Já faz mais de um ano que Westworld concluiu sua primeira temporada, em dezembro de 2016. O impacto que o seriado da HBO teve, por outro lado, continua fresco como se tivesse sido exibido ontem - e esse é o grande desafio de dar continuidade a uma história cuja primeira impressão é tão forte.
"Journey into Night", episódio que marca a estreia do segundo ano, mostra que isso não parece ser um obstáculo para a produção.
[Cuidado! Spoilers da primeira temporada de Westworld abaixo]
A trama é ambientada em algum ponto desconhecido após Dolores (Evan Rachel Wood) iniciar a revolução dos robôs com um massacre aos visitantes humanos, parte da "narrativa" inédita do excêntrico criador Robert Ford (Anthony Hopkins). Mesmo com tantas questões deixadas em aberto, não espere respostas vindo com facilidade de Westworld: o programa retorna apenas jogando mais perguntas ao espectador.
O capítulo abre com Bernard (Jeffrey Wright) acordando a beira de uma praia desconhecida, na mira de uma equipe armada sob o comando de Karl Strand (Gustaf Skarsgard, de Vikings), chefe do Controle de Qualidade da Delos enviado pela corporação para limpar a bagunça feita pelos anfitriões. Mascarando sua verdadeira natureza robótica ao se fazer de humano confuso, Bernard assume o posto de fio-condutor da narrativa, que novamente é contada com variadas linhas temporais se misturando - mas pelo menos agora os eventos parecem mais próximos uns dos outros.
Se aproximar de uma história linear não significa que Westworld tenha perdido seus mistérios: ao invés de continuação, o retorno marca uma nova fase, quase como em um videogame. Os jogadores, que antes tomavam uma posição de poder, agora são rebaixados a presas para os androides se divertirem e manifestarem seus desejos de sangue. Se a primeira temporada era frequentemente comparada a jogos como GTA, a segunda é um survival horror.
Quem parece aproveitar a mudança de estilo é o Homem de Preto (Ed Harris), q ue finalmente realiza seu desejo de aventura realista, ou seja, com um verdadeiro desafio e oponentes que revidam. Mesmo assim, William não se livra das armadilhas de Ford: o criador revela que planejou um jogo final, parecido com a caça ao Labirinto. Dessa vez, o pistoleiro deve encontrar a Porta - nome que não deixa muito a adivinhar mas que com certeza é de vital importância, visto que é o subtítulo da temporada.
Escapismo parece ser o tema central do ano inédito, tanto fisicamente com o objetivo de fuga dos convidados, quanto metaforicamente com Dolores liderando uma revolução que questiona o que leva a raça humana a nutrir vontades sombrias de abuso e sofrimento. O levantamento dessas perguntas contrasta com a violência de "Journey into Night", que não foge de mostrar o banho de sangue praticado pelos robôs e a verdadeira tomada do caos no programa.
Westworld parece ter encontrado a voz perfeita para uma sequência: introduzir novas narrativas e questionamentos sem esquecer de aprofundar o que faz o público mais fiel retornar para mais. É a mesma série que fez tanto barulho em 2016, só que maior em escopo, espaço e, é claro, brutalidade. Mantendo o mistério e a complexidade de sua trama, é difícil prever onde a segunda temporada irá, mas já é possível dizer que valerá a pena acompanhar a viagem.
A segunda temporada de Westworld estreia em 22 de abril, às 22h, pela HBO.