Um dos maiores diferenciais de A Lenda de Candyman (1992) para outros filmes de horror dos anos 1990 é seu ritmo mais lento, puxado por uma caprichada construção de tensão que se apoia sobre a dúvida comum que todos temos em relação às lendas urbanas: haverá nelas alguma verdade, ou serão apenas crendices populares e seus frutos? Para a trama do filme, essa resposta chega só após 40 minutos, em uma cena tão icônica quanto simultaneamente bela e arrepiante.
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Em um estacionamento vazio, a protagonista Helen Lyle (Virginia Madsen) é pela primeira vez confrontada por Candyman (Tony Todd). "Você não estava contente com as histórias, então eu fui obrigado a vir", ele diz, com uma voz grave, tão sedutora quanto ameaçadora. Observando aquele homem se aproximar, a acadêmica não grita, nem corre, mas o observa fixamente. Seus olhos, vermelhos e cheios de lágrimas. Seu rosto, paralisado em uma expressão de terror e fascínio. No semblante da atriz fica estampada a imponência de Todd no papel-título, em uma introdução singular para um personagem único do horror. Veja abaixo.
O que não fica claro ao assistir a cena, mas torna tudo ainda mais sinistro, é saber que a atriz não estava exatamete atuando nesse momento: avesso à ideia de ter sua protagonista gritando frente à presença fantasmagórica de Candyman, o diretor Bernard Rose decidiu que Madsen deveria ser hipnotizada pelo vilão. E, para isso, a levou para ser hipnotizada de verdade.
"Como alguém reage quando vê um monstro? A pessoa vai ficar gritando? Isso é irritante e é um barulho horrível, também. Quando ela encontrasse Candyman, ela estaria em um transe, como se não estivesse mais no mundo real", explicou o próprio Rose em um dos extras do DVD de O Mistério de Candyman. "Então, nessas cenas, se você olhar para Virginia, os olhos dela não piscam e eles ficam completamente vermelhos. Ela está hipnotizada".
"Olha, eu era uma atriz muito jovem na época", brincou Madsen em um featurette produzido para o Blu-Ray especial da Shout Factory de O Mistério de Candyman. "Então, nós fomos até um hipnotizador e eu disse: 'Olha, eu não vou funcionar para isso, porque é difícil para mim até meditar'. Só que a próxima coisa que eu percebo, enquanto eu tenho essa conversa com o hipnotizador, é que meu braço está erguido. E eu não tenho a menor lembrança de ter levantado o braço", lembrou.
Segundo a atriz, por mais que isso fosse "super arrepiante", ela logo pediu para ser submetida novamente à hipnotização, aceitando gravar as cenas de encontro entre Helen e Candyman sob efeito de um transe para o qual apenas Rose sabia a palavra-chave. "Quando Helen cai no feitiço de Candyman, meu rosto inteiro fica diferente e muito bonito. Eles colocavam ainda mais iluminador nele, mas a verdade é que algo incomum acontecia com a forma como que meus olhos se comportavam, e isso era porque eu estava nesse estado hipnótico. Eu nunca mais farei isso de novo em qualquer flme que seja", adicionou Madsen.
Mas, se estava hipnotizada, como Madsen ainda conseguia dizer as falas necessárias para as cenas? A atriz deu mais detalhes de sua percepção da realidade quando em transe também nos comentários do DVD do filme de 1992. "Quando ele começava a me hipnotizar, eu não ficava muito ciente dos meus arredores. Eu não conseguia ver a equipe, eu enxergava as luzes de um jeito muito enevoado, porque minhas pupilas dilatavam, e tudo que eu conseguia ouvir era Bernard", afirmou.
Com a promessa de resgatar o mesmo Candyman, mas deste vez sem o uso de hipnose, A Lenda de Candyman chega aos cinemas nesta quinta (26) sob a direção de Nia DaCosta e produção de Jordan Peele. No elenco, que traz o retorno de Tony Todd, estão Yahya Abdul-Mateen II, Teyonah Parris e Colman Domingo. Acompanhe o Omelete para saber mais sobre o novo filme e a saga como um todo.