Henry Cavill se saiu muito bem como Geralt de Rivia na série de The Witcher. O personagem é particularmente desafiador de interpretar por ter emoções bastantes controladas, graças ao processo de mutações que passam os bruxos, mas também cheio de sarcasmo e um carisma meio sombrio. Embora agora seja possível ver que o ator se adaptou bem ao papel, Cavill não era o primeiro a ser considerado quando a adaptação foi anunciada. Na verdade, o ator trilhou um longo caminho para estrelar o seriado.
Quando a Netflix anunciou o programa em maio de 2017, alguns nomes começaram a ser discutidos pelos fãs, como Viggo Mortensen ou então Mads Mikkelsen. Naquela época, a imagem de Cavill era muito atrelada à do Superman - ao ponto do público da DC pedir sua volta até hoje. Não era imaginável que ele largaria a capa vermelha tão cedo, e seus trabalhos à parte do Homem de Aço eram, no mínimo, decepcionantes - como em O Agente da UNCLE (2015). Ironicamente o ator alcançou o estrelato graças à um papel medieval, como Charles Brandon em The Tudors. Mesmo assim, seus dias de super-herói ofuscaram o que veio antes.
Sem um currículo grande o bastante para gerar procura e com a sua imagem atrelada à um dos maiores heróis do entretenimento, Cavill precisava se arriscar para conseguir outro papel de peso. É aí que entram dois elementos muito importantes para sua eventual chegada em The Witcher. O primeiro é a sua escalação em Missão: Impossível - Efeito Fallout (2018), que não só demonstrou o seu potencial como ator de ação - saindo na mão com Tom Cruise, carregando metralhadoras gigantescas -, mas também foi instrumental na sua separação da DC.
Cavill "carregando os punhos" em Missão: Impossível
As gravações do longa ocorreram na mesma época das refilmagens de Liga da Justiça (2017), o que gerou toda a polêmica sobre o famoso bigode. O astro deixou os pêlos crescerem para seu papel em Missão: Impossível e a Paramount afirmou que ele não poderia raspar para as novas cenas do filme da DC. Isso gerou uma série de polêmicas e dificuldades técnicas para a produção dos super-heróis, que já passava por maus bocados. Não que Cavill tenha sido responsável por algo do tipo, mas o seu distanciamento, e o desempenho decepcionante do longa, devem ter indicado à Warner Bros. que era hora de repensar suas estratégias, o que levou à uma nova fase com Aquaman, Shazam! e, claro, Coringa.
O segundo elenco é que Cavill é um nerd gigantesco. Ele tem um profundo carinho por ficção científica e fantasia na literatura, e também é um grande entusiasta de videogames. Uma das histórias que sempre conta é como acidentalmente ignorou as notícias de que foi escalado como Superman, na época de Homem de Aço (2012), porque estava em partidas frenéticas de World of Warcraft. Mesmo recentemente, o ator fala orgulhosamente que prefere não trocar por nada a chance de ficar em casa curtindo uma jogatina: "Em casa, eu consigo jogar videogames por longas horas e abstrair", falou recentemente à GQ Magazine (via The Enemy). "Sair de casa tem o efeito contrário". Foi quando essas duas coisas se combinaram que o ator viu a chance de encarnar um de seus personagens favoritos dos jogos. Durante uma entrevista com o IGN US em agosto de 2018, para promover Missão: Impossível - Efeito Fallout, Cavill soltou que estava ciente de que a Netflix estava desenvolvendo uma adaptação de The Witcher, e que adoraria interpretar Geralt porque tinha acabado de rejogar The Witcher 3: Wild Hunt.
Não precisou de muito mais do que isso para a internet fazer o que sabe. O artista Bosslogic - um dos maiores responsáveis por “oficializar” casting de fãs - preparou uma arte com o ator usando a barba e cabelo do Lobo Branco. Essa representação visual ajudou a emplacar a ideia para uma grande parcela do público - ao ponto do próprio ator publicar as imagens em seu Instagram. Nos bastidores, Cavill foi implorar uma audição com a showrunner Lauren Hissrich. O processo de casting foi bem longo, mas ele conseguiu deixar sua marca na produção. Quando enfim foi oficializado como Geralt em setembro de 2019, a produtora-principal comentou do talento do intérprete: “Ele foi minha primeira escolha. Não tinha equipe de roteiristas e nem roteiros ainda - apenas a aprovação da Netflix e muita paixão. Isso foi há quatro meses, e nunca esqueci o carinho que ele trouxe. Ele É Geralt, sempre foi. Estou muito orgulhosa em receber Henry Cavill à família The Witcher", disse no Twitter.
Cavill então começou seu treinamento físico para interpretar o bruxo, mas sem se esquecer da pesquisa. Durante sua passagem pela CCXP19, Cavill afirmou ao Omelete como foi ir além dos games e se aprofundar nos livros de Andrzej Sapkowski, que servem como base para o programa. “Minha experiência lendo os livros foi fantástica! Minha introdução ao mundo de The Witcher foi pelos jogos, então eu já tinha aquela imagem na minha cabeça, mas a escrita do Sapkowski nos dá uma imagem muito mais detalhada. Isso me levou para uma jornada totalmente diferente. E como eu já sabia da existência da série enquanto estava lendo os livros, eu já conseguia imaginar como eu iria interpretar tudo, o que seria diferente e como essas coisas iriam se conectar com a minha experiência inicial e também com os livros.”
“Foi uma leitura muito interessante para mim porque a escrita é fantástica e me levou a uma jornada emocional”, explicou. O ator ficou tão investido que até elegeu um conto de foco mais romântico como o que mais lhe marcou.“Meu favorito é ‘Um Fragmento de Gelo’, de A Espada do Destino. É onde Geralt e Yennefer aparentam estarem felizes. Isso deixou um buraco em meu coração”.
Henry Cavill se provou ser um grande fã de The Witcher. Ainda que a percepção pública tenha sido abalada pelo primeiro teste de figurino, os fãs foram gradualmente confiando na ideia de ter o ator do Superman como o bruxo matador de monstros. Agora que a primeira temporada foi lançada, e que é possível assistir esse carinho todo nas telas, não há dúvidas de que o ator alcançou seus objetivos. Resta apenas uma dúvida: e quanto a Sapkowski? O autor é conhecido por ser amargurado com as adaptações de sua obra, seja o desastroso filme/série The Hexer, ou então os bem-sucedidos jogos da CD Projekt RED. Cavill ainda não sabe se o criador da franquia gostará do resultado final - mas está bastante empenhado a convencer o polonês ranzinza.
“Eu o conheci rapidamente no set, um dia”, relembra o ator. ”Estava fazendo uma grande cena de ação - uma queda de uns 4 ou 6 metros de altura que atravessava o chão -, então estava mais focado nisso. Mas a primeira reação dele foi falar ‘Eu não escrevi isso! Isso não é meu! Não é culpa minha!’. Então tive que me apressar para terminar a cena, e quando terminei, ele já tinha saído do estúdio. Mas eu rezo e espero muito para que ele goste da minha performance como Geralt. É muito importante para mim que eu faça justiça ao seu trabalho, este é meu objetivo.”
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A primeira temporada de The Witcher já está disponível no catálogo da Netflix. Já a segunda é prevista para 2021, também com oito episódios.