"Coulson vive". Pouco tempo depois do estrondoso lançamento de Os Vingadores - hoje a terceira maior bilheteria de todos os tempos - a Marvel anunciou que ressuscitaria o personagem de Clark Gregg em uma série de TV. As expectativas não poderiam ser mais altas. Joss Whedon, que levara "uma celebração da nerdice para todos os públicos", estava envolvido na criação do programa e dirigiria o piloto. Depois, passaria o comando para o seu irmão Jed, com que trabalhara em Dr. Horrible's Sing-Along Blog e Dollhouse. Com tudo em uma boa família nerd, o que poderia dar errado?
O episódio-piloto, co-escrito e dirigido por Joss Whedon, era promissor. A volta de Coulson - personagem presente no universo cinematográfico da Marvel desde o príncipio, em Homem de Ferro (2008) - era bem-vinda e foi estabelecida com cuidado. O retorno dos mortos não é nenhuma novidade nos quadrinhos e sua inserção na série gerou um mistério que impulsionava o programa para frente. A presença de Skye (Chloe Bennet), uma hacker que é recrutada por Coulson para desvendar um esquema de criação de super-soldados, abria a passagem ideal para o público que, como ela, desconhecia o universo de segredos da Divisão Logística e Aplicação de Intervenção Estratégica Interna (Strategic Homeland Intervention, Enforcement and Logistics Division).
Já no segundo episódio de Agents of SHIELD, porém, Joss Whedon deixou o comando criativo nas mãos do irmão para se dedicar ao roteiro e à pré-produção de Os Vingadores 2. Sua ausência foi sentida. Em "0-8-4", a série apresentou a sua proposta de formato, dividindo seu tempo entre um arco complexo (introduzido no piloto) e episódios procedurais à la CSI. Focados no aspecto mais técnico do trabalho da agência de segurança da Marvel, esses capítulos visavam ganhar um público aleatório, sem conhecimento prévio do programa de TV ou dos filmes. Incerta de si mesma, porém, e com personagens pouco cativantes - a badass Melinda May (Ming-Na Wen), os cientistas verborrágicos Leo Fitz (Iain De Caestecker) e Jemma Simmons (Elizabeth Henstridge), e o agente durão Grant Ward (Brett Dalton) demoraram para mostrar a que vieram - essa narrativa entrecortada por episódios casuais teve efeito contrário e o público começou a debandar.
Se a audiência remanescente deixou de esperar um filme da Marvel a cada semana, havia ainda a promessa de ligação da série com os próximos lançamentos do estúdio no cinema: Thor - O Mundo Sombrio e Capitão América - O Soldado Invernal. Antes, a série se limitara a referências à Batalha de Nova York, aos artefatos deixados pelos Chitauri e à tecnologia Extremis. "The Well" se comprometia a ir além disso, mostrando um outro lado da invasão dos Elfos Negros em Londres. Acabou sendo apenas mais um procedural com tempero asgardiano.
Não fosse a expectativa de ligação com Thor 2, contudo, o episódio poderia ter sido melhor aproveitado. A participação de Peter MacNicol como um guerreiro nórdico que há muito vagava pela Terra e o encontro do time com o bastão Berserker, que potencializava a força do seu usuário ao acessar a sua pior memória, apontava como a estrutura proposta pela série poderia funcionar. "Yes Men", com participação da participação de Lady Sif (Jaimie Alexander), e "The Only Light in the Darkness", que apresenta Amy Acker como a violoncelista citada por Coulson em Os Vingadores, seriam outros bons exemplos de episódios que funcionaram individualmente, sem deixar de se conectar ao universo da Marvel.
Quando acertou o tom dos episódios-caso e se dedicou ao arco principal, Agents of SHIELD começou a apresentar sinais de recuperação. O ótimo "T.R.A.C.K.S." foi o ápice desse retorno. O episódio, que reunia o time para recuperar um objeto em um trem, tinha um roteiro bem estruturado com diversos pontos de vistas, ampliava a ligação emocional dos seus personagens (com o público e entre eles mesmos) e coroava tudo com uma participação especial de Stan Lee. A série finalmente parecia pronta para desvendar os mistérios em torno da morte de Coulson, desmascarar o Clairvoyant, descobrir a origem de Skye e se reconectar com a sua audiência perdida.
A reta final da temporada seguiu em bom ritmo. A ressurreição de Coulson foi desvendada e um novo elemento alienígena foi introduzido, não apenas pelo sangue Kree (mesma raça de Ronan, o Acusador, personagem de Lee Pace em Guardiões da Galáxia) que salvara a vida de Coulson e Skye, mas pela revelação que a agente novata "não seria deste mundo" - as últimas cenas do episódio final dão o gancho para a revelação dos "monstruosos" pais da moça e para as consequências do sangue milagroso em Coulson. Outro ponto alto foi a certeira conexão da série com os eventos de Capitão América 2, desdobrando os efeitos da queda da SHIELD e incorporando a infiltração da HYDRA à trama. A canastrice de Bill Paxton foi perfeita para a encarnação de John Garrett, o mocinho que se transforma em vilão; a falta de amparo táctico fez com que os roteiristas buscassem soluções criativas, resultando em um melhor uso das habilidades dos seus personagens.
O finale mostrou uma série mais segura e, novamente, promissora. A coroação de Phil Coulson como "um dos Vingadores" , nas palavras do próprio Nick Fury (Samuel L. Jackson), e a sua promoção a diretor da nova SHIELD são títulos mais do que merecidos para o personagem que é a alma de todo o universo cinematográfico da Marvel. Clark Gregg pode não ser o melhor dos atores, mas o seu "brilho de fanboy" sustentou o programa em seus piores momentos e abriu caminho para uma nova chance na segunda temporada. A proposta de recomeço da SHIELD também vale agora para a série e seus agentes.
Criado por: Maurissa Tancharoen, Jed Whedon, Joss Whedon
Duração: 7 temporadas