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Além da Escuridão - Star Trek | O que esperar do novo filme

Visitamos os estúdios Bad Robot e contamos o que vimos

Omelete
11 min de leitura
26.02.2013, às 15H06.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

Em 9 de dezembro de 2012 visitei os estúdios Bad Robot, empresa fundada em 1998 pelo cineasta J.J. Abrams. Por lá passaram produções como Lost, Fringe, Alcatraz, Cloverfield (cujo nome saiu de uma rua que dá fundos para o edifício), Missão: Impossível 3, Super 8 e, claro, Star Trek.

O reinício da série Jornada nas Estrelas no cinema, que conseguiu respeitar o cânone e criar espaço para uma nova geração, terá sequência em Além da Escuridão - Star Trek (Star Trek Into Darkness) - e foi justamente para cobrir esse filme que viajei a Los Angeles e pude conhecer o estúdio e conversar com os responsáveis.

Michael Giacchino

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Michael Giacchino

Star Trek 2 poster

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Star Trek 2

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Zachary Quinto no set descendo ao vulcão

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Zachary Quinto no set descendo ao vulcão

Benedict Cumberbatch como JOhn Harrison

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Benedict Cumberbatch como John Harrison

Star Trek 2

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Comunicador

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Comunicador

A nova doutora Carol Marcus, Alice Eve

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A nova doutora Carol Marcus, Alice Eve

Os Klingons, revelados em história em quadrinhos do filme

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Os Klingons, revelados em história em quadrinhos do filme

Spock, 45 minutos para colar sobrancelha

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Spock, 45 minutos para colar sobrancelha

Star Trek 2

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Spock e seu phaser

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Spock e seu phaser

Ricardo Montalban como Khan

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Ricardo Montalban como Khan

Star Trek 2

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A visita começou pelo departamento de efeitos especiais, onde foi exibido um clipe de uma cena de ação que lembra a queda livre do primeiro filme. Sem entrar em detalhes, nela, Kirk e um companheiro precisam cruzar em altíssima velocidade o vácuo entre duas naves usando apenas uniformes capazes de manobras simples. Somando a esse clipe a introdução de Além da Escuridão - Star Trek, é seguro dizer que J.J. Abrams acertou outra vez: a tensão do filme é de trincar os dentes, mas sem esquecer o humor e os diálogos afiados que marcaram a série.

Star Trek - Além dos Efeitos Especiais

Depois dessa abertura empolgante, Roger Guyett, responsável pelos efeitos especiais e pela direção de segunda unidade, mostrou alguns dos maiores desafios do novo filme para seu departamento, como a criação de efeitos volumétricos de água e fogo em larga escala. Mas, para ele, é tudo muito empolgante. "Agora estamos em território conhecido, então revisitar os cenários é a maior diversão, já que podemos dar a eles novas características e trabalhar com a tecnologia disponível, além de fazer tudo com uma escala maior", disse.

Essa escala passa tanto pelo espaço, a "fronteira final" quanto pela Terra, onde conheceremos versões futuristas de outras cidades além de São Francisco. "Para criar Londres, por exemplo, mantivemos alguns marcos importantes, como o Olho e monumentos históricos, e tentamos imaginar como seria o desenvolvimento dos edifícios ao redor deles".

Guyett comentou também que quase todas as cenas que mostram o elenco ao ar livre, quer sejam na Terra ou em outro planeta, foram filmadas em exteriores, já que J.J. Abrams e ele preferem sempre usar luz natural. "A luz natural dá ao filme um realismo que é quase impossível de obter em estúdio, mesmo depois que colocamos os efeitos especiais em cima". Ele demonstrou isso mostrando sequências antes (com os atores em pequenos cenários construídos fora do estúdio) e depois dos efeitos especiais (que ampliam o escopo e a ambientação).

Como aconteceu nos últimos filmes da Trilogia O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, o novo Star Trek terá variação de formato no IMAX. "Temos cerca de 40 minutos filmados em IMAX, o restante é convencional, então entre essas cenas haverá a abertura da tela. No início achei que seria esquisito, mas na verdade, se você faz direito, quase nem se percebe a transição", comentou Gyuett, que está trabalhando há 20 meses no filme.

"Você quer se desafiar a cada filme que faz - e trabalhar com J.J. Abrams é um dos maiores desafios do mundo, mas um dos mais satisfatórios, pois ele traz uma fusão perfeita entre arte e fantasia/aventura. Você consegue criar coisas realmente belas, sem esquecer do entretenimento", completou.

Star Trek - Além da Ira de Khan

Durante nossa visita, foi-nos solicitado que não comentássemos detalhes da trama do filme, mas com a Internet inteira fervilhando com informações, é hora de darmos nossas próprias opiniões sobre um dos assuntos mais comentados da sequência: Benedict Cumberbatch, que interpreta o vilão, é ou não é a nova versão do clássico Khan?

J.J. Abrams, logo de início, explicou: "o nome dele é John Harrison - e ele será um vilão muito mais intelectual e desafiador que Nero, do primeiro filme. Eric Bana fez um ótimo trabalho, mas o personagem era mais limitado, mais simples", comentou, defendendo que o problema da história de origem era estabelecer a tripulação e suas conexões. Para Além da Escuridão - Star Trek, Abrams promete um inimigo muito mais complexo e cheio de nuances, "sem limites".

Até aqui, tudo o que sabemos de John Harrison é que ele é um brilhante estrategista que integrou a Frota Estelar e agora age contra ela, motivado por vingança. Considerado um terrorista, ele foi responsável por dois grandes ataques: um a Londres e outro aos EUA. O personagem teve acesso a informações de alta patente que o Capitão Kirk sequer desconfia existirem.

Como todo bom antagonista, ele será, segundo as palavras de Chris Pine à revista Empire, "a sombra de Kirk e seu ponto fraco. Um reflexo ampliado de todas as inseguranças de Kirk, que ele vê claramente. É tão lógico e inteligente quanto Spock, mas um sujeito muito, muito mau e durão. Ele é quase super-humano e invencível. Poderoso física e mentalmente e capaz de manipular qualquer um, mesmo quando aprisionado. É uma espécie de Hannibal Lecter nesse sentido".

Permanece, porém, a impressão geral de que Harrison está, de alguma maneira, relacionado à existência de Khan Noonien Singh (Ricardo Montalban), um dos mais icônicos vilões de Jornada nas Estrelas. Surgido na década de 1960 como parte do episódio "Space Seed" da Série Clássica, Khan foi descoberto em sono criogênico em uma nave à deriva nos confins do espaço. Como Harrison, ele é um estrategista, líder nato, superforte e dotado de uma inteligência superior. Seu nascimento, produto de manipulação genética e eugenia, porém, data da década de 1990, quando ele foi pivô das chamadas "Guerras Eugênicas", o último grande conflito em escala planetária da humanidade.

O fato da linha do tempo alternativa proposta por J.J. Abrams da sua série/reboot Star Trek estar situada milênios à frente da década de 1990, porém, sugere que o Khan que conhecemos na Série Clássica deveria ser exatamente o Khan que veríamos na franquia reformulada no cinema. Afinal, por anteceder a bifurcação temporal, ele não poderia sofrer mudanças tão radicais dentro das regras da ficção científica estabelecidas para o gênero. Fica a dúvida, portanto, se Abrams criou alguma nova espécie de relação entre Khan e Harrison. Seria o personagem de Cumberbatch um cientista geneticista (como ficou claro no preview de 8 minutos que foi revelado antes de O Hobbit) que deparou-se com a "fórmula" para Khan e aplicou-a em si mesmo (as tais informações privilegiadas que ele descobriu)? Ou talvez um clone do original, um descendente de alguma maneira?

De qualquer forma, com as várias pistas que Abrams está deixando de que o personagem pode ser Khan e a presença da doutora Carol Marcus (Alice Eve), personagem criada em 1982 para o filme Jornada nas Estrelas: A Ira de Khan, parece ilógico (Spock ficaria orgulhoso com a escolha de palavras) que Abrams não se utilize do vilão - ou ao menos seu legado - em Além da Escuridão - Star Trek.

Star Trek - Além dos figurinos e objetos de cena

A visita continuou com a figurinista Ann Foley e o responsável por objetos de cena (os chamados "props") Andy Seagal. Ambos mostraram diversos figurinos do filme, além de objetos importantes para a produção. Alguns são versões melhoradas de Star Trek, outros são criações totalmente novas.

"Pesquisar materiais é uma das partes mais difíceis do trabalho", explicou Ann. "Eles precisam parecer futuristas, mas funcionais - e muito legais". Para tanto, a produção conta com uma fábrica em Nova York que pesquisa e desenvolve novos materiais, que podem ou não ser empregados pela indústria anos à frente.

O design de tudo, por sua vez, é baseado na simplicidade. Em comparação ao primeiro filme, alguns objetos icônicos, como os tricorders ou phasers, ficaram mais limpos e tecnológicos, "uma abordagem da Apple à Federação". O custo de fabricação dos "hero props", os objetos de cena que aparecem em close-ups e em cenas importantes, foram às alturas. As armas, por exemplo, custam 10 mil dólares cada, pois têm movimentação eletrônica na simulação de recarga que dispensa o uso posterior de efeitos especiais. "Precisa ficar tudo perfeito, pois tanto as roupas como os equipamente aparecerão ampliados dezenas de vezes em uma tela IMAX. O que parece um defeitinho a olho nu vira um defeito gigantesco na telona se estiver em close", explicou Seagal. "Esse é o nosso maior desafio. Criar objetos e figurinos que pareçam perfeitos, ao mesmo tempo em que cumpram sua função na trama e parecem legais".

Para os profissionais, um dos maiores desafios foi a roupa de exploração vulcânica de Spock. "Quando você precisa criar algo que aparente uma função quase impossível, como proteger o usuário das temperatura do núcleo de um vulcão, é sempre um grande problema. A roupa final, com umas escamas metálicas de uma suposta liga alienígena, era pesadíssima, mas ficou incrível. Você acredita que ela é capaz daquilo que aparece fazendo no filme. O mesmo pode ser aplicado à bomba que Spock carrega em uma maleta, fizemos uns 20 designs dela", explicou Seagal. "Já as coisas mais fáceis são os tecidos rústicos, que Kirk e McCoy aparecem vestindo no planeta cheio de nativos do começo do filme. Eles são bem crus e pesados, no nível tecnológico daquela civilização. Só demos cores distintas a eles para o que o público conseguisse identificá-los no meio da ação".

A dupla explicou também que quando surge a oportunidade de criar algo novo, eles sempre buscam a Série Clássica como referência. Os klingons de Além da Escuridão - Star Trek, por exemplo, foram extrapolados do que já existia, mas ganharam novas características e detalhamentos. "Com eles, tudo é influenciado pela barbárie, como as lâminas, armaduras e armas", seguiu Seagal, enquanto mostrava manequins de guerreiros da raça empunhando armas pesadas que parecem uma mistura de alabarda como escopeta e com seus capacetes (aparecerão klingons de rosto descoberto também, com piercings metálicos).

O ponto de partida é o cânone, mas a linha temporal nova permite mudanças, portanto.

Star Trek - Além das criaturas

David Anderson, chefe de maquiagem de Além da Escuridão - Star Trek, apresentou o penúltimo segmento da visita aos estúdios Bad Robot: o departamente em que são criadas as criaturas com efeitos práticos (sem computação gráfica).

Nas prateleiras, cabeças de diversos formatos e cores, uma amostra da variedade do universo de raças de Jornada nas Estrelas. Entre elas, a mais conhecida de todas: o rosto vulcano do Sr. Spock (Zachary Quinto). Com orelhas pontudas moldadas para se encaixarem perfeitamente na cabeça do ator, o desafio diário maior é ajustar as sobrancelhas. Quinto leva alguns minutos todos os dias para retirar (ele mesmo) qualquer fio que esteja crescendo. Ele o faz com a ajuda de uma máscara vazada, que mostra exatamente qual parte da sobrancelha deve sair. Depois, durante 45 minutos, Anderson cola, fio a fio, os cabelos naturais para cima, formando a parte pontuda da sobrancelha, com a ajuda de um segundo molde vazado.

Igualmente curioso é o processo que transforma Jeremy Niburans em uma raça alienígena inteira. Nascido com a fronte pronunciada e traços bastante distintos, o ator serviu de molde para a raça do planeta em que o novo Jornada nas Estrelas começa. Ele atua como todos os alienígenas em primeiro plano nas cenas, sendo que os que estão em segundo plano são maquiados como ele. Já os do fundo levam apenas máscaras comuns com suas feições. Para interpretar os personagens, Niburans foi totalmente depilado e pintado e ganhou maquiagem prostética no rosto, como um segundo par de narinas.

Pra completar, Anderson mostrou os novos klingons de Além da Escuridão: Star Trek. Os grandes antagonistas da Série Clássica são interpretados por homens corpulentos, que têm seus rostos cobertos por maquiagem de silicone para dar os traços da raça. A novidade é que foram cobertos de piercings, para aumentar a sensação de ameaça de seu visual. Cada ator passa por seis horas de maquiagem para poder ir ao set - o que significa que em dias de filmagens com klingons a equipe de Anderson começa a trabalhar às 2h da manhã.

Star Trek - Além da trilha sonora

A "expedição" pela Bad Robot terminou no estúdio de Michael Giacchino, o compositor do primeiro Star Trek, que retorna para Além da Escuridão.

Dono de um Oscar pela trilha sonora de Up - Altas Aventuras (2009) e indicado também por outro filme da Pixar, Ratatouille (2007), além de colaborador frequente de J.J. Abrams em todos os seus filmes e séries como Lost e Fringe, Giacchino nos recebeu com uma apresentação completa sobre o papel da música no cinema e deu uma aula sobre o tema.

O compositor mostrou a mesma cena - a fuga de Kirk e McCoy do início do filme - em três versões diferentes: só com efeitos sonoros, só com música e com efeitos e música, apontando como cada das primeiras sempre deixa algo a desejar, até que a fusão aconteça. "A música é um guia emocional para a trama. Ela precisa conversar com a história o tempo todo", explicou. Realmente, acompanhar a sequência inicial sem a composição dava margem a diversas interpretações da cena.

Giacchino comentou também que parte da sua diversão no novo Jornada nas Estrelas foi desenvolver temas específicos para cada elemento, em particular o da USS Enterprise - e suas variações.

"O papel de trilha sonora é dizer ao público o que sentir, algo que o texto não consegue", concluiu entre mixers, um piano, intrumentos diversos e inúmeras telas na salinha sutilmente iluminada, com um janelão ao lado, onde via-se o estúdio de gravação.

Nossa visita chegou ao fim, mas a cobertura do filme está muito longe de terminar. Aguarde entrevistas com o elenco e executivos aqui no Omelete!

Chris Pine, Zachary Quinto, Zoe Saldana, Simon Pegg, John Cho, Karl Urban e Anton Yelchin retornam para o longa. Alice Eve faz uma personagem misteriosa, Benedict Cumberbatch interpreta o vilão principal e Peter Weller vive o auxiliar do vilão - leia a sinopse oficial de Além da Escuridão - Star Trek.

Além da Escuridão - Star Trek estreia em 14 de junho de 2013.

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