10 anos depois, as Graphics MSP revolucionaram o mercado de quadrinhos nacionais

Créditos da imagem: MSP

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10 anos depois, as Graphics MSP revolucionaram o mercado de quadrinhos nacionais

A história por trás do lançamento inovador da Mauricio de Sousa Produções

Omelete
6 min de leitura
19.10.2022, às 12H03.
Atualizada em 19.10.2022, ÀS 12H54

Franjinha, Mônica, Cebolinha, Chico Bento, Bidu e mais. Os clássicos personagens criados por Mauricio de Sousa desde o fim dos anos 1950 são uma marca histórica dentro dos quadrinhos nacionais. Eles formaram leitores e serviram de influência para toda uma geração, desde aquela época até os dias atuais. 

Até o fim dos anos 2010, no entanto, o artista parecia absolutamente focado em um público infantil. Foi nessa época que a revolução começou dentro da empresa Mauricio de Sousa Produções. O jornalista e editor Sidney Gusman virou o pai da ideia: no ano de 2008, as ideias para Graphics MSP começaram a surgir, com seu primeiro seu “laboratório”, como ele mesmo define. O livro MSP 50 (que homenageava os 50 anos da trajetória de Mauricio) reunia pequenas histórias de diversos quadrinistas nacionais e, a grande maioria, vindo do mercado independente. O primeiro dos quatro volumes foi publicado em 2009.

Três anos depois, mais precisamente em outubro de 2012, surgia Astronauta: Magnetar, de Danilo Beyruth, o primeiro volume oficial da série de Graphics MSP. Dez anos depois, um primeiro grande ciclo se inicia com a publicação do sexto volume do mesmo personagem e feito também por Beyruth – no caso, Convergência. Junto disso, está sendo publicado um primeiro compilado com os três primeiros volumes e uma história inédita do Astronauta. Junto disso, mais de 700 mil exemplares vendidos de 20 personagens em mais de 30 publicações. 

Começo avassalador

Com uma ideia de projeto inovadora dentro do mercado nacional, o objetivo de Sidney era chegar em um público infanto juvenil e adulto, que Mauricio parecia ter perdido. “Muita gente que tinha parado de ler essas histórias, voltou. Uma das coisas que mais ouço é isso: você me fez voltar a ler quadrinhos”, conta Sidney ao Omelete.

Também em entrevista, Mauricio de Sousa concorda com esse prognóstico: “as obras já publicadas acabam fortalecendo todo o mercado para leitores jovens que estavam meio abandonados pelas editoras”.

Assim, os lançamentos já começaram focados em atrair um público variado. Ao mesmo tempo em que buscavam mostrar como essas HQs seriam diferentes, também se atentavam a atingir variados leitores. Isso fica claro quando se olha para os dois primeiros lançamentos. Enquanto Astronauta era uma trama de ficção-científica mais adulta, Turma da Mônica: Laços, dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, era uma produção mais infanto juvenil e que trazia uma nostalgia para o leitor mais velho. Não à toa, é, até hoje, a mais vendida do selo, além de ter sido a primeira adaptação para o cinema em live-action dos personagens de Maurício.

“Eu nunca tinha pensado na possibilidade de fazer algo do tipo porque ela simplesmente não existia. Fazer a Turma foi uma responsabilidade justamente porque era algo muito novo”, disse Vitor.

Sidney destaca que o momento também colaborou, com o crescimento do mercado independente e o surgimento da CCCXP logo no segundo ano. O editor lembra que as filas em livrarias eram quilométricas e, com o evento, virou algo ainda maior. Se o conceito inicial das graphics imaginava um autor por história, as coisas começaram a ganhar proporções ainda maiores. 

O sucesso veio junto de uma espécie de fechamento de um primeiro ciclo, que aconteceu durante a publicação do segundo volume de Astronauta, em dezembro de 2014.

Consolidação

Depois do esplendoroso número de vendas, veio uma segunda fase, com a chance de arriscar e também trazer novos autores e personagens, como Mônica: Força, de Bianca Pinheiro, uma das primeiras histórias a ser apresentada para a autora com uma pauta: a separação dos pais da Mônica.

“Foi um peso grande, é claro. Ainda mais porque eu estava pegando uma personagem que já havia sido trabalhada pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi e havia sido recebida muito bem pelas pessoas. E, além de tudo, eu estava com a Mônica”, fala Bianca. “Também tive que guardar segredo por um tempão! Fui convidada em 2014 e só fui anunciada um ano depois. E o livro mesmo só saiu em 2016. A espera é sempre uma montanha-russa de emoções”.

Outra que surgiu no mesmo período foi um dos pontos de virada do projeto, como define Gusman. Jeremias: Pele, de Rafael Calça e Jefferson Costa, é outra que já veio com a pauta de retratar o racismo na infância. 

“Estamos em um período de mudança social e, em 2018, sairia o filme do Pantera Negra. Aí eu pensei logo em fazer algo do Jeremias e chamei os dois”, conta Sidney. “Quando eu vi o que eles tinham feito, logo pensei ‘Jeremias vai furar bolhas’ e furou”. 

Calça admite um receio com o projeto inicialmente: “Nós tínhamos um certo medo de não dar certo e, especialmente de não vender. Se isso acontece, o mercado iria estigmatizar que histórias protagonizadas por negros não vendem. Você não pode errar”, comenta.

Mas Jeremias: Pele deu certo. É uma das obras mais debatidas dentro do selo, e foi a primeira a figurar na lista de mais vendidos da PublishNews de livrarias, supermercados e lojas de autoatendimento. Jeremias também foi a primeira HQ da Mauricio de Sousa Produções a ganhar um prêmio Jabuti. Além disso, modificou muita coisa dentro da própria empresa, já que mais personagens negros começaram a ganhar espaço, como Milena.

Outro grande sucesso do mesmo período foi Tina: Respeito, publicada em 2019 por Fefê Torquato. É outra que traz uma temática social, no caso o assédio sexual no ambiente de trabalho.

“Eu fico muito orgulhosa de ter tido a chance de além de criar uma história pra uma personagem que eu cresci lendo, ainda ter a possibilidade de passar uma mensagem relevante pra uma nova geração de leitores. O universo do Mauricio de Sousa tem um alcance enorme com a juventude do país, há décadas. Tratar de questões urgentes como racismo e machismo por exemplo, era um caminho indispensável. Espero que eles não parem por aí”, conta ela.

Percalços e futuro

Uma das HQs que sairiam neste ano originalmente era Magali: Tempero, feita por Lu Cafaggi, mas ela foi cancelada por causa da depressão da autora, que não conseguia mais produzir. Apesar disso, 2022, além das já citadas, ainda terá Mingau: Apego, feita por Ana Cardoso e com lançamento marcado para dezembro, durante a CCXP.

Mas e os próximos anos? Sidney Gusman reluta em anunciar mais coisas, mas entrega algumas pistas, como um volume integral com as três primeiras graphics da Turma da Mônica junto a uma história inédita – no mesmo formato do Astronauta. Além disso, uma série live-action de Jeremias e uma animação do próprio Astronauta também estão em desenvolvimento, e dois novos personagens inéditos serão revelados na próxima CCXP.

Astronauta, aliás, é uma espécie de pedra fundamental do selo e faz aparições especiais em muitos outros títulos. Com isso, uma pulga atrás da orelha começou a surgir na cabeça de Sidney Gusman: “Nos meus sonhos Kevin Feigeanos da vida, eu fico pensando em coisas além do que já fiz, uma conexão disso tudo”, conta ele a risadas. “A única coisa que posso dizer é que está sendo planejado”.

Agora, resta apenas aguardar esse antigo sonho dos fãs. Quem sabe a MSP não tem um universo compartilhado em breve para chamar de seu?

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