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Tomb Raider: A Origem | Peruca, efeitos práticos e uma dose de conservadorismo: o que vimos no set do filme

Visitamos as filmagens nos arredores da Wilton House, em Salisbury, no Reino Unido

14.03.2018, às 17H59.
Atualizada em 15.03.2018, ÀS 23H16

A data é maio de 2017 e o dia é o mais britânico possível. Faz frio nos arredores da Wilton House, em Salisbury, no Reino Unido. O céu está cinza e uma leve chuva rega o verde que cerca a antiga mansão que já serviu como locação de The Crown e agora abriga a equipe responsável por Tomb Raider: A Origem, a mais nova adaptação para o cinema das aventuras de Lara Croft.

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Repleta de obras de arte como esculturas e quadros - dos quais se destacam as obras do pintor renascentista Rafael -, a Wilton House parece parte da realeza. A casa será usada para representar a Mansão Croft, e no momento abriga centenas de pessoas que estão terminando uma jornada de 19 semanas de filmagem - 14 na África do Sul e cinco na Inglaterra - cuja missão é trazer de volta às telonas uma das personagens mais conhecidas da história dos videogames.

Presente na cultura pop desde 1996, Lara Croft representa como poucos a evolução da qualidade narrativa nos jogos. Antes forçada a usar roupas coladas e pouco práticas, ela ganhou nova vida - mais moderna, inexperiente, realista e pessoal - em 2013 com o reboot desenvolvido pelo estúdio Crystal Dynamics, bem recebido por público e crítica.

É com base nessa nova Lara Croft que o diretor norueguês Roar Uthaug e sua equipe fizeram o filme, que estreia nos cinemas brasileiros em 15 de março e tenta quebrar o estigma de produções cinematográficas baseadas em games. Estigma esse que a própria Lara Croft ajudou a criar, quando foi vivida por Angelina Jolie no começo do século 21. A nova versão da heroína procura se afastar consideravelmente daqueles anos.

Os filmes de 15 anos atrás tinham outro tom. Obviamente, eram muito mais alinhados com os primeiros jogos, muito mais baseados em fantasia”, explica o designer de produção Gary Freeman. “Com o reboot de 2013 dos jogos veio uma nova estética. Um sentimento como o de filmes estilo A Identidade Bourne, onde Lara faz coisas grandiosas, mas tangíveis.”

Queremos ver a história de origem de Lara Croft de uma forma mais pé-no-chão, contar a história para você conhecê-la de uma nova maneira”, adiciona Uthaug.

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Palavras como “realista” são comuns nas bocas dos responsáveis pelo filme. Todos os 80 sets do longa foram feitos para evocar o sentimento de algo existente. “Queremos que esta história tenha um alto grau de realismo”, deseja Uthaug, explicando por que eles preferiram construir os sets, em vez de depender da computação gráfica para criar cenários.

Uma das construções mais ambiciosas foi a do porto de Hong Kong, onde Lara vai pegar um barco para a ilha japonesa de Yamatai, cenário da maior parte da aventura. Ele foi totalmente recriado na Cidade do Cabo, na África do Sul.

Este caminho realista também foi tomado com a própria protagonista. Agora, quem vive Lara é Alicia Vikander, vencedora do Oscar em 2016. A atriz entrou na produção antes mesmo do diretor. “Alicia estava bem empolgada com o papel”,conta o produtor executivo Patrick McCormick. “Ela achou que estava pronta para ser a jovem Lara Croft, e isso convenceu os produtores a prosseguir com ela.”

Vikander sonha em protagonizar um filme de ação e aventura desde sua infância, e diz que ficou nervosa quando foi escolhida em uma disputa que contou com Daisy Ridley, de Star Wars, no páreo. A favor da atriz sueca, estava o senso de importância de assumir uma personagem popularizada por Angelina Jolie e a paixão pelos jogos.

Eu joguei os primeiros Tomb Raider quando tinha uns 10 ou 12 anos, no PlayStation do amigo do meu irmão”, relembra a atriz. Enquanto a fase clássica de Lara era passatempo na infância, a atual virou trabalho. “Eu trouxe os jogos mais recentes comigo e tenho jogado no meu trailer durante a produção”, revela a atriz.

Filmar na Wilton House foi especial para Vikander, já que a Mansão Croft é o cenário que mais evoca as memórias de infância da atriz. “Eu ficava mais lá, explorando e praticando os movimentos legais da Lara, porque tinha medo das outras áreas”, recorda a atriz. “É incrível finalmente estar aqui para filmar essas cenas.

Descrita como hipster, a nova Lara Croft é moderna em todos os aspectos. No filme, ela é uma jovem de 21 anos que trabalha como entregadora em Londres, navegando a cidade com uma bicicleta antiga, feita com peças de outras bikes, e divide um flat com mais 10 pessoas. A vida sem glamour é uma escolha da personagem, que prefere não se envolver mais com sua irmã, Anna (Kristin Scott Thomas), e a Croft Holdings, empresa multimilionária da família.

Está claro que a intenção do filme é permitir que jovens, especialmente do sexo feminino, criem uma conexão com a personagem. Se, em outras interpretações da história, Lara Croft era quase um padrão inalcançável, Tomb Raider: A Origem quer humanizar a heroína.

Vivemos numa época na qual um dos maiores super poderes e forças é alguém mostrar sua vulnerabilidade”, pondera Vikander. “Eu acho que nessa história encontramos uma Lara com as características da versão antiga - ela é inteligente, espirituosa, curiosa e corajosa -, mas você não pode remover as novas experiências.”

Ela está começando do zero, não sabe como usar suas ferramentas e não sabe de onde vem seu interesse por arqueologia, porque não sabe qual é sua história, por conta da ausência do seu pai”, complementa a vencedora do Oscar. “Então o filme é sobre uma jovem, como vários outros jovens - a maioria deles, eu diria - tentando encontrar seu caminho na vida.”

Lara está seguindo os passos do pai, Richard Croft (Dominic West). Ele desapareceu na busca pela tumba da princesa Himiko, na ilha de Yamatai, localizada na costa do Japão. Determinada a descobrir se seu pai está vivo ou morto, a jovem Croft decide fazer a mesma jornada.

Fãs dos jogos mais recentes vão reconhecer os elementos desta história. A ilha de Yamatai e o mistério de Himiko foram o foco do reboot de 2013. Da continuação, Rise of The Tomb Raider, de 2016, vem a busca da heroína por seu pai e a presença da corporação maléfica Trinity, que, sob a liderança vilão Mathias Vogel (Walton Goggins), será a antagonista do filme.

A decisão do produtor Graham King, principal idealizador do filme, foi de juntar os elementos principais dos jogos mais recentes, sem adaptar 100% a história de um deles. Segundo Patrick McCormick, a escolha partiu do princípio de incluir apenas os elementos mais valiosos dos games na produção.

Eu acho que é um processo no qual você entra e certas coisas provam seu valor no processo de desenvolvimento”,explica McCormick, falando sobre a decisão de escolher elementos específicos dos jogos e juntá-los, em vez de adaptar completamente apenas uma das aventuras de Lara. “Frequentemente, quando você começa um filme, há uma lista enorme de coisas que podem, ou não, fazer parte da história.”

E normalmente é demais, e você precisa olhar para cada uma e pensar ‘o que acontece se eu perder isso?’”, continua. “Se perder aquilo não terá nenhum impacto, então isso provavelmente não tem lugar no filme. Então esse é o processo. Você examina as coisas e seus valores para impulsionar a história.”

Um dos elementos dos jogos que com certeza estará no cinema é o tradicional rabo de cavalo da heroína. O cabelo da personagem, que inclusive recebeu uma atenção especial para ficar ultra detalhado na versão para PC dos games mais recentes, era importante para a produção, que resolveu colocar uma peruca em Vikander, mesmo que o cabelo da atriz já fosse relativamente semelhante com o da heroína.

Além disso, a já mencionada Trinity - organização que Lara enfrenta em sua aventura mais recente nos games - também estará presente com força. Vogel é um vilão totalmente original criado para o longa, mas os produtores deixaram a entender que o grupo será a linha narrativa que irá conectar A Origem com outros filmes de Tomb Raider, caso as continuações que a equipe deseja fazer recebam o sinal verde para serem feitas.

A história de adaptações de videogames para o cinema certamente não é a mais favorável. Talvez por isso, a equipe responsável pelo novo Tomb Raider preferiu ser um pouco conservadora e pegar o que funcionou melhor nos jogos recentes. Mesmo aqueles que têm um bom resultado financeiro - como é o caso dos primeiros filmes de Lara Croft - nem sempre são bem recebidos (os longas estrelados por Jolie têm, em média, 22% de aprovação no agregador Rotten Tomatoes).

Não faltam desafios diante da equipe responsável pela nova produção, mas assim como fez nos games, Lara Croft é capaz de se reinventar e encontrar uma nova força nos cinemas

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