é sempre o foco do assassino. Enquanto Williamson exigiu que sua mocinha fosse esperta, atenta e muito ativa - Sidney chamava a atenção por seus embates com o assassino, que incluíam lutas demoradas e muito atrevimento -, a "survivor girl" da série é irritantemente apática em alguns momentos. Junto dela, um time de colegas que não chega a prejudicar o resultado final, mas que tampouco são inesquecíveis.

No que diz respeito a estrutura, um pouco mais de mortes e sequências onde o assassino faz telefonemas seriam bons. Isso não acontece porque esbarramos de novo no compromisso de longevidade. O episódio final, inclusive, sofre diretamente com o anúncio da renovação para a segunda temporada (que não será, como pensávamos, uma antologia). Mais gente precisa sobreviver e, por isso, menos perseguições e mais contemplações recheavam os episódios.

Contudo, a saída encontrada pelos roteiristas para conectar a próxima temporada sacrificou um pouco do clímax final, mas homenageou a ousadia da franquia. Se ao ser transportada para o formato seriado as regras precisaram ser revistas, nada mais natural que a revelação do assassino também fosse um pouco diferente. Mais que seguir à risca os clichês do gênero, Scream ficou conhecida como aquela que ousa no formato, mas nunca desrespeita o original. Assim, com o último episódio da temporada indo ao ar dois dias depois da morte de Craven, a série de TV eleva sua alegoria do "eles sempre voltam" a um patamar irônico e ao mesmo tempo reverente. Será como Craven sempre quis... Os gritos enfim, em uníssono, vão voltar.

Nota do Crítico
Bom

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