Acompanhar a série The Last of Us, como uma pessoa que já jogou a franquia da Naughty Dog, é uma mistura de ficar motivada pelas mudanças que a série fez ao adaptar e, ao mesmo tempo, viver uma sensação de déjà-vu com as pessoas relatando a mesma catarse que tive alguns anos atrás - acompanhado das críticas e assuntos debatidos novamente. Mas seja pelo novo público chegando com a série ou o mais antigo, há espectadores que levantam argumentos de que a franquia estaria “apelando” para uma suposta “lacração” com relação aos personagens LGBTQIA+, pelo fato de aparecerem na história que existem desde o jogo.
Bella Ramsey, que faz Ellie, deixou claro em uma entrevista que a série não vai ignorar essas narrativas queer no segundo ano. Enquanto Storm Reid, a Riley, foi direta para os homofóbicos: "Se não gosta, não assista"; disse em entrevista. É uma boa notícia que a HBO não apenas adicionou esses arcos da primeira temporada e os colocará no novo ano, e pode ser uma oportunidade para a emissora enriquecer ainda mais a história e aprimorar alguns furos deixados pelo game.
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REPRESENTATIVIDADE
Se não ficou claro pelo jogo ou agora com a série, The Last of Us sempre abordou histórias queer, seja de Bill e Frank, Ellie e Riley e de novos personagens que vão surgir no segundo ano. A série não apenas adaptou, como também enriqueceu essas histórias: Bill e Frank sempre foram um casal no primeiro game, mas tiveram um final completamente diferente e até mais trágico comparado ao que a série quis proporcionar, trazendo um romance shakespeariano com um amor singelo e encerrando de maneira nobre. Sarah (Nico Parker) e Tess (Anna Torv) também tiveram seus arcos mais explorados, se comparados ao game.
É interessante ainda notar que as duas maiores produções atuais da HBO, ambas campeãs de audiência, têm personagens LGBTQIA+: A Casa do Dragão, outro sucesso da emissora, tem em sua trama o príncipe gay Laenor Velaryon (Theo Nate). Além disso, são estreladas por pessoas queer: Bella Ramsey e Emma D´Arcy, a Rhaenyra Targaryen de A Casa do Dragão, são não-bináries.
É um sinal de que cada vez mais celebridades estão se assumindo; a exemplo de Demi Lovato, Sam Smith, Janelle Monáe, entre outres. Também as produções midiáticas estão os colocando como protagonistas de suas tramas, ainda que personagens não-bináries sejam poucos como Kazi, de O Príncipe Dragão, e Haruka/Sailor Uranus de Sailor Moon.
O QUE ESPERAR DA SEGUNDA TEMPORADA
O segundo ano irá explorar as histórias existentes do jogo e pode até ir além, abordando de diferentes formas ou adicionando novos personagens que façam sentido para essa trama, tal qual foi com Kathleen.
No segundo jogo, lançado em 2020, a Naughty Dog adicionou personagens que representam as outras letras da comunidade, o que provocou a ira de alguns jogadores conservadores. Se a série manter esse tom fidedigno no segundo ano, será exigida alguma maturidade social para o novo público que chega pela adaptação.
[Aviso: Próximos parágrafos contêm spoilers do jogo The Last of Us: Parte II]
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Na trama do jogo, Ellie tem uma namorada: Dina, uma jovem da mesma idade da protagonista que vive na comunidade de Jackson - e que internautas acreditam que tenha aparecido na primeira temporada. Esse romance entre as duas irá gerar um conflito na comunidade e que afetará a relação entre Ellie e Joel.
Além disso, Parte II nos faz acompanhar a jornada de uma personagem chamada Abby. Em determinado momento, ela é salva pelos irmãos Yara e Lev, pertencentes ao grupo extremamente religioso Serafitas. Com o tempo, descobrimos que Lev é um homem trans e isso gerou um choque em sua comunidade, desencadeando repressão e violência por parte de seu grupo, e até por sua mãe, o que fez os irmãos fugirem da colônia religiosa.
A aparição do homem trans e do romance entre duas mulheres geraram revolta por parte de conservadores, enquanto outros elogiaram pela maneira como a Naughty Dog trouxe um personagem trans para o game. Entretanto, alguns artigos escrito por pessoas trans tanto elogiam quanto criticam a maneira como a trama foi representada. Conforme esse artigo do Paste, o autor aponta que o que sabemos sobre o garoto é sob o olhar de uma pessoa cisgênero: "Para Abby, e o jogador que experimenta o mundo através [do ponto de vista] dela, Lev não é um personagem a ser respeitado, mas investigado".
Claro, não é porque a franquia coloca representatividade LGBTQIA+, que não esteja suscetível a falhas como alguns artigos mencionam sobre a série. É importante ressaltar que não é porque há críticas, que seria melhor não ter esses personagens, pelo contrário. Mas que não é apenas em The Last of Us que essas narrativas devem se dar por satisfeitas - a vida tem sua pluralidade e, infelizmente, a mídia ainda não conseguiu trazê-la para produtos de massa, apesar de estar dando seus pequenos passos.