Diretamente de Hollywood, nosso correspondente conversou com Ethan Hawke sobre A Entidade (Sinister), próximo filme do ator que estreia 12 de outubro nos cinemas. No bate-papo, o ator falou sobre a dualidade de seu personagem, a clautrofobia durante as gravações e sobre Before Midnight.
O que eu gosto muito desse filme e seu personagem, Ellison, é que que ele parece um bom homem de família, mas no decorrer do filme, ele se torna mais obscuro... Ele é mais do que aparenta ser.
Ethan Hawke: Sim.
Então, como um ator... como você... Tem uma diferença entre... É mais difícil interpretar estes aspectos obscuros, versus as características mais positivas do personagem?
EH: Não, esta é a parte divertida. Ele definitivamente, com o desenrolar do filme... Consegue-se perceber que ele tem um coração negro. E, é isso que o faz divertido. Para ser honesto, se você interpreta uma pessoa muito ética, certinha... é um pouco... Fica um pouco entediante. E, pelo menos, pessoas com motivos dúbios são divertidas de se interpretar, porque você não sabe o que podem fazer. E, também, eu acho que é o que faz dele humano, e identificável também.
Essa dualidade do personagem o atraiu para o papel, inicialmente?
EH: Absolutamente. Absolutamente. É... Eu fico tão... Eu acho que o que faz um bom filme de gênero, de qualquer tipo, é se você consegue reconhecer as pessoas... como seres humanos de verdade, que estão nesta situação ridícula e impossível, óbvio. Mas... se é uma situação ridícula, com pessoas que você não se importa... então... Eu não sei. Eu gostei desse personagem no momento em que li. Eu me identifiquei com ele. Eu entendi... Mesmo com seu coração negro.
Ele é um romancista e você é um romancista. Você se baseou nas suas experiências como romancista para este personagem?
EH: Eu não sei. Com certeza não é uma situação estranha para mim. Então... Mas realmente, eu acho que é sobre o tanto que é amedrontador ficar sozinho com seus pensamentos.
Sim, você está preso nesta casa praticamente o filme inteiro. Esta claustrofobia afetou a sua performance?
EH: Eu acho que sim. Nós estávamos presos nesta casa maluca... durante toda a filmagem, a noite inteira. Com certeza era fácil de enlouquecer lá. Você não tinha certeza... Todas essas cenas em que eu andava pela casa... Nunca tinha certeza nem que dia era.
Esse filme fala comigo em relação à parte ruim de se focar no passado. E eu vejo o seu trabalho, principalmente "Um Amor Jovem", e são sobre personagens que estão presos no passado, e como isto os afeta. O que te interessa em antinostalgia?
EH: Que pergunta boa! Antinostalgia... Eu acho que é por isso que amo tanto o teatro. Porque não é nada sobre nostalgia, é tudo sobre o presente. Enquanto em um filme, é sobre captar o momento e guardá-lo para depois. Mas, eu não sei. Talvez seja porque sou, como todo mundo... Eu quero que o tempo pare.
Você prefere teatro a cinema?
EH: Eu não ligo. Eu gosto de trabalhar com pessoas talentosas. O que é legal sobre filmes é que todos assistem. E você pode fazer muitas pessoas feliz. O legal sobre teatro é que... não envolve grandes negócios. E é muito mais livre criativamente. Sempre quando você tem... Quanto mais dinheiro se tem, mais... sanguessugas querem falar o que você tem que fazer.
Eu tenho que perguntar sobre "Before Midnight".
EH: Por favor, pergunte.
O que devemos esperar para esta nova trama?
EH: Bom... É realmente uma continuação. Para mim... Nós acabamos de terminar o filme, e eu ainda estou mexido pela experiência. Será difícil... para nós... Os dois primeiros têm muitos fãs. As pessoas se importam com estes personagens. E nós sentimos que temos a obrigação de não decepcionar as pessoas... com este filme. Mas ao mesmo tempo não podemos agradar a todos, então, nós tentamos ser... Tentamos fazer... um filme com a mesma proposta e atitude. Eu acho... Eu amo esse filme. E eu acho que, de uma forma estranha, nós conseguimos chegar ao final desta história. Veremos.
Então, este é o último? Eu não posso esperar de 6 a 7 anos um novo filme?
EH: Veremos, veremos. Nunca se sabe, nunca se sabe. Mas parece que nós... A história está chegando no seu final.
Como é o processo do roteiro entre você, Julie Delpy e Richard Linklater?
EH: É simplesmente uma experiência muito estranha. Em todos os filmes foi muito natural, e cada um de uma forma completamente diferente. Mas a... resposta curta é que, normalmente, nós três... nos reunimos para pensar onde os personagens estão agora, e como seria o filme. Depois nos separamos e escrevemos muito. E depois nos juntamos e comparamos o que cada um escreveu, e juntamos as melhores coisas do trabalho de cada um.
Você também é conhecido como diretor. Você está trabalhando na direção de algum projeto?
EH: Sim, eu estou fazendo uma... Estou dirigindo... uma peça, neste inverno, no New Group. É uma adaptação nova da primeira peça de Bertolt Brecht, "Baal". Adaptado por um escritor com quem eu já trabalhei antes, Jonathan Marc Sherman. E estarei junto com Vincent D'Onofrio. Então, isso será legal.
Isto é ótimo. Muito obrigado, Ethan.
A Entidade estreia em 12 de outubro nos cinemas do Brasil.