Paralelamente ao cinema e TV, uma nova geração de consoles se aproxima no mundo dos games. Após alguns títulos de PlayStation 5 e Xbox Series X terem sido revelados, o primeiro grande jogo a ser mostrado para as novas plataformas é um Assassin’s Creed inédito. A saga da Ubisoft é conhecida como um playground histórico, podendo se adequar a qualquer período e ambientação, do Egito antigo até à revolução industrial.
Para inaugurar a próxima geração, o estúdio francês escolheu as grandes embarcações nórdicas como cenário para Assassin’s Creed: Valhalla. Em algum lugar do mundo, os executivos do History Channel e Michael Hirst, o criador de Vikings, deram um sorriso pela missão cumprida.Mas qual a relação entre o game e o seriado? Simples: Vikings é o grande responsável pela popularização deste período histórico na cultura pop.
Não que antes da série não existia curiosidade do público. Os guerreiros sempre estiveram presente no audiovisual. A abordagem, porém, era bastante diferente, com histórias focadas nas impressionantes habilidades de batalha, ou então na vasta mitologia nórdica, com nomes como Thor, Odin, Loki e outros que eram amplamente conhecidos - seja por suas “versões reais” ou as da Marvel Comics. Existia sim presença viking no entretenimento, mas não tão ampla quanto a do programa. Enquanto Bernard Cornwell já fazia isso nos livros, não havia representação viking igual nas telas até 2013.
O verdadeiro triunfo de Vikings é firmar o interesse pelo realismo nórdico, mesmo nem sempre sendo 100% fiel aos fatos. As primeiras temporadas, focadas em Ragnar Lothbrok (Travis Fimmel), sua família e a cidade de Kattegat, trouxeram um tom intimista ao povo histórico que não era encontrado em um lugar nenhum. Sem nunca se tornar discursiva ou documental, a série explicou de forma didática ao público quem eram os grandes heróis nórdicos, como funcionava o seu dia a dia e sociedade. Ter essa visão humana para desmistificar as lendas dos guerreiros sanguinários torna os vários feitos dos nórdicos ainda mais importantes, já que foram conquistados por fazendeiros e artesãos.
Essa abordagem inspirou muitas outras obras, dos filmes à séries, como The Last Kingdom (por sua vez baseado nas Crônicas Saxonicas, de Cornwell) . Mas seu apelo é muito mais visível em Assassin’s Creed: Valhalla. Segundo a Ubisoft, o game acompanhará as invasões aos reinos ingleses, mas será focado no desenvolvimento de um assentamento nórdico, em que o jogador controlará sua expansão. Não só este é o período retratado em Vikings, como também é uma forma de traduzir em mecânicas o arco narrativo do seriado. Enquanto o personagem jogável, que pode ser homem ou mulher, deve ser moldado pela figura de Ragnar e Lagertha (Katheryn Winnick), não será tão surpreendente se eles forem citados ou derem as caras no jogo.
Assassin’s Creed é um bom termômetro para tendências históricas do entretenimento. A Ubisoft é rápida em olhar para o restante do audiovisual e aplicar na franquia. Quando Peaky Blinders (2013) começou a estourar, por exemplo, o estúdio rapidamente traduziu as gangues britânicas para Syndicate (2015), ambientado em Londres de 1868. O caso de Vikings é um pouco mais fascinante pela origem relativamente humilde do sucesso. Ao invés de ter o apoio ou legado de uma grande emissora, o seriado foi a primeira produção de ficção do History Channel, e soube trabalhar suas limitações de orçamento em um estilo que hoje define como os vikings são vistos na cultura pop. Prestes a chegar ao fim na sua sexta temporada, e com um derivado já encaminhado na Netflix, Vikings e sua equipe podem descansar tranquilos sabendo que conseguiram deixar sua marca na era de ouro da televisão.
Todas as temporadas de Vikings estão disponíveis no catálogo da Netflix e do Fox App.