A 10ª temporada de The Walking Dead começou desenvolvendo individualmente os dois lados do conflito entre os Sobreviventes e os Sussurradores. Agora, no terceiro episódio, as tramas começam a se cruzar.
[Cuidado! Spoilers do S10E03 de The Walking Dead abaixo]
“Ghosts” finalmente introduz desdobramentos aos eventos dos capítulos iniciais, como a queda do satélite por exemplo, cuja importância ainda não tinha sido realmente mostrada. A explosão atrai hordas e hordas intermináveis de zumbis, forçando os protagonistas a passarem noites em claro para proteger suas comunidades. Dessa forma, com todos desgastados, sob estresse constante ou, no caso de Carol (Melissa McBride), tendo alucinações pela falta de sono, as brigas - sejam internas, ou contra os vilões - estouram com mais facilidade. É um ponto importante para o que vêm em seguida.
Outro avanço na trama é a punição aos sobreviventes por terem entrado no território dos Sussurradores - pela terceira vez, como pontua Alpha (Samantha Morton). A retaliação chega rápido, com a líder reduzindo o território das comunidades. Considerando o cansaço de todos, isso faz o desespero se alastrar raṕido. É um episódio que traz um pouco mais de ação que seus antecessores, mas que ainda preza por despertar um sentimento de claustrofobia no espectador ao mostrar os protagonistas sendo literalmente cercados por seus inimigos, tanto os mortos, quanto os vivos.
Mesmo assim, a série ainda não apertou o passo, e esse parece ser o plano. A produção está tomando todo o tempo para criar conflito de forma orgânica, e o terceiro capítulo passa a impressão de que isso pode funcionar. A ideia é que os sobreviventes, assim como animais assustados, estão sendo encurralados. Quando o espaço de recuo acabar, só resta a opção de responder de forma violenta.
Um bom indicador de que o ritmo mais lento, porém bem planejado, está dando certo é o arco narrativo de Negan. O vilão sempre funcionou pelo enorme carisma de Jeffrey Dean Morgan, mas isso não o salvou de soar caricato durante a fase dos Salvadores. Desde que se tornou prisioneiro - e o programa passou de mãos para a showrunner Angela Kang -, Negan começou a ganhar nova profundidade ao ser tratado de modo ambíguo. Mesmo para quem leu as HQs e sabe o desfecho não é fácil cravar se ele permanece um vilão ou realmente se aliou aos protagonistas. A atuação de Dean Morgan segura bastante a barra, mas é visível que ele está recebendo roteiros melhores para trabalhar. O melhor exemplo disso é a trama com Aaron (Ross Marquand) em “Ghosts”. Os dois têm uma ótima cena de discussão e alguns momentos que trazem incerteza ao público, com Negan tendo inúmeras oportunidades para assassiná-lo ao longo do capítulo. Mesmo assim, ele opta por ajudá-lo, o que pode ser indicativo de mudança ou apenas de bom fingimento.
A 10ª temporada de The Walking Dead parece um pouco estranha por andar muito devagar para uma narrativa de guerra - talvez pelas inevitáveis comparações com o arco dos Salvadores. Mas, como o nono ano mostrou, há um enorme potencial em brincar com as expectativas e desenvolver os personagens para rumos inesperados. A série está pegando velocidade aos poucos, e vale um voto de confiança de que tudo não vai descarrilar no final.
The Walking Dead é transmitida aos domingos pelo canal pago Fox, às 22h. Além disso, os episódios também são adicionados ao streaming Fox App.