É sempre bom prestar homenagens aos bons tempos do passado e "Still Gotta Mean Something", 14º e antepenúltimo episódio da oitava temporada de The Walking Dead fez bastante disso. Cheio de referências às temporadas antigas, o capítulo enalteceu seus mortos costurando o impacto de suas perdas ao ponto em que os sobreviventes se encontram. O destaque do episódio ficou na conta dos fantasmas dos filhos perdidos, focando em mostrar como o trauma de ver seus herdeiros morrendo influenciou na construção do psicológico de Rick (Andrew Lincoln), Morgan (Lennie James) e Carol (Melissa McBride).
No caso de Rick, cuja perda foi mais recente, a trama voltou a mostrar a resistência do ex-xerife em ler a carta deixada por Carl (Chandler Riggs). O que o episódio fez, basicamente, foi entregar um Rick solidificando uma moral duvidosa e pouco amparada na ideia de justiça. Ainda que seja sempre interessante ver Rick em suas versões mais perigosas, matar homens pelas costas após desonrar a própria palavra não é algo que condiz muito com a construção da personalidade do protagonista íntegro e ético dos últimos oito anos de trama. A cena dele dizimando os Salvadores sem necessidade é necessária para dar contorno ao ponto de transtorno que o personagem chegou e deixar mais aparente as mudanças que virão em seu comportamento após a leitura da carta de Carl, algo que ele finalmente faz no fim do capítulo e que será determinante para seus próximos passos na guerra.
No caso de Carol, o episódio focou no esgotamento da sobrevivente em ver as crianças ao seu redor morrendo. O sumiço de Henry (Macsen Lintz) colocou a personagem de volta no mesmo momento de tensão já vivido pela personagem com Lizzie (Brighton Sharbino), Mika (Kyla Kenedy), Sam (Major Dodson) e, é claro, Sophia (Madison Lintz). A cena em que ela encontra o rapaz escondido atrás de troncos e raízes na margem de um rio é uma referência à segunda temporada da série, quando Rick leva a filha de Carol até um local semelhante e, após isso, ela morre - é como se, finalmente, um arco recorrente de sofrimento e tragédia tivesse sido encerrado de forma simbólica.
A questão de Morgan com o filho morto acontece após o massacre executado por ele e Rick, quando o ex-xerife o confronta perguntando qual o motivo dele ter o ajudado na primeira temporada da série - Morgan diz que foi por conta de Duane (Adrian Kali Turner). A resposta, por mais que simples, deixa uma reflexão para o personagem sobre como a ausência da necessidade de ser um exemplo para alguém deixou desregulada sua bússola moral e foi o início de um processo que desestabilizou seu psicológico. Ainda que tenha sido um alívio para os fãs da série ver a morte aguardada de Jared (Joshua Mikel), a reação de Henry à informação foi um soco no estômago do personagem.
Todo o arco de vingança de Jadis (Pollyanna McIntosh) foi, contudo, extremamente decepcionante. Foi construída uma atmosfera enorme de expectativa sobre o que a última sobrevivente do Lixão faria como o algoz de seu povo e, no fim das contas, sequer ficou exatamente claro o que ela pretendia fazer. Amarrado em um carrinho, Jadis levou Negan (Jeffrey Dean Morgan) até uma clareira onde, após um injustificável descuido dela, ele conseguiu se arrastar e fazer um punhado de fotografias como reféns para barganhar sua liberdade. É impossível achar uma justificativa razoável para Jadis ter deixado o que seriam seu objetos mais preciosos jogados no meio do lugar onde pretendia fazer sabe-se lá o que com Negan.
O que a cena do líder dos Salvadores e Jadis se propôs a fazer foi, na verdade, mostrar as fragilidades tanto de um quanto de outro. Assim como o episódio girou em torno das mortes passadas entre o grupo de sobreviventes de Rick, também houve destaque para as perdas dos vilões - no caso de Jadis, o recente massacre de seu povo, e, no caso de Negan, sua ex-esposa, a Lucille original homenageada no taco ensanguentado. Contudo, o diálogo não justificou a libertação do psicopata sem maiores consequências. No fim das contas, o principal vilão da série ainda atrapalhou um plano de fuga que envolvia um helicóptero - sim, o veículo aéreo voltou a aparecer -, algo que deverá ter destaque no futuro da série.
Como era de se esperar, levando em conta o histórico dos episódios mais recentes, "Still Gotta Mean Something" também deixou o público com um mistério: no fim de sua participação no episódio, Negan encontra alguém na estrada e oferece uma carona. Existem alguns personagens que estão desaparecidos - não, não estamos falando de Heath (Corey Hawkins) - com potencial de impactos significativos na trama. As duas pessoas mais prováveis de terem sido encontradas são Gregory (Xander Berkeley), que fugiu junto do grupo de Salvadores e ainda não foi visto, ou Laura (Lindsey Register), a única testemunha da traição de Dwight (Austin Amelio). Caso a carona tenha sido dada a essa segunda, Negan em breve saberá que a desobediência de Simon não é o único problema urgente a ser resolvido em seu núcleo de generais. Há ainda Sherry (Christine Evangelista), a esposa de Dwight, na lista de opções, ainda que seja improvável que ela retornasse ao Santuário de bom grado.
No mais, o episódio teve algumas outras menções honrosas interessantes, como o momento que Michonne (Danai Gurira) fala sobre a importância que Andrea teve para ela em seus momentos mais difíceis. Sobre a trama em si, "Still Gotta Mean Something" avançou bem pouco em relação à movimentação vista recentemente, com embates corpo a corpo entre Negan e Rick ou mesmo os ataques de Simon ao Lixão e à Hilltop - o que é um problema, visto que acaba sendo um balde de água fria nos fãs. Certamente, os produtores executivos resolveram guardar toda a amarração das pontas soltas da temporada e do arco final de Guerra Total para a dupla de últimos episódios - veja aqui o teaser.
O próximo episódio vai ao ar em 8 de abril. No Brasil, o canal pago Fox se encarrega da transmissão do seriado.