Twin Peaks é, sem dúvidas, uma das séries responsáveis por mudar a forma como vemos televisão. Apesar disso, o clássico de David Lynch e Mark Frost sofreu com a pressão da emissora ABC, resultando em uma desastrosa segunda temporada e o eventual cancelamento na década de 1990.
Agora, os criadores reuniram o elenco original para mais uma jornada, com 18 episódios pelo canal Showtime nos Estados Unidos. Será que o programa consegue resgatar sua glória ao mesmo tempo que disputa com os demais programas da atualidade?
O seu chiclete favorito...
Há 26 anos, o finale original deixou o público norte-americano questionando o destino do agente especial Dale Cooper (Kyle McLachlan), preso em uma espécie de realidade paralela. O capítulo utiliza justamente esse cliffhanger como ponto de partida para retomar a sua trama sobre demônios, assassinatos e café.
É curioso notar como o diretor teve controle absoluto sobre os detalhes da temporada inédita: jornalistas não tiveram acesso aos episódios com antecedência, o elenco recebia roteiros apenas no dia das gravações e pouco foi revelado em trailers, entrevistas ou sequer imagens dos bastidores.
Lynch utiliza todo o desconhecimento do espectador para, novamente, criar uma atmosfera de mistério e estranhamento contagiante. Os momentos iniciais do retorno trazem Cooper preso no Quarto Aveludado, procurando uma forma de se libertar. Enquanto isso no mundo real, o subdelegado Hawk (Michael Horse) reabre a investigação no desaparecimento do agente após uma suposta pista do tronco de Margaret (Catherine Coulson), a Velha do Tronco.
Retomando tramas antigas e utilizando até as mesmas técnicas visuais das temporadas clássicas, o seriado encontra uma forma de atender os desejos dos fãs que aguardaram pacientemente por respostas. De certa forma, o retorno de Twin Peaks parece uma continuação lógica, como se tudo já estivesse planejado desde o início.
… Voltando com estilo.
O cenário da televisão mudou muito nos últimos 25 anos. Enquanto continuar a narrativa seja bom o bastante para Twin Peaks, não seria o suficiente para resgatar a importância do seriado em tempos de Game of Thrones, Breaking Bad e muitos outros clássicos atuais.
A produção precisou crescer. A nova temporada vai muito além dos limites da pacata cidade e leva o enredo para Nova York, Dakota do Sul, entre outras. Tal expansão vem junto com a adição de um elenco inédito, que lida com problemas que correm em paralelo com a jornada dos personagens clássicos, apesar de indícios de que tudo está conectado de alguma forma.
O primeiro capítulo também acompanha a investigação de dois brutais homicídios, sendo um onde um casal é vítima de uma entidade e outro onde uma moça é encontrada decapitada em seu apartamento. Isso já estabelece um gancho para ser resolvido futuramente, reintroduzindo os temas tradicionais da série de TV: assassinatos e elementos sobrenaturais.
A terceira temporada de Twin Peaks é um começo forte. São duas horas que mostram rostos familiares, apresentam personagens novos e estabelecem alguns mistérios a serem resolvidos, sem economizar na violência ou bizarrice. Lynch e Frost claramente tem algumas surpresas planejadas mas, se a estreia servir como indicativo, o seriado conseguirá manter um ótimo balanço entre o passado sem deixar de olhar para o futuro.
Twin Peaks é exibida toda segunda-feira pela Netflix, um dia após a transmissão nos Estados Unidos.