O terceiro episódio de The Last of Us estreou essa semana e já gerou vários memes e lágrimas dos fãs - até os do game da Naughty Dog foram pegos de surpresa. Isso porque a história de Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) foi bastante alterada para se encaixar na mensagem que a HBO quer passar com a série.
Saiba quais são as diferenças entre a série e o jogo da PlayStation.
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AVISO: Os próximos parágrafos contêm spoilers tanto da adaptação quanto do game! São também mencionados temas sensíveis, como suicídio.
SEMELHANÇAS
A caracterização de Offerman ficou bastante parecida com Bill do jogo, com o penteado, barba e o fato de ele estar constantemente armado para o que der e vier. A série consegue enriquecer mais o personagem ao mostrar ele mais ligado ao sobrevivencialismo (estilo de vida que prepara a pessoa para situações de emergência) e mostrando que ele é ligado a uma filosofia exibindo a bandeira de Gadsden (utilizada como símbolo do liberalismo clássico e ligada aos movimentos de extrema-direita).
Assim como no jogo, o Bill de Offerman é bastante metódico, individualista e pouco flexível, mas é o seu mecanismo de sobrevivência. Ambos têm um território para chamar de seu, a diferença seria o cenário: no game da PlayStation, Bill tem a cidade de Lincoln em um ambiente mais urbano com prédios, enquanto no seriado há um ar mais cidade do interior, com casas e um território mais limitado de dominar - o que seria mais plausível.
E FRANK?
No game, o relacionamento entre Bill e Frank é dito num tom mais tímido, mas o motivo é mais trágico em relação à adaptação. No jogo, quando Ellie e Joel chegam na cidade, eles precisam passar por corredores e armadilhas espalhadas por Bill até chegar onde está o próprio. Em um determinado momento, Bill menciona de forma amena que tinha um parceiro chamado Frank - sendo apenas os dois únicos sobreviventes da cidade - e que eles tiveram uma desavença e ele sumiu. A conversa tem o mesmo tom de “precisar de alguém para proteger”, mas mais sombrio:
“Uma vez, eu tinha alguém com quem me importava. Foi um parceiro. Alguém de quem eu precisava cuidar. E neste mundo, esse tipo de merda serve para uma coisa: matar você.”; disse Bill para Joel.
Até esse momento, o jogo deixa dúbio o relacionamento entre os dois, pois também poderia ser interpretado como parceiros de contrabando. Mas isso cai quando encontramos Frank, embora não como imaginamos.
No jogo, Joel, Ellie e Bill vão até um colégio onde havia um carro militar abandonado há pouco tempo, mas chegando lá eles notam que a bateria foi roubada. Nisso, surge uma horda de infectados e eles fogem do local até se abrigarem em uma casa. Dentro do lugar, eles descobrem o corpo de Frank, pendurado em uma corda.
Ao lado do cadáver, há um bilhete de Frank para Bill. Nele, ele conta que Frank odiava profundamente Bill por conta de seus métodos e decidiu se separar. Seu plano era ir para a Zona de Quarentena, em Boston, e ele foi em busca de suprimentos e da bateria no carro militar, mas acabou sendo mordido por infectados. Para não virar mais um, Frank decide tirar a própria vida se enforcando.
“Acho que você estava certo. Tentar deixar esta cidade vai me matar. Ainda melhor do que passar mais um dia com você”; diz o bilhete. Bill se mostra abalado por ver o ex-parceiro morto, mas tenta parecer forte para Joel.
Por fim, Joel e Ellie seguem o seu caminho para levar a carga viva para os Vagalumes, enquanto Bill termina sua jornada sozinho, em uma cidade infestada de infectados.
VALEU A PENA A MUDANÇA?
Na narrativa do jogo, a história de Bill e Frank é um alerta para Joel tomar cuidado ao se relacionar, pois nem sempre há um final feliz nas relações. Já a série quis ir para um caminho oposto, mas que fizesse sentido para a trama da TV e a mensagem que querem passar para os dois protagonistas.
O Bill da série é uma pessoa rígida, que sempre priorizou a si mesmo antes da humanidade mesmo no momento de sobrevivência. Mas foi com Frank, com sua maneira oposta de ver o mundo e de confiar nos outros, que Bill se desarmou para mostrar e se permitir vulnerável em um mundo hostil aos humanos.
Além de apresentar um romance LGBT+, a série mostrou que é possível cultivar o amor e cuidado mesmo no solo mais impróprio (ou infectado) e na pessoa mais frígida - como na cena da colheita de morangos, que carrega a metáfora tão certeira. Por fim, Bill escreve para Joel na carta de despedida:
"Eu odiava o mundo, e fiquei feliz quando todos morreram. Mas eu estava errado, porque tinha uma pessoa que valia a pena salvar"
Essa mudança é importante para reforçar tanto o terceiro e último arco do capítulo como a frase de Tess pedindo para Joel cuidar de Ellie: “Salve quem você pode salvar”.
Em entrevista, Neil Druckmann, criador do jogo e produtor executivo da série, revelou que no começo não queria mudar a história dos personagens. Porém, com o trabalho de Craig Mazin, showrunner da adaptação, ele se sentiu mais à vontade para a mudanç. "Foi tão bonito e comovente e meio que atingiu o alvo no que diz respeito a falar sobre os temas e aumentar as apostas para Joel e Ellie de uma maneira interessante. Mesmo que estejamos nos desviando tanto, me senti completamente à vontade para dizer: 'Com certeza, vamos fazer isso. Essa é uma ótima ideia.'"
Como uma pessoa que jogou The Last of Us, posso dizer que não me fez falta a narrativa de Bill e Frank do jogo para a série. Sem hesitação, a série da HBO vem conseguindo provar que é uma adaptação capaz agradar tanto os fãs que têm carinho pelo jogo, com cenas e diálogos e, ao mesmo tempo, alterar elementos do roteiro e que façam sentido para o formato - agradando fãs e não-fãs do jogo, o que é um feito raro.