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American Pie: O Reencontro | Crítica

Comédia depressiva sacramenta o discurso da culpa e da castração

19.04.2012, às 19H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H24

O primeiro American Pie não criou as comédias adolescentes sexistas, como dizem algumas peças de divulgação de American Pie: O Reencontro (American Reunion). Nos anos 1980, Porky's já pegava censura 18 anos por suas cenas de nudez, público que os irmãos Farrelly tomaram nos anos 1990 com Quem Vai Ficar com Mary?, também antes do filme da torta.

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Se American Pie pode reivindicar um domínio, é o das comédias de sexo com culpa. Desde o começo, em 1999, quando Jim (Jason Biggs) e seus amigos cometiam "desvios" de comportamento, o constrangimento seguido do arrependimento e da culpa eram as etapas obrigatórias. American Pie é um dos grandes produtos conservadores travestidos de rebeldia que os EUA produziram na virada do século, ao lado da cultura emo. Em American Pie, a série simbolizada por uma punheta interrompida, crescer é castrar.

Daí que, 13 anos depois, reencontramos os personagens neste quarto longa-metragem (sem contar os derivados "American Pie Presents" direto pra DVD) da franquia. Na trama, a justificativa para a reunião é a festa de dez anos da formatura do colegial. Novas bronhas pela metade e meninas seminuas, como se espera. A diferença para os filmes anteriores é que a culpa tomou ainda mais o espaço do humor - afinal, agora adultos, os personagens têm uma vida inteira de desculpas a pedir.

Deprime muito a forma como o filme resgata parte do elenco apenas para acertar contas. Natasha Lyonne, por exemplo, que retorna ao papel de Jessica, aparece só para dizer a outro personagem, do nada, no meio da balada, que ele deve desculpas a uma terceira pessoa. Se considerarmos que a maioria desses atores e atrizes vive hoje no ostracismo (Chris Klein, que encarou o alcoolismo fora das telas, curiosamente ganha um arco mais solene e grave no filme do que seus amigos), fica mais penoso acompanhar American Pie: O Reencontro.

Não por acaso, Steve Stifler, Seann William Scott, foi o único ator ali a ter uma carreira de relativa produtividade: seu personagem sem superego, sem o peso do lastro familiar (em American Pie, a culpa também é hereditária, e a mãe de Stifler não tem arrependimento nenhum a legar ao filho), é um respiro de irresponsabilidade. A falta de noção de Stifler é tamanha que parece compensar todo o insuportável pudor dos demais, e Scott (que aliás é um ator subestimado) talvez tenha se dado melhor em Hollywood porque seu personagem não é um fardo a ser carregado.

O único motivo para assistir a American Pie: O Reencontro, portanto, é Seann William Scott. Porque, enquanto o resto do filme força uma nostalgia de tudo aquilo que mal viveu ou evitava viver, o velho Stifler Mestre continua na eterna puberdade.

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