De símbolo de status à máquina mortífera: um carro pode dizer muito sobre um personagem, ou tornar-se tão icônico que sua fama transcende a obra a que pertence. Para definir o que faz de um carro um ícone, escolhemos veículos únicos - seja por sua pintura, formato ou funcionalidade - que imediatamente remetem ao filme ou série de origem.
Confira os carros que entraram na Parte 2 de Carros Icônicos do Cinema e da TV - e relembre na Parte 1 os eleitos da semana passada.
Ecto-1
Os Caça-Fantasmas
Se tiver algo estranho no seu bairro, quem você vai chamar? Não duvide: os doutores Egon Spengler (Harol Ramis), Raymond Stantz (Dan Aykroyd) e Peter Venkman (Bill Murray) atenderão sua ligação e logo estão chegando a bordo do Ecto-1, uma ambulância customizada, que carrega todos os equipamentos necessários para lutar contra o sobrenatural. O feixe de prótons, disparado nos ectoplasmas, é a principal arma dos caçadores, mas há ainda vários aparelhos em cima do carro, cuja utilidade nunca foi explicada nos filmes. A sirene e seu som peculiar fecham as principais características do Ecto-1.
Nas primeiras versões do roteiro de Os Caça-Fantasmas (1984), o veículo teria o poder de viajar entre diferentes dimensões e um visual totalmente diferente, com pintura preta e luzes roxas. Nunca saberemos como teria sido o filme se o carro tivesse super-poderes, o que importa é que aquele Cadillac Miller-Meteor Hearse, modelo 1959, tornou-se um ícone da cultura pop e da franquia Ghostbusters. No longa, o Dr. Stantz conta que pagou US$ 4.800,00 (valor consideravelmente alto nos anos 80) por um carro que ainda precisaria de muitos consertos, entre suspensão, freios, câmbio... Tudo indica que se a cena não fosse cortada, Venkman continuaria listando todos os defeitos do Ecto-1, que ele mesmo consertou.
Há alguns anos fala-se sobre um possível terceiro filme para a franquia, com o retorno de todo o elenco original, e o primeiro sinal de que Os Caça-Fantasmas 3 estaria mesmo em andamento foi uma aparição do famoso carro. Kristen Bell e Jonah Hill divulgaram fotos ao lado do Ecto-1, sinal de que a movimentação já está acontecendo. Só resta agora esperar que Bill Murray, o único indeciso, aceite o projeto de vez.
Beleza Negra
O Besouro Verde
O Beleza Negra, carro tecnológico da série O Besouro Verde, teve um ilustre chofer: Bruce Lee, no papel de Kato. Muito antes de vencer Chuck Norris em O Voo do Dragão, o astro chinês (em seu primeiro grande papel nos EUA) interpretou o fiel ajudante do vigilante mascarado Besouro Verde, identidade secreta do jovem milionário Britt Reid, vivido por Van Williams.
O personagem Besouro Verde foi criado nos anos 1930 por George W. Trendle e Fran Striker. Depois de estrear nas rádios, ele passou por várias mídias, incluindo TV, filmes e HQs. A série teve vida curta, com apenas uma temporada, exibida entre 1966 e 1967, mas foi o suficiente para transformar o Beleza Negra em um ícone do entretenimento. No filme de 2011, estrelado por Seth Rogen e Jay Chou, o carro é tão essencial que ganha destaque similar ao dos atores em toda a divulgação do filme.
Para a série original, o Beleza Negra foi criado a partir de um Chrysler Imperial 1966, pelo designer de carros Dean Jeffries. Dois carros eram usados nas filmagens mas um deles, que era usado nas cenas externas, misteriosamente desapareceu. O segundo, que era o carro modificado e cheio de gadgets (ainda em funcionamento!) pode ser visto no Petersen Museum, em Los Angeles. O filme Besouro Verde também usou um Chrysler Imperial, mas de 1965, e a produção foi levemente mais megalomaníaca, com 29 versões do carro. Nossos parceiros do Collider tiveram a oportunidade de fazer um test drive no novo Beleza Negra, que você pode conferir aqui (em inglês).
Máquina do Mistério
Scooby Doo
A van mais icônica da TV sem dúvida é a Máquina do Mistério, da série Scooby-Doo, criada pela Hanna-Barbera em 1969. O veículo pode não ser real, mas é o tipo de carro que está dentro das limitações orçamentárias dos fãs. Ter um carro igual ao de James Bond ou um Batmóvel é um desejo extravagante, mas dirigir uma Máquina do Mistério só sua é factível - basta encontrar uma van Ford Ecoline 1963 e customizá-la com a pintura de estilo flower power. Além de ser responsável por levar a Mistério S.A. para suas investigações, o carro não possui outras funcionalidades especiais.
Salsicha, Fred, Daphne, Velma e Scooby não eram donos do furgão psicpdélico desde o primeiro episódio do desenho. Logo no começo da série, a turma não tinha meios próprios de transporte e era o pai de Daphne que relutantemente os levava para desvendar mistérios. Normalmente, Fred é quem dirige o furgão, mas há várias versões de quem foi o primeiro dono da Máquina do Mistério. Na série original de 1969, Scooby-Doo, Where Are You!, da CBS, o furgão aparece no quinto episódio, chamado "It's Mean, It's Green, It's the Mystery Machine", como um carro mal-assombrado que se dirige sozinho.
Em seus mais de 30 anos de história, Scooby-Doo e sua turma já ganharam várias versões na TV, além de filmes para DVD e filmes live action para cinema. Mas, apesar de mudanças no traço do desenho e troca de atores, a Máquina do Mistério permance um clássico.
Christine
Christine - O Carro Assassino
Christine - O Carro Assassino (1983), clássico de John Carpenter, é uma adaptação ao cinema do livro homônimo de Stephen King, e já começa mostrando a psicopatia do Plymouth Fury 1958 em suas cenas inicias. Ainda na linha de montagem, um mecânico machuca a mão quando o capô fecha-se subitamente sobre ele, e outro morre sufocado dentro do carro, depois de derrubar cinza de cigarro no banco. Vinte anos mais tarde, Christine é vendido ao adolescente Arnie Cunningham por 250 dólares sem ele suspeitar que aquela beleza vintage já tem várias vítimas em seu histórico.
Aos poucos, conforme restaura Christine, o garoto tímido e nerd assume uma personalidade arrogante e aparência sinistra, vestindo-se todo de preto. Seu melhor amigo, Dennis, fica preocupado, especialmente depois que a mãe de Arnie conta que o último dono de Christine morreu sufocado com dióxido de carbono dentro do carro. O descontrole começa quando o carro tenta matar a namorada de Arnie, e Christine eventualmente mostra ao seu dono todas as duas habilidades, incluindo o poder de restaurar-se sozinho e uma sede de sangue contra todos os garotos que fizeram bullying contra Arnie.
Para viabilizar o orçamento das filmagens, John Carpenter usou também outros modelos da marca Plymouth, como o Belvedere e o Savoy, fazendo as vezes de carro maléfico. No total, Carpenter destruiu 21 Belvederes para fazer o filme, além de alguns Furys. Algumas modificações foram feitas para acomodar detalhes da trama, como na cena em que a namorada de Arnie está engasgando e o botão de trava na porta do carro desce sozinho. Na verdade, o modelo de 1958 do Plymouth Fury não tinha este tipo de botão, usando um sistema mais antigo de travas. Outra curiosidade que já indica a alma demoníaca de Christine é sua placa, que traz as letras CQB, sigla militar para close quarters battle, tipo de combate em que os alvos são abordados de uma distância muito próxima, com muita rapidez e violência, deixando pouca chances de fuga ou sobrevivência.
Muscle Cars
O muscle car é uma tradição estadunidense que mereceria uma lista à parte. Os anos 1960 e 70 foram a época dos carros com muitos cavalos de potência e velocidade. Os motores eram grandes, a gasolina era barata e poucos modelos exalavam mais masculinidade que um muscle car - termo usado para definir veículos de alta performance, feitos nos Estados Unidos, com duas portas e motor V8 (tipo mais comum). Com poucas exceções, esse tipo de carro dominou o entretenimento a partir do final dos anos 1960, e as empresas impulsionavam as vendas com muito investimento em publicidade e inserções dos carros nos filmes e séries de TV mais populares do momento.
O ator Steve McQueen foi um dos ícones deste período com o filme Bullitt (1968), longa policial dirigido por Peter Yates que foi sucesso de crítica e bilheteria, rendendo ainda o Oscar de Melhor Edição. Sua cena de perseguição pelas ruas de San Francisco é considerada uma das mais empolgantes e influentes do cinema, demonstrando toda a potência do Ford Mustang 390 GT 1968, dirigido pelo tenente Steve Bullit. Assim, o Mustang se tornou um dos carros mais populares e desejados da época, e em 2008 a Ford comemorou os 40 anos do filme lançando o Mustang Bullitt, trazendo de volta até a cor verde original do filme.
O General Lee, da série de TV Os Gatões (The Dukes Of Hazzard), exibida entre 1979 e 1985, também foi um dos carros marcantes da época. Com uma bandeira dos Confederados pintada no teto e as portas soldadas, aquele Dodge Charger 1969 estrelou muitas cenas de perseguição com os primos Bo e Luke Duke, em suas negociações de uísque clandestino. Uma das manobras mais famosas do General Lee era o salto no ar, e seu porta-malas era sempre equipado com sacos de areia e concreto, para evitar que o carro capotasse. Nas filmagens, cada episódio usava vários carros e estima-se que mais de 250 General Lees tenham sido usados em toda a série. Vários modelos dos anos 1968 e 1969 eram customizados para as especificações da série, mas com o passar do tempo, ficou muito difícil e caro encontrar Dodge Chargers, tanto que a Warner Bros. passou a produzí-los dentro do estúdio. Já nas últimas temporadas da série, a produção estava se tornando muito custosa e o estúdio passou a reciclar as cenas de salto de episódios anteriores.
Outro modelo cultuado de muscle car é o Ford Gran Torino, usado em toda a sua potência pelos detetives californianos da série Starsky & Hutch, exibida entre 1975 e 1979. Por sua cor vermelha e branca, o Gran Torino 1975 da série também é conhecido como "tomate listrado" por um comentário espontâneo do ator Paul Michael Glaser no set de filmagem, e acabou adotado pelos roteiristas. Aparições mais recentes do Gran Torino incluem Velozes e Furiosos, franquia que usa vários modelos de muscle cars, e O Grande Lebowski, com o carro totalmente detonado do "The Dude" (Jeff Bridges). Ao final do filme, aquele Gran Torino 1973 já foi roubado, vandalizado e bateu de frente em uma caçamba de lixo - e ainda assim continua sendo querido por seu dono. Clint Eastwood ainda usou o carro no título de seu filme de 2008. Na trama, o Ford Gran Torino 1972 é uma das posses mais preciosas do veterano de guerra Walt Kowalski - e nem ouse chegar perto do carro ou pisar no seu gramado.
A franquia Mad Max também é conhecida por seus carros potentes e altamente modificados. O filme australiano de 1979 é estrelado por Mel Gibson, pouco conhecido na época, e se passa em um futuro distópico em que a lei e ordem começam a falir. Carros de alta performance não faltam no longa, mas o mais famoso é o Persuit Special, modelo ficcional usado pelos policiais do filme, criado por Murray Smith a partir de um Ford Falcon XB GT Coupe 1973. Na trama, o carro é oferecido a Max Rockatansky como incentivo para que ele continue na polícia como um agente de perseguição e será usado para executar sua vingança contra a gangue de motoqueiros que matou sua mulher e filho. O mesmo carro foi usado na continuação Mad Max 2, recebendo ainda mais modificações para se adequar à trama.
Também não podemos esquecer do Dodge Challenger 1970 de Vanishing Point (1971), lançado no Brasil como Corrida Contra o Destino. O filme é um clássico cult e tem Quentin Tarantino entre seus admiradores - o diretor chegou a dedicar todo um segmento de À Prova de Morte para homenagear Vanishing Point. O road movie de ação setentista é estrelado por Barry Newman, que vive um ex-piloto de corrida e veterano de guerra que agora trabalha como motorista de entrega de carros. Ele está em uma viagem pelos EUA e deve levar o Dodge Challenger até San Francisco - e se recusa a diminuir a velocidade, engajando-se em várias disputas e cenas de perseguição por três estados.
O carro foi escolhido para o filme pelo diretor Richard C. Sarafian, colocando-o em papel de destaque como agradecimento à Chrysler por sua longa parceria com a 20th Century Fox, alugando carros por valores baixíssimos. Muitos outros carros usados no filme também são da mesma montadora. Nenhum veículo recebeu modificações especiais para o filme, e todos receberam preparação e manutenção de Max Balchowsky, que também trabalhou em Bullit.