Enquanto o Duran Duran se apresentava em um dos palcos principais do SWU 2011, o palco "New Stage", reservado aos artistas independentes, recebia o Hole, banda de Courtney Love - sempre lembrada como "a viúva de Kurt Cobain".
Hole
A vocalista chegou ao palco acompanhada de quatro garotas e as apresentou como "o novo Hole". Em seguida, três rapazes ocuparam os postos de guitarrista, baixista e baterista e, daí em diante, as amigas de Courtney – aparentemente todas brasileiras – fizeram o papel de dançarinas da apresentação.
Levemente embriagada, a vocalista iniciou o show sem acordes. Apenas anunciou que seria feito o cover de uma canção do U2, do álbum Achtung Baby. Aliás, o padrão de muita conversa e pouca música se manteria ao longo do show: Courtney Love diz que, nos EUA, consideram Gisele Bündchen apenas bonitinha, antes de tocar “Skinny Little Bitch”; deixa de cantar versos para acender cigarros; ordena que alguém traga um batom e tece alguns minutos de críticas sobre o modelo oferecido; e até pede presentes para a plateia. Um rapaz teve sua camiseta solicitada, pois continha a inscrição “Courtney be my bitch”. A cantora vestiu prontamente e falou que a peça ficaria em seu armário.
Entretanto, se as interrupções poderiam ser irritantes em outro show, fazem parte da mise-en-scène do Hole. As polêmicas são parte diária das notícias sobre a vocalista e espera-se algo próximo nos shows, embora a música em si também tenha méritos inegáveis. Com uma banda de apoio competente, Courtney Love é responsável por eventuais atravessadas na guitarra, mas é uma ótima cantora – nos momentos em que está, de fato, executando seu papel.
Revelações duvidosas
Em determinado momento, Love disse que um rapaz da plateia parecia com seu falecido marido, Kurt Cobain. Diante da empolgação dos presentes, pergunta se seu guitarrista sabe tocar “Pennyroyal Tea” ou “Where Did You Sleep Last Night”, canções consagradas pelo Nirvana. Esta última, segundo a vocalista, era a música do casal.
Algum tempo depois, diz que o álbum Siamese Dream, do Smashing Pumpkins, tem muitas músicas feitas para ela, por conta de seu relacionamento com Billy Corgan. Indo além, diz que, quando namoravam, não faziam sexo, mas trocavam cartas de amor – os versos “The killer in me is the killer in you”, de “Disarm”, teriam saído de uma das cartas escritas por ela. E então afirma que a próxima música foi escrita para Billy Corgan e toca “Violet”.
Repúdio a Dave Grohl
Perto do fim do show, um rapaz na plateia exibe uma foto de Kurt Cobain. Courtney diz que o gesto é rude, ameaça bater no rapaz e ordena que faça isso em um show do Foo Fighters. Após um breve silêncio, ameaça ir embora e sai do palco. Passados alguns minutos, o guitarrista Micko Larkin e uma das “dançarinas” pedem para que o público chame a vocalista de volta.
Já no palco, Love afirma não se importar com que as pessoas ouçam o Foo Fighters em casa, mas diz que Dave Grohl quer roubar o dinheiro de sua filha, Frances Cobain, em uma clara alusão aos conflitos a respeito dos direitos autorais das músicas do Nirvana. A confusão parece ter causado uma sobriedade em Courtney, que voltou levando o show mais a sério, sem errar letras e com mais dedicação.
No fim das contas, a sensação é de que a vocalista do Hole é assessorada por todos os lados, do roadie acendendo seu cigarro ao guitarrista passando as notas das canções e, assim, tem espaço para suas extravagâncias. Fica a esperança de Courtney escapar do mar de ressentimentos que quase finaliza a apresentação, continuar fazendo boa música e não seguir a letra de “Pacific Coast Highway”, uma das últimas canções: “Você sabe que estou me afogando”.
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Fotos: Pedro Carrilho