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Por que a Batgirl dos Novos 52 merece uma chance no cinema

Versão recente dos quadrinhos está pronta para estrelar o filme de Joss Whedon

31.03.2017, às 17H27.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

A notícia de que o filme da Batgirl que Joss Whedon deve escrever, produzir e dirigir para a Warner se baseará na versão da personagem dos Novos 52 - a reformulação editorial que zerou a cronologia do Universo DC em 2011 - não deve ser surpresa para ninguém. A interpretação de Barbara Gordon feita pelos roteiristas Cameron Stewart e Brenden Fletcher com a desenhista Babs Tarr é a chance que a DC Comics tem de renovar seu público no cinema.

Antes de mais nada, há duas versões da Batgirl nos Novos 52: antes e depois de Burnside, o bairro hipster de Gotham onde se passam as aventuras da heroína na fase Stewart/Fletcher/Tarr. Gail Simone, importante roteirista de personagens femininas da DC, que basicamente definiu Batwoman como a principal personagem lésbica dos quadrinhos de super-herói, foi a responsável pela série nos primeiros anos do reboot. É um período de transição, porque em 2011 a DC decidiu rever a paraplegia de Barbara Gordon (resquício de A Piada Mortal na continuidade) mas ao mesmo tempo transformou o trauma do tiro dado por Coringa em um elemento central nessas novas histórias. Embora voltasse a caminhar, Barbara ainda tinha pesadelos com o ataque.

Esse período de transição foi longo, durou 34 edições, com um revezamento de vilões que focavam nesse trauma e na superação do medo. Do Boneco de Pano ao Ventríloquo, os antagonistas dos primeiros arcos representavam, acima de tudo, um potencial de ameaças sexuais, como foi o Coringa em A Piada Mortal. É improvável que essa versão vá para os cinemas no filme de Whedon, antes de mais nada porque ele está sendo descrito como um longa isolado, e não como parte da cronologia estabelecida após O Homem de Aço. Citar o Coringa (apesar do apelo da imagem de Jared Leto) envolveria vincular esse filme aos demais. No mais, o tom sombrio dessa fase não parece combinar com o estilo de Whedon, puxado para o pop e o lúdico desde os tempos de Buffy.

Quando o noticiário de Hollywood fala que a Barbara Gordon do filme será a dos Novos 52, portanto, isso se refere ao que veio a partir do fim de 2014, em Batgirl #35. Essa edição marca um recomeço da vida da heroína: ela se muda para o bairro de Burnside, para estudar e morar com suas amigas, e a Gotham soturna que todos conhecemos das histórias do Batman fica irreconhecível na fase Stewart/Fletcher/Tarr. A HQ tem uma pegada mais próxima dos mangás e se encerra num universo que parece mais próximo de Homem-Aranha: De Volta ao Lar do que de Batman vs Superman, com tramas que envolvem o dia a dia escolar, ativismo social e a esfera mais imediata de relações de amor e amizade. Se a Warner procura, na negociação com Whedon, atrair a fatia da audiência que se identifica com os Vingadores e assim renovar seu público, não faz sentido buscar nos quadrinhos atuais outra Batgirl que não seja a de Burnside.

O que há são os pequenos ajustes. O filme poderia fazer menção a eventos passados (assim como a HQ, que manteve o trauma da paraplegia numa releitura, apenas como um elemento narrativo para impulsionar a reviravolta no clímax da história) sem que isso mexa demais na essência da personagem: Barbara é a filha de James Gordon e, a título de rebeldia, desafia o pai e o Batman e torna-se vigilante por vontade própria, usando de suas habilidades de memória, investigação e combate corpo a corpo. Não é necessariamente a superação da paraplegia que define a Batgirl, embora muitos fãs entendam assim. Antes de A Piada Mortal, ela já se marcava pela autonomia profissional, numa época em que ver mulheres solteiras no mercado de trabalho ainda era tabu, e nunca foi uma ajudante obediente do Morcego.

Independente do enfoque escolhido, o novo filme tem a oportunidade de dar à Batgirl a autonomia que ela merece como símbolo teen.