Desde que Diana foi introduzida na quarta temporada de The Crown, lá em 2020, a série teve seu protagonismo dividido: a rainha Elizabeth II deixou de ser o único foco da criação de Peter Morgan para que a futura princesa de Gales – e, consequentemente, a nova geração da realeza – ganhasse mais destaque. Agora, no início da sexta e última temporada, Lady Di está no centro da trama, que começa sua despedida dando adeus a uma das figuras mais populares da monarquia britânica.
O novo ano abre logo com uma cena do acidente que vitimou Diana (Elizabeth Debicki) e Dodi Al-Fayed (Khalid Abdalla) em Paris, para então voltar oito semanas no tempo e mostrar os últimos dias da princesa. Ela, já há um ano divorciada de Charles (Dominc West), aproveita o tempo com os filhos, dedica-se ao trabalho voluntário e inicia seu romance com Dodi, enquanto é alvo de um assédio incessante por parte da imprensa.
É uma crônica amarga, já que o público sabe o desfecho inevitável de sua trama, mas construída de forma envolvente. Morgan pinta o retrato de uma mulher que está encontrando a si e sua liberdade pela primeira vez em anos, com uma sensibilidade que deixa claro o quanto Diana teria a conquistar – pessoal e profissionalmente – caso as circunstâncias tivessem sido outras.
A atuação de Debicki só ajuda nesta construção. A atriz, que entrou para The Crown na quinta temporada, mais uma vez desaparece completamente na pele de Diana, conferindo a ela a humanidade pulsante que tanto a diferenciava de outros membros da realeza.
Texto e performance formam assim um conjunto magnético, que já seria suficiente para manter o espectador impressionado (e comovido). A série, no entanto, não se afasta totalmente da estrutura que a consagrou, o que é notável especialmente no segundo episódio, “Duas Fotos”. Nele, o roteiro contrapõe um paparazzo badalado e um fotógrafo local conhecido por suas fotos da família real. É The Crown em seu melhor, usando um recurso já conhecido da série para trazer um novo ângulo sob o qual se pode observar a monarquia e suas aflições.
Há, claro, problemas. A opção – já contestada publicamente – de colocar Mohamed Al-Fayed (Salim Daw), pai de Dodi, como um quase vilão que arquiteta o relacionamento do casal, é questionável, principalmente porque ela diminui parte da força do romance. E faz falta, sim, dar espaço a outros membros da família real; por mais que faça sentido despedir-se de Diana nesta primeira parte, seria interessante ver maior participação dos demais membros da realeza e suas reações ao turbilhão midiático do período – e isso é especialmente verdadeiro no caso da rainha Elizabeth II (Imelda Staunton) e do príncipe Philip (Jonathan Pryce).
Tanto é que quando chega o quarto e último episódio da leva, adequadamente intitulado “Consequências”, chega também um bem-vindo foco à família – garantindo mais espaço também ao primogênito de Charles e Diana, William (Rufus Kampa). O capítulo traz a mesma história contada por Morgan no filme A Rainha (2006), mas sob outra lente. Se lá o foco estava necessariamente nas interações de Elizabeth com o primeiro-ministro Tony Blair sobre como lidar com a comoção pública em torno da morte de Diana, em The Crown Morgan está mais interessado no luto particular.
Soa como um prenúncio para os seis episódios finais da série, que devem mais uma vez retornar para as histórias de Elizabeth, Philip, Charles e, agora, da nova geração, com William, Kate Middleton e Harry.
A parte final de The Crown chega à Netflix em 14 de dezembro.