Se você perguntar para qualquer fã de Um Dia o que ele mais se recorda da experiência de ter lido o livro, a emoção com o que acontece no final da história será provavelmente a mais mencionada. David Nicholls lançou a obra em 2009 e ela veio numa confortável esteira aberta pelo sucesso de Crepúsculo, lançado quatro anos antes. Os leitores do gênero estavam ávidos por mais histórias em que uma jovem insegura se apaixonava por um rapaz belo e sombrio.
A adaptação cinematográfica veio quase imediatamente. O filme Um Dia, roteirizado pelo próprio autor do livro e estrelado por Anne Hathaway e Jim Sturgess, passava a história de Nicholls por um filtro Hollywoodiano e fez do casal um dos mais celebrados por leitores e espectadores do mundo inteiro.
Então, inesperadamente, o romance ganhou uma nova adaptação. Nicholls se juntou à produção executiva da minissérie da Netflix e as roteiristas Nicole Taylor, Bijan Shelbani e Anna Jordan revisitaram o mundo de Emma e Dexter com mais tempo e mais domínio em 14 episódios que compõem a agora minissérie.
Nós preparamos uma lista com algumas das mudanças mais significativas entre o filme e a minissérie. Essa é a sua chance de nos dizer se os ajustes feitos na obra de David Nicholls foram justos ou não. Vem com a gente.
Protagonistas
A primeira grande mudança está na performance e incorporação dos intérpretes de Emma e Dexter. No filme de 2011, Emma foi vivida por Anne Hathaway, que tem uma figura angelical, quase onírica; o que, é claro, levava para a personagem uma imagem de insegurança e vulnerabilidade que eram maiores do que as vistas na versão literária.
A escalação de Ambika Mod subverte completamente essa ideia, funcionando quase como se fosse uma “Anti-Hathaway”. Sua Emma é mais cínica e sarcástica do que a Emma que o filme propagou. O Dexter de Leo Woodall permanece na realeza que o Jim Sturgess já determinava. Afinal de contas, no mercado dos livros sobre histórias de amor complicadas, o bad boy tem sempre que ser inacessível, sombrio e com uma figura absolutamente perfeita para os padrões da indústria.
De volta ao que éramos
Na primeira cena do livro de Nicholls, Emma e Dexter estão na cama, no dia da formatura da faculdade, conversando e fumando juntos. Nicholls é britânico, e o tabagismo na Europa é tratado de uma forma bem diferente do que no continente americano. As produções por lá não tendem a evitar esse hábito, por mais politicamente incorreto que ele seja. Na América, quase todos os atores e atrizes de Hollywood fumam, mas em comédias românticas isso é inconcebível, porque altera a percepção “ideal” do público sobre aqueles personagens.
Assim, no filme de 2011 isso é “disfarçado” da personalidade dos protagonistas; o que se repete apenas com Emma na minissérie.
Um outro detalhe importante sobre ela é que no filme eles não contam algumas partes de sua vida – e que em quase todos os casos se refere a sua carreira. Mas, na minissérie, isso é ligeiramente corrigido, e os fãs têm mais detalhes de suas atividades.
O Capítulo Renegado
Emma e Dexter se conhecem em 1988 e daí até o fim do livro, a vida deles será contada em todos os quinzes de julho dos anos subsequentes. No filme de 2011, David Nicholls tomou a decisão de não contar a história da “carta nunca enviada”, lá no dia 15 de Julho de 1990. O roteiro, então, pulou esse ano e passou para 1991 imediatamente.
Na minissérie, o episódio da carta foi rejeitado mais uma vez e isso provocou um desalinhamento dos anos em comparação com o livro. O ano de 1990 não foi pulado e os acontecimentos de 1991 passaram para ele. A partir daí, então, a minissérie não conseguiu mais realinhar a cronologia da série com a do livro.
Phill
O filme de 2011 tinha um grande compromisso com a “esterilização” de Emma. Cortaram seu tabagismo, cortaram momentos vexaminosos da carreira e cortaram o caso que ela teve com Phill, um homem casado com quem ela trabalhou enquanto foi professora.
Na minissérie, eles finalmente resolveram trazer de volta esse enredo, dando mais camadas para a personagem e melhorando o trabalho de Ambika.
Outro Capítulo Renegado
No filme e na minissérie, o público vê Emma já como uma escritora publicada quando Dexter está com seu livro nas mãos a caminho de um novo encontro. Antes disso, em 1997, o leitor do romance acompanha Emma indo a uma editora tentar um contrato enquanto Dexter está sendo demitido de seu programa de TV.
Tanto no filme quanto na minissérie, esse enredo de Emma indo encontrar uma editora foi apagado. Em 1996, então, o filme recria o jantar fatídico em que os dois brigam e depois pula o ano de 1997, indo direto para 1998, quando a demissão de Dexter acontece.
Na série, o apagamento do capítulo da carta em 1990 leva os acontecimentos de 1991 para lá. A partir daí, então, tudo se desalinha: o que era para acontecer em 93, vai para 92 e assim por diante. Com mais um capítulo sendo cortado da adaptação, tudo que aconteceu em 97 e 98 foi amontoado no episódio de 1996.
Com isso, o casamento onde Emma e Dexter se reconciliam, e que no livro acontece em 1999, foi adiantado e aconteceu na série em 1997.
O Último 15 de Julho
Os acontecimentos do final do livro são bastante respeitados tanto no filme quanto na série. No filme, a cronologia se mantém igual à do livro, com o último 15 de julho sendo em 2007.
Na minissérie, por conta da supressão dos capítulos da carta e da editora, vários acontecimentos foram espremidos em um único ano. Porém, as roteiristas queriam que a minissérie também terminasse em 2007.
A solução foi situar os dois primeiros aniversários da morte de Emma seguidos um do outro – 2003 e 2004 – e depois avançar dois anos – 2005 e 2006 – sem mostrar nada sobre eles. Desse jeito, o dia em que Dexter vai para a montanha com Jasmine acontece em 2007, como no livro e no filme, com a diferença de que, na minissérie, esse não é o terceiro aniversário, é o quinto.