The Last of Us: Estreia encanta os fãs do game, mas precisa atrair os leigos

Créditos da imagem: HBO Max/Divulgação

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The Last of Us: Estreia encanta os fãs do game, mas precisa atrair os leigos

Série consegue ser fiel ao jogo da Naughty Dog, mas precisa de guinada para mostrar potencial

Omelete
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16.01.2023, às 00H30.
Atualizada em 16.01.2023, ÀS 08H13

Adaptações invariavelmente geram fortes repercussões na indústria, seja Game of Thrones dos livros de G.R.R Martin ou o anime do momento Chainsaw Man que veio do mangaká Tatsuki Fujimoto. Entretanto, adaptar games para o universo da TV e cinema é andar sobre uma linha tênue que separa uma releitura boa de uma indigesta - vide o passado conturbado com Super Mario Bros. (1993) e Street Fighter (1994).

Apesar das adaptações aceitáveis e bem recebidas recentemente como The Witcher e Arcane, a desconfiança permanece no ar. A nova série da HBO tem grandes chances de ser promissora ao colocar Neil Druckmann, criador do jogo, como produtor executivo da série - além de um elenco de estrelas como Pedro Pascal e Bella Ramsey como os protagonistas. A divulgação de trailers e teasers aumentaram a expectativa do público ao apresentar cenários e a atmosfera do game para o live action.

Após sua estreia neste domingo, não resta dúvidas: The Last of Us da HBO Max é um deleite para os fãs ao trazer o universo da Naughty Dog para as telas - mas isso também pode ser seu fardo, se permanecer como foi em seu primeiro capítulo.

Quem já jogou (ou assistiu) ao game da PlayStation, sabe que a história apocalíptica vai além de um jogo de tiro e ação. The Last of Us (ou TLOU) se destacou por apresentar personagens profundos e assuntos universais em meio a um fim de mundo. Porém, para quem não tem familiaridade com a franquia, o começo pode parecer arrastado e pouco confuso e, se continuar nesse ritmo, a série pode desperdiçar a chance de trazer um novo público para o rico universo.

[ATENÇÃO: Spoilers do primeiro episódio da série The Last of Us]

UM MUNDO COMO O NOSSO

HBO Max/Divulgação

A pequena introdução se passa em 1968, durante um talk show em que dois especialistas falam que o maior surto de uma doença contagiosa não viria de um vírus ou uma superbactéria, mas de um fungo. Esse momento, apesar de muito didático para um mundo que recentemente passou por uma pandemia de Covid-19, é o aviso para o perigo iminente que a humanidade da ficção irá passar nas próximas décadas.

Logo há uma passagem de tempopara 2003, na cidade de Austin,Texas, onde acompanhamos um dia da família Miller, composta pela adolescente Sarah (Nico Parker), seu pai Joel (Pascal) e seu tio Tommy (Gabriel Luna). O que poderia ser mais um dia comum de escola e trabalho vai se tornando o prelúdio antes do surto causado pelo fungo Cordyceps - que existe na vida real.

A série explora como foi o dia do surto, de modo menos inesperado como acontece no jogo, que começa de noite. Um detalhe adicional do programa é quando Sarah vai para o quarto pegar o presente de Joel e por um bom tempo segura uma faca com desenhos de cavalos - o que nos sinaliza que esse item pode ser útil mais para frente.

A adaptação nos faz acompanhar a perspectiva da jovem em sua rotina, percebendo algo de errado ao seu redor. A preparação do clímax, com ela na escola e passando a tarde na vizinha, com a idosa dando sinais de não estar bem, é torna e vagarosa,o que resulta em um episódio de uma hora e vinte minutos.

Entretanto, é no cair da noite, quando Joel retorna para casa e Sarah entrega seu presente - o relógio e um DVD do filme preferido do pai -, que a série se torna uma satisfação para quem jogou. Desde os diálogos até os enquadramentos são idênticos ao game da Naughty Dog, e mais referências irão aparecer ao longo do episódio. Testemunhar a mesma energia de carinho e afetividade entre pai e filha adolescente para a tela (e ciente que serão os últimos momentos de ternura) é um prato cheio para o jogador e agora espectador.

Quando Joel coloca Sarah na cama, Tommy liga contando que foi preso novamente por uma confusão no bar e que, dessa vez, não seria sua culpa - nos dando a entender que não é a primeira vez que ele causa problemas ao irmão. Joel vai até a delegacia e deixa a filha sozinha em casa.

Sarah acorda com o barulho de aeronaves passando pelo céu abruptamente, e nesse momento o perigo chega próximo dela, no caso, nos vizinhos. Ao adentrar na casa ao lado, Sarah e o espectador são apresentados pela primeira vez a uma pessoa infectada pelo Cordyceps. Por mais que não seja algo explosivo, esperado de muitas produções do gênero, TLOU cria um retrato visceral e perturbador da vítima, com o fungo saindo pela boca, o típico som de estalo e a maneira desconcertante de andar.

Ao fugir do local, Joel e Tommy chegam a tempo de resgatá-la, matam a criatura e fogem do bairro em busca de um refúgio. A partir desse momento até o fechamento do primeiro arco, a série faz uma ode ao jogo com closes, jogo de câmeras e falas iguais ao game da PlayStation. Como fã da franquia, é difícil não arrepiar com a fidedignidade nos momentos mais emocionantes. TLOU vai além de ser fiel: a série apresenta o universo do jogo (feito há uma década) de forma mais real e verossímil, mais próxima de um mundo lidando de forma inesperada a uma epidemia do fungo - como a cena do avião caindo próximo a eles no meio da cidade.

Quando o trio perde o carro no acidente, zumbis vão em direção a eles. Armado, Tommy dá cobertura enquanto Joel carrega Sarah e os dois fogem para uma área segura. Ao encontrar um soldado, Joel, levemente aliviado, avisa que ela está machucada, mas o militar recebe a ordem de executá-la. Ao fugir dos disparos, ele cai e se vê diante da morte quando o soldado aponta a arma, mas é salvo pelo irmão a tempo. Mas o desafogo logo desaparece, quando Joel descobre que Sarah foi baleada e não resiste aos ferimentos. De forma lenta e bruta, The Last of Us fecha o seu primeiro arco confirmando a fala dos especialistas no começo: a humanidade foi derrotada pelo fungo, isso para Joel.

NOVO MUNDO

HBO Max/Reprodução

O episódio dá mais um salto no tempo e agora acompanhamos Joel após vinte anos. Assim como no jogo, não há um tutorial ou maneiras da série nos situar no que aconteceu com o mundo que sobrevive ao Cordyceps. Entendemos que a história se passa em Boston e há uma zona liderada por militares, também chamada de FEDRA (Agência Federal de Resposta a Desastres), que controlam a saída e entrada de pessoas e nos apresenta de maneira bárbara o destino de quem atravessa a fronteira infectado - ali, não se poupam nem mesmo crianças.

Os civis do lugar recebem ordens dos militares para tarefas impiedosas como jogar corpos de infectados para serem cremados em troca de créditos para alimentos e escassos recursos. Joel também trabalha com contrabando e negocia até com um dos agentes da FEDRA, ganhando regalias e privilégios de informações. Por toda a área, existem frases que rondam este universo, como "When you're lost in the darkness, look for the light" (“Quando estiver perdido, procure pela luz”) e desenhos de um vagalume, que serão logo introduzidos.

São apresentados novos personagens, dentre eles Tess (Anna Torv), a parceira de contrabando de Joel. Ela aparece amarrada e espancada pelos subordinados de Robert, outro contrabandista, que desviou a bateria de um caminhão que era para ter sido recebido por ela e Joel para um outro grupo. Mas a conversa é interrompida por um conflito entre a FEDRA e os Vagalumes - uma facção muito importante na narrativa. Fugindo da confusão, Tess acaba sendo apreendida pelos militares, confundida pelo grupo que a Fedra define como terroristas.

Após a prisão de Tess, conhecemos Ellie (Bella Ramsey),irreverente e ácida (típica da juventude) com o grupo misterioso que a aprisiona. Em seus poucos minutos de protagonismo, Ramsey brilha como a adolescente sarcástica e durona. Se esse é apenas o primeiro episódio, podemos esperar que seu talento seja mais explorado ao longo da temporada.

Nos serviços de comunicação, Joel está apreensivo pois há semanas não recebe uma mensagem de Tommy e descobre que a torre de sinal da qual o rádio recebe a mensagem vem de Wyoming. Ao chegar em casa, ele abre um mapa enquanto se embebeda e toma remédios (uma maneira de lidar com o luto em um mundo apocalíptico). Vale destacar que ele ainda usa o relógio que Sarah deu no seu aniversário. Cansado, Joel dorme e logo aparece Tess indo até a cama dormir abraçada a ele, nos mostrando que parece ter uma relação além de sobrevivência. Ao acordar, Joel percebe que ela está machucada e vai cuidar dela. Tess conta que a bateria foi roubada, mas sabe uma maneira de descobrir o paradeiro do objeto. Joel fica irritado pois isso os ajudariam a encontrar o paradeiro de Tommy.

Enquanto isso, o grupo que tranca a adolescente se vê desorientado com poucos detalhes do motivo da prisão de Ellie. Nesse momento aparece Marlene (Merle Dandridge, que também faz a mesma personagem no game), a líder dos Vagalumes, que explica para a sua subordinada que eles vão levá-la para o oeste, pois a garota pode ser uma luz para a humanidade.

Joel e Tess descobrem que a bateria ainda não foi entregue e a negociação será feita dentro da zona de quarentena. Em outra cena, Marlene conversa com Ellie - sob o nome falso de Verônica -, deixa claro que sabe de seu segredo, e explica para onde vão levá-la.

No prédio, a dupla vai em busca da bateria e parte até a parte que liga à uma espécie de esgoto. Lá, eles encontram um infectado morto que foi tomado totalmente pelo fungo e acreditam que ele teria se infectado pela área. Ao adentrarem em uma nova sala, é onde os destinos de Joel e Ellie se cruzam. Eles descobrem que a bateria foi vendida para os Vagalumes e o QG deles sofreu um tiroteio contra Robert e sua equipe momentos antes.

O encontro entre eles e o grupo é marcado por conflitos do passado, e revela que Tommy decidiu entrar para o grupo revolucionário, algo que gerou atrito entre ele e Joel. Com Marlene ferida, eles entram em comum acordo de levar Ellie até uma base dos Vagalume nos arredores da zona de quarentena e, em troca, os dois receberão todos os recursos que precisarem - principalmente o contato de Tommy.

A contragosto de todos, os três voltam para o apartamento, onde Joel e Ellie tem uma pequena conversa mostrando o desentendimento e começo conturbado. Enquanto esperam até o anoitecer, essa cena é importante para mostrar como será a partir daí a interação dos dois e como Ellie vai além de uma sobrevivente, mas mostra a forma astuta de conseguir o que quer, ao enganar Joel e descobrir o significado dos códigos de contrabando que Joel usa no rádio.

Ao anoitecer, Joel, Tess e Ellie saem escondidos do toque de recolher e vão para o limite da zona de quarentena. Todo o cenário é semelhante ao do jogo, com construções demolidas, carros quebrados e túneis de esgoto que servem como esconderijos. Durante a fuga, um soldado da FEDRA avista eles - por sorte ou não, é um dos clientes de contrabando de Joel.

Seguindo o protocolo, o militar faz uma revista e examina se eles estão infectados, e Ellie o surpreende com uma facada. Joel tenta resolver a confusão, mas o agente aponta a arma para eles, engatilhando o momento quando Sarah estava viva. Irado, Joel vai para cima como forma de reagir ao que não fez no passado e agride o soldado violentamente. Tess descobre que a garota está infectada, mas ela explica que seu ferimento foi de três semanas e está imune. O barulho atrai a atenção dos militares e eles fogem da zona de segurança, mostrando que irão desbravar um Estados Unidos destruído e cheio de infectados. Por fim, o primeiro episódio encerra-se com o rádio de Joel recebendo o sinal da música “Never Let me Down Again” do Depeche Mode, sinalizando que novos conflitos irão surgir.

UM COMEÇO ASSOMBROSO

HBO Max/Divulgação

De maneira fascinante, a série The Last of Us conseguiu - até o primeiro momento - nos mostrar o deslumbre da fidelidade com o jogo, ainda embalada com a trilha sonora envolvente que facilita a ambientalização criada por Gustavo Santaolalla, o mesmo compositor dos jogos. Tudo isso pode agradar os fãs, enquanto para quem não conhece, o começo pode ser moroso e nebuloso. O elenco, principalmente Pascal e Ramsey, são o destaque da atuação que não apenas nos convencem que são os mesmos do game mas vão além, explorando facetas pouco vistas no jogo - pela própria mídia ser diferente fazendo o espectador ser ativo e jogar com os personagens. Para os próximos capítulos, podemos esperar mais ação e movimento colocando o trio em perigos que vão muito além de pessoas infectadas.

Os novos episódios de The Last of Us estreiam todo domingo às 23 horas na HBO e HBO Max.

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