[Spoilers de The Book of Boba Fett, “Capítulo 6”]
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Com um ritmo mais comedido que outras séries da franquia Star Wars, O Livro de Boba Fett demorou um pouco mais do que o esperado para entrar nas graças de alguns fãs. Talvez por não trazer o clone mandaloriano impiedoso que o público imaginava que Fett (Temuera Morrison) seria ao assumir o trono de Jabba, ou talvez apenas por saudades do pequeno Grogu, a série do Disney+ não tinha, até semana passada, atingido o nível de engajamento que sua predecessora, The Mandalorian. Se isso mudou com a aparição de Din Djarin (Pedro Pascal) no quinto episódio, o “Capítulo 6” dessa primeira temporada fez o público lembrar por que o universo criado por George Lucas é um fenômeno tão grande. Com doses certeiras de nostalgia e um bom uso do fan-service, o episódio desta semana entregou o que os espectadores esperavam ver desde as primeiras cenas da produção.
Logo nos minutos iniciais, o novo capítulo de Boba Fett constrói uma base emocional muito mais sólida do que a apresentada nos episódios anteriores. Os retornos de Cobb Vanth (Timothy Olyphant), Luke (Mark Hamill) e Grogu - além, é claro, de Din - oferecem uma conexão que ainda não se estabeleceu com o personagem-título. Não porque o clone seja mal desenvolvido ou pouco carismático, mas porque esses outros personagens são um lembrete da vastidão do universo Star Wars e recuperam o sentimento de exploração intergalática associado à franquia.
O “Capítulo 6”, aliás, faz vários acenos ao futuro de Star Wars, dentro e fora das telas. Enquanto traz novos vislumbres do cânone ao mostrar Luke como um ainda inexperiente mestre tendo que lidar com um aprendiz hesitante, o episódio também acena para produções futuras, como a série solo de Ahsoka. A ex-Jedi vivida por Rosario Dawson retorna como uma “amiga da família” Skywalker e uma espécie de conselheira de Din, mostrando mais do crescimento da personagem e reforçando a personalidade sábia e responsável com a qual ela deve protagonizar a própria produção.
O que não quer dizer que o “Capítulo 6” larga completamente os eventos da própria produção. O personagem de Olyphant, por exemplo, é responsável por mostrar o perigo apresentado pelo sindicato que usa Tatooine como rota para o tráfico de especiaria. É ele também que simboliza o ponto de virada na relação entre o povo do planeta desértico e as facções governantes, que deixa de ser uma coexistência semi-pacífica para dar lugar ao princípio de uma revolta liderada por Fett e seus aliados.
Embora seja o episódio mais emocionante de Boba Fett até agora - e, talvez, o melhor -, o sexto capítulo é também aquele que evidencia o principal problema da série. Por mais interessantes que sejam, Boba e Fennec (Ming-Na Wen) não conseguem competir com a vastidão da galáxia estabelecida em The Mandalorian, que apresentava semanalmente novos personagens carismáticos. Por mais elogiável que seja a sequência de acontecimentos mostrada na produção, especialmente o tempo que Fett viveu entre o Povo da Areia, ela não consegue competir com a jornada de milhares de parsecs vivida por Din e Grogu. Mesmo com explosões, intrigas políticas e a aparição do sempre fantástico Danny Trejo, é difícil não ver a permanência do ex-caçador de recompensas em Tatooine como monótona depois de um certo tempo.
Essa falta de apego a Boba Fett e seus personagens fica ainda mais evidente nos segundos finais. Apesar do retorno surpreendente do intimidador Cad Bane (Corey Burton) como um agente dos Pyke e da promessa de um grande reencontro entre os caçadores de recompensas, a grande ânsia do público acaba focada na decisão de Grogu após o ultimato de Luke. Por mais bonita e bem escrita que a série seja até aqui, é sintomático que seus melhores capítulos sejam justamente aqueles que menos focam no personagem que a batiza.
Fazendo um uso espetacular do fan-service como forma de avançar sua trama, O Livro de Boba Fett traz mais uma deliciosa hora de imersão em Star Wars. Nostálgico sem desviar os olhos do futuro, o “Capítulo 6” é mais um alto patamar alcançado por Jon Favreau e Dave Filoni. Basta saber agora se a série como um todo conseguirá manter esse padrão se retornar para uma eventual segunda temporada.
