Não faltaram grandes vozes no Summer Festival 2012, que aconteceu nesta terça-feira em São Paulo, na Arenha Anhembi.
Bruno Mars
Rox
Dionne Bromfield
Florence and the Machine
Seu Jorge
Dionne Bromfield, afilhada de Amy Winehouse - que tocou neste mesmo festival em 2011 - abriu as atividades com muita empolgação e uma linda voz. A plateia não estava muito participativa, afinal aquele ainda era o primeiro show e o sol ainda brilhava no céu. Sem se abalar, Bromfield interagia com o público com seu jeito cativante, porte petite e, apesar da idade (ela completa 16 anos na próxima semana), demonstrou muita segurança - e com uma voz tão potente como aquela, não há mesmo muito motivo para inseguranças.
No repertório, músicas de seu tua turnê atual, como "Move a Little Faster", "Good for the Soul", faixa título de seu segundo disco, e "Foolin", que foi seu segundo single no Brasil e teve mais adesão do público. A animação geral veio mesmo com um cover de "Forget You", a música de Cee Lo Green em versão comportada. Fez ainda uma homenagem à sua madrinha, misturando as músicas "Ain't No Mountain High Enough", cover de Marvin Gaye e Tammi Terrell que consta em seu álbum de estreia, e "Tears Dry On Their Own". Ao final do show, Dionne Bromfield era ovacionada pela plateia e, cheia de sorrisos emocionados, anunciou sua última música e single atual, "Yeah Right", fazendo todos dançarem com gosto.
A segunda atração da noite foi a também britânica Rox e, se o festival começou com uma garota-prodígio, agora tínhamos no palco uma mulher. Ao som dos primeiros acordes de "Bang Bang (My Baby Shot Me Down)", Rox entrou no palco cantando a icônica música de Nancy Sinatra e já engatou "No Going Back", seu single de estreia, lançado em 2009. Vestindo um longo azul com uma fenda na perna, salto alto e batom vermelho - quase uma diva à moda antiga, se não fosse por seu cabelo curtinho e descolorido -, a cantora conduzia seu show com muita sensualidade e ia aos poucos conquistando a plateia, pouco familiarizada com suas canções.
Depois de levantar o público com o raggae "Rocksteady", o show animou mesmo com "My Baby Left Me", sua música mais conhecida no Brasil, por ter sido trilha sonora de uma novela da Rede Globo, Araguaia. Rox ainda trouxe uma pitada pop com um cover mais lento de "Only Girl in the World", que muitos demoraram para associar ao hit de Rihanna, e os que reconheceram esperaram em vão as batidas batidas dançantes. Com muita presença de palco, Rox foi encerrando seu show com "Breakfast in Bed", "Precious Moments" e "I Don't Believe".
Cerimoniosamente Florence
Seguindo o conceito de seu novo álbum, Ceremonials, o palco do Florence and The Machine foi montado como um templo. Ao fundo, uma projeção de vitrais art déco acompanhava uma enorme harpa e um piano, compondo o clima sacro. A vocalista Florence Welch entrou no palco com um vestido longo de mangas esvoaçantes (seguindo a paleta de laranjas e amarelos da projeção), que faziam com que suas danças suaves e linguagem corporal nos remetessem a algum ser etéreo, quase como uma elfa ou fada, prestes a transcender.
O setlist equilibrou músicas do primeiro álbum, Lungs (2009), e seu lançamento mais recente, que já teve grande adesão do público. A banda abriu seu show com a poderosa "Only If for a Night", que também abre o segundo disco do grupo, seguida de "What the Water Gave Me". Em suas interações com a plateia, Welch transmitia muita doçura e amorosidade, contrastando com sua voz potente. De fato, não faltou amor entre plateia e banda, especialmente no hit "You've Got the Love", que seguiu "Cosmic Love". Outro momento bonito do show foi a homenagem de Florence Welch a Etta James, cantando a capella "Something's Got a Hold On Me", a música que a fez ser descoberta, em 2007.
Os pontos altos da apresentação foram sem dúvida "Shake It Out" e o hit "Dog Days Are Over", indo contra a abordagem conservadora usada por muitos artistas em turnê internacional (e que predominou no Rock in Rio 2011, por exemplo), que é deixar seu maior sucesso para o fim, para fechar o show em clima de catarse total. Com Florence and The Machine, a loucura veio lá pelo meio, fazendo a plateia pular e se entregar, e foi seguida de um respiro com "Rabbit Heart (Raise It Up)", "Spectrum" e, para fechar, a linda "No Light, No Light". O show chegou ao fim com um sentimento de completude misturado com um desejo de que ela ficasse ali por mais uma hora, cantando todas as músicas de seu repertório. Como conseguiria alguém se apresentar depois daquilo?
Sem esforços para o Brasil
Realmente, não foi tarefa fácil para Seu Jorge conquistar a plateia em sua posição desconfortável no line-up, pois aqueles que não estavam extasiados por Florence and The Machine, estavam esperando ansiosamente por Bruno Mars, headliner do festival. No entanto, a impressão que ficou é que talvez o brasileiro nem quisesse conquistar ninguém, se afinal todos estavam ali era para ver os gringos. Vestindo um impecável terno vermelho e óculos escuros, Seu Jorge chegou ao palco sem cumprimentos para o público (quem ficou responsável pela maior parte das interações foi seu DJ) e levou o show em piloto automático - não foi à toa que durante sua apresentação só se falava de Ashton Kutcher, que estava na área vip com a modelo Alessandra Ambrósio. O setlist veio cheio de seus maiores hits, como "Minha do Condomínio", "Carolina", "Burguesinha", "Vizinha" e "A Doida", mas poucos cantavam junto, apenas dançavam, espalhados pela pista.
Da mesma maneira que chegou, Seu Jorge foi embora do palco sem se despedir, apenas virou as costas e foi. Quem sabe em um show só seu ele seja mais amistoso...
Loucura adolescente
Olhar o mar de garotas ansiosas pelo show de Bruno Mars foi um lembrete do poder que as rádios continuam a exercer, e se o cantor havaiano ainda não tem cacife para ser headliner lá fora, aqui no Brasil ele mostrou-se muito popular.
Seu som comercial combina soul, rock anos 50 e batidas "gostosinhas" à la Jack Johnson, mas não trazem nenhuma grande inovação. O fascínio ali está mesmo em seu jeitinho crooner e a maneira como ele joga sorrisos e rebolados para as garotas da plateia, que gritavam enlouquecidas por qualquer coisa que fizesse. O charme estava mesmo funcionando, tanto que começaram a gritar para ele o refrão de Michel Teló em inglês - seria "delicious, delicous, this way you're gonna kill me" o novo "lindo, tesão, bonito e gostosão"? A sorte é que Mars não entendeu nada e continuou seu show como se nada tivesse acontecido.
A apresentação foi animada e Bruno Mars mostrou-se muito competente ao vivo, sempre esforçando-se para agitar o público. Um elemento interessante era a quantidade de músicos no palco, às vezes transformando tudo em uma grande festa, com todos movimentando-se ao mesmo tempo. Em outros momentos, o show parecia-se muito com o de sua amiga Janelle Monáe (com quem chegou a fazer turnê pelos EUA), muito marcado com coreografias e os músicos do segmento de metais combinavam seus instrumentos com passos de dança. No setlist estavam seus maiores sucessos, como "Billionaire", "Runaway Baby", "Marry You", "The Lazy Song" e "Just the Way You Are", que emocionou aos fãs já no final do show. Voltou para o bis com "Talking to the Moon", e despediu-se de vez.
Em 2011, o Summer Soul Festival chegou à sua segunda edição com a intenção de amarrar bandas heterogêneas por sua inspiração soul. Enquanto o evento foi sem dúvida um sucesso comercial, com 22 mil pessoas na plateia, a mistura ficou um pouco estranha para quem assistia, e a escalação que começou tão coesa deixou alguns pontos de interrogação ao fim da noite. Fica o desejo que o festival se mantenha mais fiel ao seu título no ano que vem.
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Fotos: Stephan Solon