Poucos fãs são tão apaixonados quanto os de Supernatural. A série, que acompanhava Dean (Jensen Ackles) e Sam Winchester (Jared Padalecki), durou 15 temporadas e mostrou os irmãos protegendo a humanidade de criaturas sobrenaturais como fantasmas, lobisomens, vampiros, anjos e demônios. Por uma década e meia, a CW capitalizou o sucesso do programa, renovando-o até o próprio elenco decidir que estava na hora de seguir em frente. Aproveitando o carinho que o público tem pelos personagens do seriado, a emissora encomendou The Winchesters, série prelúdio que mostrará o começo da história de amor de John (Drake Rodger) e Mary Winchester (Meg Donnelly), pais de Dean e Sam.
No entanto, é um consenso entre os fãs que Supernatural passou - e muito - de sua validade. Quando chegou ao fim, em 2020, a produção já era apenas uma sombra da história emocionante que estreou em 2005 e apostava demais em mortes aleatórias, reviravoltas previsíveis e algumas tramas requentadas anualmente, o que machucou a reputação da série em sua reta final. O novo derivado, por isso, pode (e deve) usar o retrospecto do seriado original para investir mais em pontos adorados e desviar dos obstáculos que deixaram a jornada de Sam e Dean tão desequilibrada.
O primeiro erro a ser evitado por The Winchesters é a duração. Supernatural surgiu com um plano relativamente claro para ser encerrado em cinco anos, após Sam e Dean impedirem o apocalipse. A ganância da CW falou mais alto, levando a várias renovações desnecessárias e à quebra dos planos originais dos roteiristas, que se viram obrigados a costurar tramas cada vez mais desconexas para entregar à emissora. Com um fim já definido - quando Mary e John abandonam a vida de caçadores para cuidar dos filhos -, o prelúdio pode se concentrar em criar uma história mais concisa e que escape das várias idas e vindas da série original.
Outro elemento de Supernatural que poderia ser completamente esquecido por The Winchesters é a insistência em mortes temporárias. Dean, Sam e até Castiel (Misha Collins) já morreram e voltaram à vida algumas vezes, diminuindo o envolvimento emocional do público, que passa a ver essas várias mortes apenas como uma jogada de marketing que seria revertida em poucos episódios. O novo prelúdio se beneficiaria demais ao não voltar atrás em eventos fatais, permitindo que o final trágico de personagens tenha um impacto real em suas tramas.
Assim como as mortes reversíveis, Supernatural também forçou conflitos cíclicos e bobos entre Sam e Dean para que a dupla se separasse - em sequências raramente permanentes, que passaram a ser tratadas de forma preguiçosa pelos roteiristas. Sim, o romance de John e Mary deve, muito provavelmente, passar por altos e baixos (como todo relacionamento) mas seria ótimo para o público e para a própria série se os problemas do casal servirem para algo além de uma simples conveniência de roteiro.
Por outro lado, os anos “a mais” de Supernatural também apresentaram conceitos que merecem ser explorados mais a fundo em The Winchesters, como o “abandono” de John por parte de seu pai e a criação nada normal de Mary em uma família de caçadores. Ver essas histórias se desenvolverem para além do envolvimento de Sam e Dean pode enriquecer ainda mais o cânone da franquia, ao mesmo tempo em que traz elementos familiares que chamem a atenção de velhos fãs.
A proposta de The Winchesters de dissecar o misterioso passado de John e Mary é, de fato, interessante. O universo de Supernatural tem muito espaço para expansão e descoberta, mas é preciso ter cuidado para que os problemas das temporadas finais do programa original não “contaminem” a nova história que está por vir.