O terror é formado por diferentes vertentes e subgêneros, e uma das mais famosas é, sem dúvidas, a dos zumbis. Desde o início do século 20, os mortos-vivos têm espaço garantido nos cinemas, na TV e em várias outras mídias.
A popularidade das criaturas também costuma oscilar bastante, sempre entre a popularidade e a saturação - talvez até morta ocasionalmente, mas nunca enterrada de vez. Aproveitando o levante dos comedores de cérebros com a iminente chegada de Army of the Dead: Invasão em Las Vegas, filme de Zack Snyder na Netflix, listamos abaixo sete filmes essenciais de zumbis para conhecer o subgênero dos mortos!
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A Noite dos Mortos-Vivos (1968)
Dir.: George A. Romero
Não foi George Romero quem criou os zumbis. O que o cineasta fez foi resgatar os monstros de lugares inóspitos, retirar o elemento de magia vodu associado à suas origens, e colocar os mortos-vivos direto na área rural dos Estados Unidos. As hordas famintas por carne humana agora não eram mais compostas por escravos sem vontade própria, mas sim por qualquer “cidadão de bem” - seja você, sua família ou seus vizinhos.
A Noite dos Mortos-Vivos é um filme de terror revolucionário não só pelo contexto de sua criação - elegendo um homem negro como protagonista em plena luta pelos direitos civis nos EUA - ou pela sua ambientação chocante para o público da época, mas também por combinar narrativa simples e eficiente com a produção de um filme B, dando-lhe um charme inigualável. Feito com trocados que o diretor juntou, o longa se desenrola em uma locação só, e garante seu impacto nas várias intrigas de personagens tão diferentes discutindo como sobreviver ao apocalipse enquanto se refugiam em uma frágil casa, cercada pelos mortos. O longa é repleto de tensão, conflito e também uma das conclusões mais traiçoeiras e poderosas já feitas no horror, garantida pelo excelente trabalho que Duane Jones fez no protagonista Ben, a única pessoa sensata em meio ao grupo de sobreviventes. Aqui, Romero estabelece a base absoluta do subgênero: os mortos ameaçam pelos números, mas são os vivos que representam o verdadeiro perigo.
Totalmente único e atemporal, A Noite dos Mortos-Vivos pode ser considerado a origem do zumbi moderno não só por estabelecer muitas das ideias replicadas até hoje no gênero, mas também por, acidentalmente, ter sido lançado em domínio público, o que garantiu que fosse exibido e copiado amplamente. Toda publicidade é boa publicidade, certo?
O Despertar dos Mortos (1978)
Dir.: George A. Romero
Romero lançou sua carreira e um subgênero de terror com A Noite dos Mortos-Vivos, mas a sua obra mais influente só viria uma década depois. No final dos anos 1970, o cineasta manifestou toda a sua acidez e criatividade em O Despertar dos Mortos. No filme, após vivenciar o início do apocalipse zumbi, um grupo de sobreviventes busca refúgio em um shopping-center tomado pelos mortos.
Na época que foi feito, shoppings estavam lentamente se espalhando pelos Estados Unidos. Romero aproveitou o boom pra apontar o dedo na cara do consumismo e retratar as massas como zumbis que, mesmo após a morte, continuam vagando pelas lojas e corredores. Não à toa, a ambientação se tornou uma das mais icônicas do gênero, pelo seu comentário social e também pelo apelo estético. Ajuda que a produção seja estrelada por um elenco altamente carismático, e conta ainda com toda a nojeira visual de Tom Savini, mestre da maquiagem e dos efeitos especiais.
O Despertar dos Mortos não é só o ápice da carreira de George Romero, como também é, sem dúvidas, o filme de zumbis mais influente já feito. Quando o gênero começou a desacelerar no começo dos anos 2000, ganhou um remake pela dupla de cineastas novatos Zack Snyder e James Gunn na forma de Madrugada dos Mortos (2004), que garantiu uma renovação aos zumbis por pelo menos mais uma década. Apesar de não ter um item próprio aqui na lista, Madrugada dos Mortos também é recomendação certeira.
A Volta dos Mortos-Vivos (1985)
Dir.: Dan O’Bannon
Os zumbis, assim como muitos monstros do terror, tiveram o seu pico de popularidade nos anos 1980, muito graças a várias produções italianas questionáveis e imitações que colocaram as criaturas como marcos do cinema alternativo. Um dos filmes que frequentemente se perde entre os demais é A Volta dos Mortos-Vivos, comédia que praticamente definiu o imaginário popular dos monstros como comedores de cérebros.
Aqui, um grupo de adolescentes busca um lugar para curtir, e decide fazer sua festinha no cemitério. O problema é que o local é vizinho a um galpão médico, que acidentalmente solta gases tóxicos na atmosfera. Quando a chuva cai, os mortos se levantam, e passam a perseguir os jovens. O longa marcou a estreia de Dan O’Bannon, roteirista de Alien - O Oitavo Passageiro (1978), na direção, e merece um espaço em toda boa maratona.
Além de ser um filme ridiculamente divertido, cheio de nojeira, gritaria e uma ótima trilha sonora, é altamente marcante. Se a sua imagem mental de zumbis são criaturas caindo aos pedaços, que rastejam dizendo “Braaaaains”, saiba que foi em A Volta dos Mortos-Vivos que isso surgiu.
Extermínio (2002)
Dir.: Danny Boyle
Extermínio tem tudo que você espera de um filme de zumbi e mais, além de ter sido um dos primeiros longas a introduzir o público ao conceito de zumbis rápidos. Lançado em 2002 e dirigido por Danny Boyle, o filme parte exatamente da mesma premissa interessante que The Walking Dead (lançada um ano depois, diga-se de passagem): aqui, nosso protagonista acorda de um coma e vê o mundo pós-apocalíptico sem entender nada.
Amplamente bem-recebido pela crítica, Extermínio tem belas cenas de ação, uma baita direção (as primeiras cenas de Cillian Murphy andando por Londres vazia são inesquecíveis) e ainda é carregado de drama. Contando ainda com Naomie Harris, Brendan Gleeson e Christopher Eccleston, o filme de zumbis de Danny Boyle é um dos responsáveis pelo revival do gênero no pós-2000, ao lado da franquia de Resident Evil.
Todo Mundo Quase Morto (2004)
Dir.: Edgar Wright
Ao contrário dos outros filmes da nossa lista, Todo Mundo Quase Morto não é um filme de terror, mas uma comédia, e isso não o torna menos essencial. Uma homenagem clara ao gênero de mortos-vivos, o primeiro filme grande de Edgar Wright, de 2004, já comprovou a habilidade do diretor de fazer referência sem perder autenticidade, além de ter fornecido uma prévia do que todo mundo viria a elogiar em Baby Driver, seu talento em casar cena e trilha sonora.
Retratando um apocalipse zumbi clássico - sem explicação de origem, firulas ou zumbis frenéticos - Todo Mundo Quase Morto é mais uma comédia romântica, onde o protagonista Shaun sai em uma missão para manter sua família, amigos e sua ex-namorada seguros durante o caos. O longa ganhou o BAFTA independente de melhor roteiro, recebeu elogios de George Romero e Quentin Tarantino e se tornou um clássico cult.
Guerra Mundial Z (2013)
Dir.: Marc Forster
Já que estamos falando de mortos-vivos, porque não esquecer completamente as regras e coerências? Se esse é o seu tipo de filme, Guerra Mundial Z certamente é para você. Não ligue muito para a trama: o que esse filme tem para oferecer é Brad Pitt no contexto de um apocalipse zumbi absoluto, rápido, gigante e com zumbis que se empilham um em cima dos outros do jeito que o cinema nunca viu antes.
Baseado no livro homônimo de Max Brooks, mas totalmente distante da obra original, Guerra Mundial Z traz um apocalipse mundial inescapável, com Pitt em busca de uma cura para salvar sua família (e, quem sabe, a humanidade também). Com uma trilha sonora marcante e cenas totalmente aceleradas, Guerra Mundial Z elevou o zumbi ao blockbuster megalomaníaco, marcando o cinema como o filme de mortos-vivos mais caro da história.
Train to Busan - Invasão Zumbi (2016)
Dir.: Yeon Sang-ho
Em 2016, o gênero de zumbis já podia ser considerado como saturado. Os monstros haviam deixado os holofotes sem nenhuma grande produção, com exceção de The Walking Dead, que já era criticada por se arrastar mais do que deveria. Quem resgatou as criaturas em um sucesso inesperado não foram os estadunidenses, mas sim os sul-coreanos. O excelente Invasão Zumbi (ou Train to Busan) surgiu de surpresa e logo se tornou uma das melhores produções com mortos-vivos.
Dirigido por Yeon Sang-ho, o longa acompanha um pai que leva a filha para passar uns dias com a mãe na cidade de Busan, na Coreia do Sul. Durante a viagem de trem, porém, uma infecção rapidamente toma conta do país, e os mortos se infiltram entre os passageiros. Lá atrás, em 1968, George Romero estabeleceu que, no apocalipse zumbi, os vivos são o problema, e o filme segue isso à risca, prezando pela empatia e pela cooperação mesmo quando o pior lado dos humanos dá as caras em momentos de desespero. Train to Busan é uma obra repleta de bondade e coração, mas sem se esquecer de entregar doses enormes de tensão e mortos-vivos ágeis e grotescos em medidas iguais.